Percival Puggina faz algumas reflexões sobre a situação do governo Temer e a permanência da "Frente Parlamentar do Crime":
Nunca tive maior
entusiasmo com a pessoa de Michel Temer. Suas boas credenciais de mestre
de Direito Constitucional juntavam-se, como contrapeso, às de vice de
Dilma Rousseff e presidente do PMDB. Dado que parte expressiva da
bancada do partido que presidia estava enrolada nas patifarias do
governo petista, parecia pouco provável que ele exercesse os dois postos
mergulhado nas trevas da insapiência. No entanto, Temer era o
substituto legítimo, constitucional, de uma presidente que exercera o
governo do fim do mundo. Com mão de ferro, Dilma conduzira a nação a um
prejuízo de um trilhão de reais, que hoje falta em todos os orçamentos.
Levara milhões ao desemprego, dera à irresponsabilidade fiscal status de
benfeitoria e plantara, afanosamente, as sementes da recessão. Já
estava a presidente sobre o telhado quando o TCU a flagrou em crime de
responsabilidade, proporcionando as razões técnicas para o processo de
impeachment. Um governo com Temer era, então, a consequência
constitucional e a alternativa possível. Mas... e se esse governo também
se desestabilizar?
Sairíamos da crise
para o caos. E caberia indagar: o que vem depois do caos? Eu não tenho
resposta para essa pergunta. Nem disponho daquela obstinação que,
historicamente, permite à esquerda jogar ao mar as montanhas que a
realidade e os fatos proporcionam. Eles continuam confiando em Maduro,
em Fidel e Raúl, e chamando bandidos de heróis. Por não saber o que vem
depois do caos e por não querer cenário venezuelano em meu país, leio a
realidade institucional brasileira destes dias conforme a descrevo em
sequência. Eu a classifico segundo os quatro grandes temas abordados a
seguir.
1º - A Frente Parlamentar do Crime
Constitui a mais
numerosa dentre as bancadas e blocos em operação no Congresso Nacional. É
suprapartidária, formada pela banda podre do PT, PMDB, PP, PSDB e de
outras legendas menores criadas nos últimos anos. Cuida exclusivamente
dos interesses de seus membros e, de modo muito especial, nestes dias,
de livrar o próprio couro. Estava na base do governo Dilma e, em boa
parte, mudou-se para o governo Temer. Pelo número de membros, como
veremos adiante, é indispensável à formação da maioria sem a qual o
governo não aprova suas diretrizes e suas políticas de gestão. A bancada
petista só faz discurso e jogo de cena contra as articulações que visam
a obstar a Lava Jato e as 10 Medidas contra a corrupção porque os
muitos lambuzados que habitam a base do governo Temer estão cuidando
disso por ela.
2º - A situação do governo
Agora, a nação
precisa de estabilidade política e o governo de pelo menos 342 votos
firmes em sua base de apoio. A base tem, em tese, 412 votos, mas 56 já
não votaram a PEC 241. Se considerarmos que a oposição tem 101 votos,
que 56 governistas não são fiéis, salta aos olhos que o governo não pode
perder os votos que tem na Frente Parlamentar do Crime. Eis aí,
gigantesca e escandalosa, a tragédia moral que acometeu nossas
instituições. Não se governa sem os bandidos! Felizmente, a área
financeira do governo ganhou grande autonomia e está em boas mãos.
3º - A atitude do STF perante a existência e a longa vida da Frente Parlamentar do Crime
Boa parte desse
laborioso colegiado político do crime tem existência antiga e já estaria
contado na população carcerária do país se o STF atribuísse a devida
importância aos deveres que lhe correspondem perante o saneamento moral
de seus vizinhos na Praça dos Três Poderes. É incalculável o custo
político e financeiro da longa dormição dos processos lá na última
trincheira da impunidade. Como vimos acima, o atual problema não
existiria, ou ao menos não teria as proporções que está adquirindo se a
bancada do crime tivesse sido enfrentada com agilidade antes, ou se o
for agora.
4º - A urgente reforma institucional
Entre os muitos
motivos que levam a desejar uma reforma institucional para adoção do
parlamentarismo, se incluem certos objetivos que esse sistema viabiliza:
a) separar a chefia de Estado da chefia de governo, de modo que só as
funções de governo sejam partidárias; b) despartidarizar a administração
e a gestão das estatais; c) permitir a rápida e não traumática
substituição dos governos que percam a confiança social e o apoio
político.
Nada disso, porém,
vai apresentar os resultados desejados enquanto o contingente de
criminosos com protagonismo na cena política se mantiver nas atuais
proporções e sendo, em função disso, parte expressiva do poder de
decisão e das bases de apoio. A assustadora criminalidade das ruas
chegou ao Congresso Nacional. Ou vice-versa.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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