"Quanto menos burocrata no MEC, melhor qualidade na educação", escreve Luiz Felipe Pondé em sua coluna na Folha de São Paulo.
A educação, diz ele, deveria estar nas mãos das próprias escolas.
Fechar esse monstrengo ideológico, de fato, não causará nenhum prejuízo:
Perguntam com
frequência o que eu acho da reforma do ensino médio e similares. Seria
um avanço ou um atraso? Reforma na educação depende do burocrata de
plantão.
Suspeito de que a
educação seja uma das áreas de conhecimento mais perdidas no mundo
atual. De um lado, acumulam-se teorias de que a educação deveria
contemplar apenas disciplinas técnicas. De outro, que a educação teria
como principal papel a formação do cidadão.
Outros pensam que a
educação deveria ser revolucionária em tudo, e mais outros, que a
educação deveria formar valores morais sólidos. A lista vai longe,
chegando mesmo ao caso daqueles que pensam que a educação deveria ser
uma assembleia aberta em que bebês votariam na estrutura curricular do
jardim da infância para evitar a opressão patriarcal.
Alguns, mais
semiletrados, inovam a cada dia a educação a partir do palestrante mais
na moda e da última teoria politicamente correta no mercado. Uma ideia
continuamente na moda entre os teóricos é que a educação deveria educar
para a democracia e o bem público. Platão concordaria com a segunda
parte, mas não com a primeira.
Alguns acham que a
educação deveria ser construída apenas a partir dos oprimidos. Este
último caso é tão delirante que alguns chegam a afirmar que falar
errado, sem levar em conta as regras da gramática, é uma forma de
combate à opressão. "É nóis" deixa de ser uma licença poética e passa a
ser um grito de liberdade.
Alguns professores
por aí chegam mesmo a "caçar a pauladas" (leia-se "reprovar") alunos que
falem corretamente na aula sob acusação de reproduzirem padrões de
dominação da elite.
Jacques Derrida
(1930-2004), filósofo francês criador do conceito de "desconstrução",
segundo o qual a gramática é uma forma de teologia porque unifica modos
de expressão, nunca imaginaria que sua teoria (ele falava francês
correto) um dia seria usada como argumento para reprovação de alunos que
usam a gramática como manda o figurino.
Portanto, as teorias
da educação são tão precisas quanto o tarô ou a leitura do futuro na
borra de café. A tentativa de unificá-las é pior ainda, porque esta
unificação virá sempre pelas mãos de duas ou três pessoas que acreditam
fielmente no que defenderam em seu doutorado. Levar seu doutorado muito a
sério é signo de baixa formação intelectual.
Há alguns meses o
"mundo da cultura" entrou em êxtase crítico quando o atual governo
resolveu extinguir o Ministério da Cultura. Pelo que afirmavam, os
artistas e similares, sem o Ministério da Cultura ninguém mais teria uma
ideia se quer que prestasse nem ninguém conseguiria mais realizar
nenhuma obra "cultural".
Claro, nossa elite
cultural foi criada às custas de editais do Estado, sem eles, a
criatividade da elite cultural vai a zero em 24 horas.
Na época, não dei
muita atenção ao tema porque penso que o Ministério da Educação (MEC) é
que deveria ser extinto, muito mais nocivo ao país do que o Ministério
da Cultura -apesar de este servir para todo tipo de manipulação
ideológica para qualquer lado da mesa de pingue-pongue político e de
cultivar uma certa preguiça moral e estética nos agentes culturais
nacionais.
Proponho que fechem o
MEC. Não por razões de contabilidade. Coitado, o MEC deve gastar pouca
grana. Mas por razões culturais e pedagógicas. Acabar com o MEC nos
livraria de todo tipo de burocrata que constrói sua vida e seu orçamento
atormentando quem, de fato, se ocupa com a educação, essa arte inexata
que deveria ajudar os seres humanos a serem mais humanos e menos bobos.
Sem o MEC acabariam
essas reformas intermináveis, esse "centralismo democrático do
blá-blá-blá" e esse mercado paralelo de "aferição de qualidade" do tipo
Anade, Enade, Inade, Onade, Unade e similares -varia-se a vogal,
permanece a aleatoriedade dos critérios. Quem decide é quem estiver no
comando burocrático da hora.
A educação deveria
estar na mão dos municípios. Melhor ainda: das próprias escolas. A regra
é: quanto menos burocrata, melhor qualidade na educação e na vida.
Fechem o MEC. Invistam a grana em ferrovias.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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