Editorial do
jornal O Globo examina o itinerário do ex-ministro Antônio Palocci na
roubalheira promovida pelo lulopetismo em 14 anos de dilapidação do
patrimônio público:
A prisão
temporária do ex-ministro Antonio Palocci, o segundo ministro da Fazenda
da era lulopetista a ser detido pela Lava-Jato — Mantega, o primeiro —,
ajuda a compor um quadro amplo dos maus costumes que o PT desenvolveu
no trato com o dinheiro público. Não começaram em Brasília. Vêm de muito
longe os desvios neste campo; desde quando o partido começou a vencer
eleições municipais e a conquistar as primeiras prefeituras no entorno
da São Paulo e interior do estado.
É de 1997
a denúncia do militante e dirigente petista Paulo de Tarso Venceslau
contra o amigo do peito de Lula, Roberto Teixeira, advogado e próximo do
ex-presidente até hoje. Mantêm relação de compadres. Incomodado com
consultorias que Teixeira oferecia a prefeituras petistas, Tarso, ainda
crédulo com o PT, relatou à cúpula da legenda a preocupação com aqueles
negócios.
Criou-se —
por certo, a contragosto de Lula — uma comissão para examinar o
assunto. Ela propôs a abertura de processo ético-disciplinar sobre o
companheiro Teixeira. A Executiva Nacional acolheu a proposta, nas nada
mais aconteceu. A não ser a expulsão de Paulo de Tarso, a decisão de um
dos membros da comissão, Hélio Bicudo, fundador do partido, de se
desligar — viria a ser um dos signatários do pedido de impeachment de
Dilma — e o desgaste junto ao lulopetismo do jovem José Eduardo Cardozo,
reabilitado no partido só agora, na defesa que fez de Dilma.
Essa
passagem pode ser considerada a pedra fundamental de um contumaz
comportamento delinquente de desviar dinheiro público para o projeto de
poder hegemônico da legenda, e o enriquecimento de alguns, o que só
ficaria à vista da sociedade a partir do mensalão, em 2005.
A atuação
de Palocci nessa engrenagem, em investigação pela Lava-Jato, é coerente
com este lado sem ética do lulopetismo, ativo há muito tempo. Médico
sanitarista, prefeito competente de Ribeiro Preto (SP) — responsável
pela privatização parcial da telefônica da prefeitura, algo inédito
naquele tempo —, e hábil ministro da Fazenda num momento grave, no
início do primeiro governo Lula, Antonio Palocci repetiria o caminho
subterrâneo de muitos outros dirigentes.
Tendo
assumido a coordenação da campanha de Lula em 2002, com o assassinato do
prefeito Celso Daniel, de Santo André — outra história envolta em
brumas —, Palocci cresceu dentro do partido e, depois, no governo.
Agora,
pelas revelações da Lava-Jato, começa-se a saber como o ex-ministro
passou a servir de intermediário nas sombras entre a Odebrecht e o PT.
De 2008 a 2013, teriam saído do caixa dois da empreiteira para o partido
R$ 128 milhões.
Já eram
conhecidos os sinais de enriquecimento de Palocci. Depois que saiu do
governo enxotado pela revelação do caseiro Francenildo sobre a
frequência com que visitava uma casa em Brasília destinada a festas e
negócios, Palocci parece ter se dedicado com afinco a consultorias,
atividade que o derrubou da Casa Civil de Dilma. Sempre essas
consultorias.
Palocci
se junta a outros “capas pretas” petistas apanhados em delitos, além do
próprio Lula: José Dirceu, Genoíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares,
para citar alguns poucos. Tudo muito coerente com o que aconteceu em
1997, na denúncia de Paulo de Tarso Venceslau.
Felizmente,
acontece um processo dialético no conflituoso relacionamento entre o PT
e a democracia representativa brasileira: pressionada pelo partido,
aliados e satélites, ela ganha força, cria anticorpos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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