| 26 Setembro 2016
Media Watch - MÍDIA SEM MÁSCARA
Media Watch - MÍDIA SEM MÁSCARA
Com
um novo relatório do Parlamento britânico condenando a decisão do seu
próprio país de ajudar a intervir na Líbia, a grande mídia começou a
reescrever a história. O revisionismo da mídia visa reparar o legado
danificado da política externa de Obama culpando outros países,
especialmente França e Inglaterra, pela decisão de intervir na Líbia.
Um artigo da CNN
escrito com tal propósito traz a manchete, "a intervenção na Líbia pela
Grã-Bretanha levou a um crescimento do ISIS, constata investigação."
Angela Dewan escreve, "a intervenção militar da Grã-Bretanha na Líbia
foi baseada em" inteligência imprecisa"e "suposições erradas", conforme
constatou reportagem divulgada quarta-feira, acusando o
ex-primeiro-ministro David Cameron por não desenvolver uma estratégia
inteligente para a Líbia. "No entanto, ela acrescenta,"os Estados Unidos
se envolveram e desempenharam um papel fundamental. "
O
papel da América neste desastre não é apenas de um adendo à
interferência pela Grã-Bretanha e França. Como o The New York Times informou
em fevereiro, a "convicção de Hillary Clinton seria fundamental para
persuadir Obama a juntar-se aos aliados nos bombardeios das forças do
coronel [Muammar] Kadafi." O artigo do Times cita o ex-secretário de
Defesa, Robert Gates, que atribuiu a influência de Hillary em convencer
Obama a favorecer uma intervenção ali.
Apesar
da presença de outras nações da coalizão, Clinton recebeu o crédito
pelos primeiros desenvolvimentos na Líbia. Ela anunciou na televisão, "Nós viemos, nós vimos, ele morreu."
Seu ajudante, Jake Sullivan, escreveu em um e-mail do Departamento de
Estado que Clinton tinha "liderança/propriedade/administração da
política deste país para a Líbia, do princípio ao fim."
Uma
das decisões que Sullivan observa que Clinton tomou foi assegurar que
os russos se absteriam, e que outros países apoiariam a resolução de
1973 da ONU – a resolução que autorizava uma zona de exclusão aérea
sobre a Líbia.
Mas
a mídia está trabalhando para garantir que o desastre líbio não afete a
campanha presidencial de Hillary Clinton. Artigos sobre o relatório do
Parlamento britânico pela Bloomberg, The Wall Street Journal e Newsweek
deixam até de mencionar Obama ou Clinton.
"A
Comissão de Relações Exteriores conclui que o governo britânico não
conseguiu identificar se a ameaça aos civis era exagerada e se os
rebeldes representavam uma ameaça islâmica significativa", escreve Ben
Norton para o site esquerdista Salon. "O resumo do relatório também
observa que a guerra não foi baseada em inteligência precisa", continua
Norton. Ironicamente, é o Salon, que, pelo menos em parte, descreve o
papel de Obama e Clinton em criar o caos que envolve a Líbia hoje.
"Saif
Kadafi discretamente abriu comunicações com os Chefes de Estado Maior
Conjuntos, mas a então secretária de Estado, Hillary Clinton, interveio e
pediu ao Pentágono para parar de falar com o governo líbio", escreve
Norton. "A secretária Clinton não quer negociar de forma alguma", disse
um oficial da inteligência dos EUA a Saif ", continua ele.
Ficou
claro agora – e deveria ter ficado claro na época – que Kadafi não
tinha intenção alguma de massacrar civis em Benghazi. Como temos
salientado em nossos relatórios de 2014 e 2016 da Citizens’ Commission on Benghazi
(Comissão dos Cidadãos sobre Benghazi) [CCB], o contra-almirante Chuck
Kubic (reformado) estava trabalhando com militares de Kadafi para
intermediar uma trégua. Kadafi já havia, observa Kubic, começado a
retirar suas tropas de Benghazi e Misrata. Os Estados Unidos decidiram
não prosseguir com as conversações para uma trégua. O Pentágono desde
então confirmou (ver a parte superior da página 680 do relatório) que a proposta por uma trégua ocorreu.
O
presidente Obama disse à Fox News que o seu "pior erro" foi
"provavelmente a falta de plano para o dia seguinte". Kadafi foi
derrubado na Líbia. "O que deu errado?" De acordo com este artigo
no The Atlantic ", Obama colocou a responsabilidade sobre o tribalismo
enraizado na sociedade líbia, bem como no fracasso de aliados dos
americanos na OTAN de assumirem sua responsabilidade."
Mas
não era necessário se envolver na Líbia, em primeiro lugar, uma vez que
Kadafi tinha-se tornado um aliado na guerra contra o terror e tinha
desistido de suas armas de destruição em massa. A intervenção demonstra
como a administração Obama mudou de lado na guerra contra o terror.
No
entanto, a grande mídia procura exonerar o presidente Obama de suas
ações na Líbia. Ao informar sobre os detalhes de um relatório
estrangeiro descrevendo os erros cometidos pela liderança do governo
britânico, a mídia pode convenientemente inventar a história sobre a
inépcia britânica.
Mas e os erros do nosso próprio governo?
Hillary
Clinton e Barack Obama não podem fugir de sua participação neste
desastre e de assumir a uma parte significativa da responsabilidade pela
intervenção fracassada na Líbia, mesmo que a mídia se recuse a atribuir
a culpa onde ela realmente exista. Como ex-secretário de Defesa, Leon
Panetta escreveu em seu livro, Worthy Fights (Lutas Dignas), "no
Afeganistão eu coloquei erroneamente nossa posição sobre o quão rápido
nós estaríamos trazendo as tropas para casa, e eu disse o que todos em
Washington sabiam, mas não podíamos oficialmente reconhecer: que o nosso
objetivo na Líbia era a mudança de regime."
Claramente,
a mudança de regime era o objetivo do governo dos Estados Unidos desde
muito cedo. E este fracasso levou ao crescimento do ISIS. Como
destacamos em nosso relatório CCB 2016,
a administração Obama facilitou o fornecimento de armas aos rebeldes
ligados à al-Qaeda. Obama também autorizou apoio secreto aos rebeldes
sírios. "O Grupo de Apoio Sírio, com as conexões de Obama / Chicago,
tornou-se o conduto dos EUA para a ajuda a várias milícias rebeldes
sírias. A Turquia se tornou o centro de distribuição ", afirma o
relatório CCB. "... Agora parece que, pelo menos, alguns dos
destinatários, em vez disso, eram unidades jihadistas que acabariam por
se aglutinar no Estado Islâmico no Iraque e no al-Sham (depois ISIS,
simplesmente Estado islâmico ou EI)."
Em
outras palavras, a decisão do presidente Obama de mudar de lado na
guerra contra o terror conduziu diretamente ao armamento de radicais
islâmicos na Líbia e na Síria. Isso está longe de ser um erro em não
fazer planos para o dia seguinte – mas é uma série de erros por uma
administração, e presidente, ignorando deliberadamente as simpatias
jihadistas daqueles que o governo está armando.
Os
ataques terroristas de Benghazi em 2012 começaram com a aventura
ilegítima da administração Obama e de seus aliados da OTAN, que foram
empurrados para o objetivo da mudança de regime na Líbia. Depois veio o
fracasso em garantir o nosso Composto da Missão Especial e Anexo da CIA
em Benghazi, o descumprimento do dever por não virem em auxílio de nosso
pessoal quando eles estavam sob o ataque terrorista de 11 e 12 de
setembro de 2012, e o consequente acobertamento . Apesar das tentativas
da mídia de proteger o presidente Obama da culpa, ele e sua
ex-secretária de Estado Hillary Clinton tiveram muito a ver com o caos
recente e atual na Líbia.
Roger Aronoff é editor do Accuracy in Media, e membro do Citizens’ Commission on Benghazi.
Tradução: William Uchoa
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