O clã Odebrecht |
José Casado
observa, em texto publicado no Globo: é na Bahia que se espraiam os
efeitos mais corrosivos das confissões da Odebrecht, homologadas ontem
pela presidência do STF:
É na
Bahia onde se espraiam os efeitos mais corrosivos das confissões da
Odebrecht, validadas ontem pelo Supremo — consequência natural da
identidade baiana construída há nove décadas pela família controladora
do grupo.
Salvador,
capital da colonização escravocrata, concentra ansiedade pública pelas
revelações dos Odebrecht e seus executivos sobre corrupção. Prevalece a
convicção de que devem se refletir em mudança de rumos da política e dos
negócios no estado.
O clima é
similar ao observado em Brasília. Com agravantes derivados da atenção
pública aos ruídos de embates familiares, entre eles, os do patriarca
Emílio, herdeiros e o filho Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba.
Repete-se
no condomínio praiano de Interlagos, onde partilham a beira-mar o
ex-diretor da Odebrecht em Brasília, Cláudio Melo Filho, o ex-ministro
do governo Temer Geddel Vieira Lima e os publicitários das campanhas de
Lula e Dilma, João Santana e Mônica Moura.
A
relação Cláudio e Geddel, contou o executivo à Justiça, “era muito
forte”, bem além da simples vizinhança: “Geddel recebia pagamentos
qualificados, e fazia isso oferecendo contrapartidas claras.”
Conversavam bastante — contaram-se 117 ligações num único ano. Geddel
era “Babel” na planilha de pagamentos.
Vizinhos
deles na praia, os publicitários João e Mônica também compartilhavam a
folha Odebrecht. Receberam US$ 24 milhões nas campanhas de Lula (2006) e
Dilma (2010 e 2014), confessou Vinícius Borin, responsável pelos
repasses no Meinl Bank, em Antígua.
O casal
foi recompensado com outros US$ 5 milhões por Eike Batista, preso no
Rio. Eike pagou-os pela conta panamenha da Golden Rock, que também usou
para repassar US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
Nesse
circuito sobressaem expoentes de uma elite republicana moldada em vícios
típicos do Brasil colonial, descrito pelo poeta Boca do Inferno, o
advogado Gregório de Matos, na Salvador onde tudo se permitia aos amigos
do rei:
“Furte, coma, beba e tenha amiga,
Por que o nome d’El Rei dá para tudo
A todos que El-Rei trazem na barriga.”
Desde
então, sob o manto do foro nobre, multiplicam-se histórias de
impunidade. Nele pouparam-se, entre outros, fidalgos como Fernão Cabral,
que lançou viva na fornalha de seu engenho uma escrava grávida do
“gentio do Brasil”, conta o historiador Ronaldo Vainfas.
O
resguardo em foro especial, atenuante na Justiça e na Igreja da Colônia,
prossegue. Ano passado, Dilma aplicou-o a Lula, levando-o à Casa Civil,
no lugar de Jaques Wagner.
Ex-governador
da Bahia, Wagner seria “Polo” na folha da Odebrecht, com US$ 11 milhões
recebidos. Do total, US$ 8 milhões sustentariam a eleição do sucessor, o
governador Rui Costa, segundo Melo Filho. Em troca, “Polo” pagou à
empresa uma fatura pendente de US$ 85 milhões, valor sete vezes maior.
Na
sexta-feira 20 de janeiro, o governador Costa fez Wagner secretário de
Desenvolvimento. No mesmo pacote nomeou o engenheiro Abal Magalhães para
a Companhia de Desenvolvimento Urbano. Precisou demitir Magalhães 24
horas depois. Descobriu que ele militava em redes sociais qualificando
Wagner como integrante de “quadrilha” do PT financiada pela Odebrecht. E
repetia: “#lulanacadeia”, “#dilmanacadeia” .
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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