De 1994 a 2016, mais de
três mil policiais foram mortos pela bandidagem. Só neste ano foram
mortos 17 no Estado do Rio, o que dá uma média de um PM assassinado a
cada dois dias. Não é coisa de país pacífico - e muito menos,
civilizado. Editorial do jornal O Globo:
Dezessete policiais
militares foram mortos no Estado do Rio em janeiro deste ano, o que dá
uma média de um PM assassinado a cada dois dias. A estatística se torna
ainda mais dramática quando se tem notícia de que 3.234 policiais
morreram de causas não naturais no estado entre 1994 e 2016, segundo
estudo da Comissão de Análise de Vitimização Policial da PM. O número
corresponde a 3,59% do contingente empregado no período, percentual que,
de acordo com o levantamento, é maior do que o de soldados americanos
mortos nas duas guerras mundiais (2,46% e 2,52% respectivamente).
Incluídos na conta os feridos (14.452), esse percentual sobe para
19,65%. “Há 765 vezes mais chances de ser ferido aqui do que lutando
nessas guerras. Precisamos de ajuda, seja da sociedade, da imprensa, de
todos os segmentos", desabafou o coronel Fábio Cajueiro, que preside a
comissão.
Os números mostram o
lado mais trágico do problema. Mas há outros, não menos inquietantes. No
ano passado, foram concedidas 1.398 licenças psiquiátricas a policiais
militares, motivadas principalmente por estresse e depressão. Segundo o
Núcleo Central de Psicologia da PM, em 2016 foram prestados 20 mil
atendimentos a 2.296 pacientes. Muitos têm menos de cinco anos de
serviço, trabalham em áreas de conflito e sofrem hostilidade de
moradores. “Ele se sente dando a vida por alguém que não o reconhece. O
policial se expõe ao perigo extremo e não sente retorno. Essa conta
dentro dele não fecha. Está muito desigual", analisa o tenente-coronel
Fernando Derenusson, psicólogo e chefe do núcleo.
A Polícia Militar do
Rio contabiliza mais de 200 anos de história — foi criada por Dom João
VI, em 1809, como Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da Corte.
Mas a imagem da instituição tem sido arranhada nas últimas décadas. Os
motivos são muitos: corrupção envolvendo membros da corporação,
inclusive oficiais; operações desastradas que resultam na morte de
inocentes; grande número de civis mortos em supostos confrontos (os
chamados autos de resistência) e participação em crimes, como ocorreu no
caso Amarildo. Tudo isso contribui para minar a imagem da polícia junto
à população.
Mas não se pode tomar
a parte pelo todo. O Estado do Rio tem cerca de 47 mil policiais
militares que, a despeito de receberem seus salários com atraso,
arriscam suas vidas diariamente — muitas vezes com armamento inferior ao
usado pelos bandidos — em defesa da sociedade. De uma sociedade que se
mostra indiferente a essa matança. A indignação, nesses casos, costuma
ficar restrita à família, ao círculo de amigos e à corporação.
Desde os anos 80, a
violência no Rio é um problema a ser enfrentado por toda a sociedade. E
os policiais militares, por estarem na linha de frente, são peça
fundamental nesse combate. A sociedade precisa confiar nos PMs. Sem
eles, os cidadãos ficam ainda mais vulneráveis.
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