sábado, 31 de dezembro de 2016

Lembrando Darcy Ribeiro e sua maneira muito especial de acreditar em Deus


Resultado de imagem para darcy ribeiro no roda vivaCarmen Lins
Em um programa da série “Roda Viva”, o jornalista Fernando de Barros e Silva pergunta a Darcy Ribeiro: “O senhor acredita em Deus?” E Darcy respondeu:
“É claro. Seria uma soberba, uma prepotência não acreditar. Eu posso lhe dizer que não posso provar que Deus existe, posso lhe dizer que Deus está com dívida comigo, tem que me acender de fé, mas veementemente. É claro que eu sou um ser ético. E ser ético é um ser que luta pelas coisas, por causas impessoais, e claro que tem uma atitude diante de uma divindade, que eu não posso afirmar que não existe, que não posso provar que existe, mas é claro, essa é minha atitude de profundo respeito. E, por exemplo, inclusive tem a parte sentimental. Eu fui à minha cidade Montes Claros, Minas Gerais. Há um mês morreu a minha mãe, mestra Fininha, com noventa e tantos anos, a mulher que mais alfabetizou crianças – a rua principal tem o nome dela. Então fui lá para a morte da minha mãe. Fiquei lá, uma tristeza terrível. Você ver mãe morta é uma trombada terrível. Tava lá, a minha mãe parece que diminuiu – eu não a via ha muito tempo. Eu fiquei sentido. Então comecei a fazer o que eu fazia quando ela estava viva, pedir a benção: “Bença, mãe”. E ela me abençoava dizendo: “Deus te abençoe, meu filho, que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro o proteja”. Eu quase que ouvia ela dizendo. Eu fiquei muito sentido, muito emocionado. E nessa emoção as mulheres estavam rezando, tinham uma amigas dela, velhas, todas rezando. E uma disse: “Não reza, vamos cantar”. E eu comecei a cantar:”No céu, no céu, com minha mãe estarei…” que é uma cantiga de procissão. Quer dizer,esse catolicismo nosso está impregnado no fundo de nós. Esse sentimento muito sério, muito profundo, ainda que você não seja um militante religioso, você está impregnado disso.”
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