Caros amigos
Michel Temer assumiu o governo de um país
destroçado física e moralmente. Contaminado por uma corrupção endêmica,
consequência de décadas de convivência com a impunidade planejada e
regulamentada pelos principais beneficiários do desmando e do desvio de
recursos dos desatentos pagadores de impostos.
Não há como não associá-lo ao sistema
corrupto. Poucos políticos escapam. O PMDB, seu partido, o maior em um
universo de quase 40, desde a constitucionalização do ambiente favorável
ao enriquecimento ilícito, é, de alguma forma, aliado da situação ou,
no mínimo, um observador atento e conivente que, quando fora do papel de
predador alfa, cumpriu com louvor o papel de hiena no aproveitamento
das rebarbas do butim.
Já disse e repito, Temer não é o cavalo
que os brasileiros gostariam de montar para superar os obstáculos desta
prova, mas é o que lhes restou por efeito da lei e o que passou
encilhado por obra da oportunidade de montar e fazer valer a sua
vontade.
Temer recebeu seu mandato de onde emana
todo o poder, isto é, de quem, finalmente, quer vê-lo exercido em seu
nome e em seu benefício. Mudaram-se as atitudes, esgotou-se a
tolerância, iniciou-se um trabalho heroico de faxina que sobrevive
graças ao aplauso, ao entusiasmo e à revolta do povo – o verdadeiro e
máximo poder, único capaz de intimidar políticos meliantes.
Nada disso, no entanto, foi, ainda,
suficiente para mudar o ambiente, o caldo de cultura em que a política e
a justiça são exercidos no Brasil, porque há um rito de legalidade a
ser seguido no processo de mudança. O resultado das eleições municipais
testemunha a mudança e legitima o processo.
Temer sabe que chegou ao ápice de sua
trajetória política e que só tem essa chance para não passar à história
da mesma forma patética como estão a passar aqueles a quem substituiu.
Ele não tem apenas que concluir o mandato, mas tem que direcionar o
futuro para as inevitáveis e dolorosas soluções.
Temer conhece muito bem o meio em que fez
sua carreira e no qual busca exercer seu mandato. Sabe muito bem o
significado de “presidencialismo de coalisão”, sabe que, para que o
processo de mudança que lhe impõem a sociedade e as circunstâncias tenha
sucesso, tem que continuar a transitar, a conviver e a sobreviver no
mesmo ambiente de falsidade e hipocrisia em que fez e consolidou sua bem
adaptada carreira política.
Tudo isto eu entendo e aceito como
inevitável, no entanto, não sendo político, mas apenas um soldado,
comprometido, antes de mais nada, com o Brasil, causa-me náuseas vê-lo,
em nome da “governabilidade” – isto é da negociação com os bandidos –
cercar-se de pessoas que fatalmente, mais cedo ou mais tarde, terão que
responder por seu envolvimento nos ilícitos que os brasileiros querem, a
qualquer custo, ver alijados da política nacional.
Causa-me repulsa seu empenho em
harmonizar ao nível máximo da hipocrisia as relações entre os
presidentes do Senado e do STF, como se as fagulhas desse entrechoque,
que acabaram por desmoralizar um Juiz de primeira instância e o seu
Ministro da Justiça e por desgastar a Polícia Federal, pudessem
interferir nos interesses imediatos e inadiáveis do País.
É decepcionante a sua omissão diante do
abuso de crianças por parte de uma corja de malfeitores de esquerda,
usadas como massa de manobra para ocupar escolas públicas, para
desvirtuar a educação, impedir o ensino e desmoralizar os princípios
básicos da moral cristã, visando a desestabilizar o próprio governo!
É angustiante vê-lo comportar-se como
refém das circunstâncias, pisando em ovos e negociando de calças
arriadas o que todos sabem que não pode deixar de ser feito. Será este
um comportamento necessário? Serão estas e outras as atitudes a serem
tomadas?
Como disse, sou apenas um soldado, um
cidadão que por convicção e formação tem os interesses do Brasil acima
de tudo e que esperava dele um comportamento mais firme e condizente com
o poder e com a missão que recebeu, o que, embora justifique a minha
ansiedade e o meu mal-estar, não me impede de torcer para que o errado
seja eu.
Gen Bda Paulo Chagas
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