Folha
O voo que levava o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki pode ter seguido um procedimento não homologado pelas autoridades para pousar em Paraty (RJ) antes de sua queda, no último dia 19. Esse procedimento informal é uma forma de pousar na cidade em dias de mau tempo, de acordo com pilotos ouvidos pela Folha. O uso desse procedimento é uma das questões que estão sendo investigadas pelas autoridades aeronáuticas.
Segundo Carlos Camacho, piloto aposentado e analista de acidentes aeronáuticos, as indicações até agora são de que a manobra que teria sido feita com o avião, descrita por testemunhas do acidente, condiz com o que está previsto nesse procedimento.
“Se o piloto tivesse vindo direto para sua aproximação e pousado, poderia pensar melhor. Mas quando fez uma primeira aproximação e a perdeu, ele estava se enquadrando no procedimento Mandrake”, afirmou.
POUCA VISIBILIDADE – Os pilotos que voam em Paraty usam essa carta de aproximação para pousar no aeroporto quando as condições de visibilidade não permitiriam o pouso apenas por visual. O papel tem orientações para pouso “por instrumento” e de como fazer o procedimento em caso de “aproximação perdida” (arremetida).
Paraty não opera com qualquer tipo de instrumento, o que faz com que os pousos só possam ser realizados quando o piloto pode ver o aeroporto a cinco quilômetros de distância e 1,5 mil pés (cerca de 450 metros) de altitude. Quando as condições não são essas, os pilotos devem ir para outra pista.
Havia chuva e nebulosidade no momento do acidente, mas não está confirmado se o aeroporto tinha condições de pouso. As autoridades apuram ainda qual teria sido o procedimento do piloto.
ARREMETIDA – Na carta “Mandrake”, os pilotos são orientados a fazer a arremetida em 600 pés de altitude (menos de 200 metros) e a cerca de três quilômetros de distância da pista.
Segundo Camacho, as testemunhas apontam que a aeronave estaria em posição ainda mais baixa que a recomendada pelo documento não homologado. Essa também é a informação que circula entre pilotos da região.
De acordo o técnico, outro problema é a ausência de copiloto, o que, naquelas condições, não era recomendável. “Com chuva intensa sobre o mar, existe uma condição de espelhamento que confunde o piloto. Com atenção voltada para as partes internas do avião e procurando enxergar a pista, o piloto pode ter descuidado da altitude e quando viu estava entrando na água”, disse o técnico, lembrando que o copiloto auxiliaria nesse ponto.
Relatos de pilotos que voam na região mostram que procedimentos fora das normas são comuns, também por pressão dos donos de aviões.
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