Cardeais diante de seu ídolo |
Artigo de Percival Puggina sobre a greve que não foi geral e somente prejudicou os cidadãos que queriam trabalhar:
Neste momento em que
escrevo, militantes a serviço da organização criminosa que desgraçou o
país põem em curso uma tentativa de greve geral que virou algo tipo
"Vamos queimar pneus e parar o Brasil na porrada e no miguelito". Todos
sabiam o que iria acontecer e não imagino a CNBB, que enfaticamente
apoiou o movimento, tão ingênua a ponto de desconhecer as infames
técnicas de "mobilização" utilizadas pelos companheiros da CUT. É assim o protagonismo do retrocesso.
Atuam com bastante
vigor em nosso país grupos que oferecem resistência cerrada ao futuro.
Ou, para dizer o mesmo com vocábulos de sua predileção: "dialogam" com o
passado e "problematizam" o progresso. De bom grado, se pudessem,
parariam o relógio. Aferram-se a uma idiossincrasia da nossa cultura
que, embora reconhecendo inegáveis defeitos na ordem política e social,
preferem que nada mude. Está errado, sim, mas não mexe. Tem sido muito
perceptível sua atuação nestes dias em que o Congresso Nacional tenta
promover algumas reformas indispensáveis ao país. Por contraditório que
pareça, dizem-se "progressistas". CUT progressista? CNBB progressista?
Já eram retrógrados nos anos 80! Nem toda militância e nem todo
protagonismo social impulsiona o progresso. Atribuir malignidade a quem
deseja promover reformas no país porque a vida, a demografia e o mundo
do trabalho mudaram é maniqueísmo raso, primitivo, retrô.
É ele que mobiliza as
energias do atraso contra a reforma trabalhista, por exemplo. Considera
como núcleo de uma atividade política essencial a contribuição sindical
obrigatória, mantenedora do parasitismo pelego e da transferência de
recursos dos trabalhadores para os coletivos que aparelha e manipula. E
que atividade política é essa que se realiza pela via sindical? Ela se
chama corporativismo, um dos maiores e mais renitentes males do Estado
brasileiro. Ops! Corporativismo? Mas não é ele a própria essência do
Estado fascista? Leia, a propósito, o discurso de Mussolini sobre o
Estado Corporativo proferido em 14 de dezembro de 1933. Claro que o
corporativismo, nesse mesmo discurso do Duce, pressuporá em seu
desenvolvimento um Estado totalitário, mas qual é o conceito de Estado
postulado pelas atuais corporações? E em que tipo de ente estatal
desembocariam as corporações vigentes no país se todas as rédeas lhes
forem soltas? Pois é.
O protagonismo retrô
ama a CLT. Jamais mencione suas analogias com a Carta del Lavoro porque,
novamente, ops! A Carta del Lavoro é um documento essencial do
fascismo, já bem conhecida como tal quando inspirou a legislação
trabalhista brasileira. As muitas centenas de adendos e supressões que
recebeu ao longo do tempo não lhe alteram a vertente. E a vertente não
lhe retira, aos olhos do protagonismo retrô, sua suposta sacralidade.
O protagonismo retrô
ama o Estado, de paixão. Se o Estado tivesse foto oficial, estaria
emoldurado e exposto na parede, com marcas de batom. "Tudo no Estado,
nada contra o Estado e nada fora do Estado". Ops! Isso também é
fascismo, é Mussolini falando, mas não diga porque a constatação os
aborrece. Então, quando algo bom para a sociedade surge fora do controle
do Estado, como o Uber, ou o Cabify, eles precisam, desesperadamente,
estabelecer o modo pelo qual tais iniciativas sejam trazidas para o
controle do Estado, para benefício do Estado e para dentro do Estado.
Acontece, leitor
amigo, que, por mais que dialoguemos com o passado, por mais que o
protagonismo retrô tente, sempre, deixar tudo como está, mesmo se tudo
errado, é impossível deter o futuro, tanto quanto repetir a vida vivida.
Impõe-se evitar, portanto, que algo assim se transforme em plataforma
política e seja imposto a uma nação cujo presente lhe deixa muito claro:
ou busca o futuro, ou vai estagnar em página virada. E eu não estou
falando da Venezuela nem de Cuba, que tantos amores suscitam entre os
protagonistas retrô.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário