terça-feira, 1 de novembro de 2016

Parlamento da Venezuela suspende julgamento de Nicolás Maduro


Passeata convocada para quinta também foi suspensa.
Governo e oposição iniciaram diálogo.

Da AFP
Imagem de 6 de janeiro de 2016 mostra a primeira sessão da nova Assembleia Nacional da Venezuela (Foto: AP Photo/Fernando Llano, File)Imagem de arquivo mostra sessão da nova Assembleia Nacional da Venezuela (Foto: AP Photo/Fernando Llano, File)
O Parlamento da Venezuela, de maioria opositora, suspendeu nesta terça-feira (1º) o julgamento sobre a responsabilidade política do presidente Nicolás Maduro na crise do país, assim como uma marcha em direção ao Palácio Presidencial, diante do início de um diálogo com o governo.
"Aprovado, concorda-se com adiar" os pontos da agenda desta terça, anunciou o chefe da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, ao explicar que não se trata de uma "capitulação" da oposição, mas da busca por uma solução para a crise.
 
Após a sessão legislativa, Ramos Allup também anunciou a suspensão de uma passeata convocada pela oposição para esta quinta-feira (3), a qual teria sua concentração final no Palácio Presidencial de Miraflores. Esse recuo foi decidido a pedido do Vaticano, que promove o início de um diálogo entre oposição e governo.
"Nos pediram que os eventos de marcha para quinta-feira sejam adiados. É sensato acatar", afirmou o parlamentar.

Na última terça, o Parlamento aprovou a abertura de um julgamento sobre a responsabilidade política de Maduro. A oposição acusa Maduro de quebrar a ordem constitucional e promover um golpe de Estado com a suspensão do processo de convocação de um referendo revogatório.

A crise política se agravou na Venezuela em outubro, após decisões judiciais que cancelaram o recolhimento de assinaturas para a ativação do referendo revogatório do mandato de Maduro.
Segundo pesquisa Venebarómetro, Maduro é rejeitado por 76,4% da população e 67,8% dos venezuelanos querem sua saída do poder.

Adiantamento das eleições
O líder da bancada opositora, Julio Borges, que apresentou a proposta de adiamento da Mesa de la Unidade Democrática (MUD), afirmou que eles esperam que o diálogo resulte no adiantamento das eleições presidenciais.
Segundo Borges, na instalação da mesa de diálogo, no domingo passado, a oposição apresentou também a proposta de que se liberte de opositores presos, que o Parlamento recupere "na plenitude" o seu poder e de nomeação de novas autoridades eleitorais, acusadas de servir ao governo e que suspenderam um referendo revogatório contra Maduro.
Nicolás Maduro (à direita) se reuniu com líderes da oposição no domingo (30) (Foto: Miraflores Palace/Reuters)Nicolás Maduro (à direita) se reuniu com líderes da oposição no domingo (30) (Foto: Miraflores Palace/Reuters)
Acrescentou que a MUD propôs também ao Vaticano que "sejam estabelecidas urgentemente as medidas" para solucionar o desabastecimento de alimentos e remédios.
"Estamos dando ao Vaticano um voto de confiança, nós não acreditamos no governo. Todo o nosso esforço é feito em função de que nosso povo possa votar", manifestou Borges.
A MUD, que se dividiu ante o diálogo, visto que 16 dos seus partidos consideraram que não havia as condições para que este acontecesse, tomou a decisão unânime de adiar o julgamento.
"Fazemos votos de que este adiamento não seja eterno. Respeitamos e aceitamos a opinião da maioria dos nossos companheiros", afirmou no hemiciclo o deputado Freddy Guevara, do partido Voluntad Popular - fundado pelo encarcerado Leopoldo López -, que escolheu ficar à margem do diálogo.
Embora os deputados opositores o tenham qualificado como "julgamento político", essa figura não existe na Constituição, de modo que não se pode fazer um impeachment de Maduro, como ocorreu em agosto contra a presidente do Brasil, Dilma Rousseff.
"Não é suficiente adiar este ponto, que reconhecemos como uma decisão corajosa. Devem renunciar a qualquer via inconstitucional para resolver a crise", manifestou ao tomar a palavra o chefe da bancada do governo, Héctor Rodríguez.
A Justiça, acusada pela oposição de estar à mercê do governo, declarou o Parlamento em "desacato" e que suas decisões serão consideradas nulas.
'Aqui não é Brasil'
Enquanto a MUD revisa sua agenda de pressão sobre o governo, os chavistas mantém seus atos de contramanifestação e partidários de Maduro caminharam nesta terça-feira até a sede do Poder Legislativo.
"Não vamos permitir que a direita venezuelana, com o apoio do império norte-americano, faça um julgamento do nosso presidente como fizeram com Dilma. Isso não é Brasil", declarou Marco Tulio Díaz, um dirigente operário, do lado de fora da Assembleia.
Maduro havia ameaçado prender quem abrisse um julgamento inexistente na lei, enquanto deputados chavistas solicitaram à Justiça que declare inconstitucional essa iniciativa parlamentar.
A MUD vincula a continuidade do diálogo a "gestos" do governo. Na segunda-feira (31), cinco opositores foram soltos, mas alguns dos principais líderes da MUD continuam presos, entre eles o mais emblemático, Leopoldo López.
"Estão vendo os primeiros frutos dessa estratégia de diálogo. É importante, mas não suficiente. Faltam mais de 100 (presos), e (o governo) tem de nos devolver o referendo, ou convocar eleições antecipadas", disse Jesús Torrealba antes do anúncio da suspensão do julgamento de Maduro.

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