sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A FELICIDADE DAS FAMÍLIAS NUMEROSAS

 
 
  Plinio Maria Solimeo


Família de José Maria Postigo e Rosa Pich, de Barcelona (Espanha)

        Hoje em dia, quando se diz que uma família é numerosa, é porque tem de três a quatro filhos. E mesmo isso está cada vez mais raro. Pois em geral os casais não querem ter mais que um filho, ou mesmo nenhum, pois “dão trabalho”, e “queremos gozar a vida”. Infelizmente, boa parte dos casais está substituindo os filhos por animais de estimação, que tratam com mimos que não dariam a filhos.
Desse modo, a finalidade primordial do casamento, que é a procriação da espécie humana, segundo mandado de Nosso Senhor Jesus Cristo, não é mais observada, ou o é muito pouco. Além de constituir grave pecado, isso traz como consequência secundária o envelhecimento e declínio da população.
         Felizes os tempos em que se via por toda parte a buliçosa e feliz algazarra de incontáveis crianças, cheias de graça, vitalidade e alegria.
         Por isso trazemos hoje à consideração de nossos leitores o exemplo de duas famílias excepcionais, uma espanhola e outra americana, que receberam como verdadeira bênção do Céu os numerosos filhos que Deus lhes mandou. A primeira teve 18, e a segunda, 13.

“Família Numerosa Europeia de 2015”
         A família de José Maria Postigo e Rosa Pich, de Barcelona, foi eleita pela European Large Families Confederation como a Família Numerosa Europeia de 2015, “não tanto pelo número de seus membros, quanto pelo seu modo de encarar os reveses” da vida. A imprensa espanhola trouxe na ocasião extensas reportagens, nas quais nos baseamos, sobre essa família modelo.
         Os dois esposos excepcionais que a constituíram vêm também de famílias numerosas. José Maria teve 16 irmãos e Rosa, 14. Por isso sempre sonharam em ter muitos filhos.
         Mas isso parecia quase impossível, pois a primeira filha, Carmina, nasceu com severa cardiopatia, tendo os médicos lhe dado poucos anos de vida. Entretanto, ela viveu até os 22 anos, falecendo depois graduar-se e acabar um mestrado. Os dois filhos seguintes nasceram com o mesmo problema e não sobreviveram. Por isso os médicos recomendaram ao casal que não tivesse mais filhos.
José Maria e Rosa não seguiram esse conselho. Diz ela: “Ninguém sabe o número de vidas nos espera na Terra ou no Céu. [...] Se os filhos nascem e os tenho de enterrar, terão tido a oportunidade de salvar-se [pelo batismo], e sempre serão meus filhos. Pois a vida não acaba aqui na Terra”. E conclui, com muita propriedade: “Estamos voltando ao nazismo quando decidimos matar nossos próprios filhos. Há algo no mundo que não está funcionando bem quando consideramos que o aborto é um direito”.
         Essa mulher exemplar encontra na religião católica as forças para enfrentar as vicissitudes da vida: “Somos graças a Deus uma família com fé, porque com tudo o que temos passado, não teríamos podido superar de outra maneira. Depois de enterrar dois filhos em quatro meses, logo morreu a maior, já com 22 anos, e nos teríamos desfeito de todo se não fosse pela fé que temos”.
         Com o falecimento de três filhos, restam-lhes ainda 15, o que a torna a família com mais filhos em idade escolar de toda a Espanha. Desses 15 filhos, 8 nasceram com a mesma doença de coração. Alguns se curaram, outros estão em tratamento. Essa razão levou o casal a promover uma fundação destinada à investigação da cardiopatia, cujo nome é “Menudos Corazones” (Pequenos Corações).
Muito ativo, o casal não se limita a cuidar de sua imensa prole, mas já participou de numerosas reportagens e documentário sobre famílias numerosas. José Maria e Rosa também dão palestras de orientação familiar para ajudar outros pais.
Apesar do trabalho insano com uma família de 17 pessoas, Rosa ainda encontrou tempo para escrever um livro sobre sua experiência e os segredos da felicidade de sua família “Como ser feliz com 1, 2, 3... filhos” [capa acima], que já foi traduzido em seis idiomas europeus. Orgulhosa de seus inúmeros filhos, ela afirma: “Temos um tesouro que queremos compartir com a sociedade”.
         Como educar tantos filhos? Diz Rosa: “Os sacerdotes devem proporcionar uma direção espiritual, mas creio que os pais de famílias numerosas temos uma graça especial para educar nossos filhos e somos responsáveis pela sua educação. Creio que o fato de ter uma família tão numerosa tornou meu coração maior, porque não só quero a todos os meus filhos, como também a seus amigos”.
Para ela, “não importa o que dizem os que não querem [ter muitos filhos] para não sofrer. As alegrias sempre superam os sofrimentos, e vale a pena lutar por cada segundo de vida. Uns lutam para ter um automóvel, por uma viagem, e eu luto por ter uma família. Se passamos de dois a três, tanto melhor. O que os meus filhos querem é ter muitos irmãos”.
         É preciso notar que o casal não é rico e vive apenas de seu salário. Por isso cria os filhos com muita austeridade. Rosa, além de todo o trabalho com uma família de 17 pessoas, trabalha meio período em uma empresa de organização de eventos. José Maria é consultor de indústrias relacionadas com o comércio de carnes, que produzem, processam e distribuem carne aos centros consumidores. Por isso passa quase o dia inteiro trabalhando.
         Os filhos dormem em dois quartos, em cada um dos quais foram adaptados dois conjuntos com quatro camas superpostas, um para os meninos, outro para as meninas. Não dá para mais. Em cada quarto, um dos irmãos fica como responsável, velando pela boa ordem e os bons modos. Os filhos são educados para agir como uma equipe. Cada um se encarrega de um irmão menor.
As roupas e os livros escolares passam de filho a filho. A comida é muito frugal, não havendo na geladeira coisas consideradas supérfluas como chocolates e refrigerantes. Também não há presentes de aniversário. Apesar disso, diz a mãe: “Meus filhos valorizam muito cada coisa, como se fosse algo único”.
         Todos devem observar algumas normas. Na cozinha há um quadro com a função de cada um, como montar, servir e recolher a mesa, pôr o lixo para fora, apagar as luzes etc. E também uma lista de sugestões para se melhorar no dia-a-dia como, aos muito chorões, de “chorar uma só vez por dia”, “não ficar amuado”, “sorrir mais”, “tratar bem o pai” etc.
Algumas coisas estão formalmente proibidas, como fumar ou adquirir uma moto ou celular antes dos 18 anos. Todos se contentam com o que têm e não se sentem inferiorizados pelo que não têm. “Nós pomos alguns limites, diz a mãe, pois não esperamos para dizer-lhes ‘não’ só quando forem adolescentes; mas desde o primeiro momento, ano por ano. E sabem? Os meninos agradecem e os amigos querem ser seus amigos, porque veem que são generosos e serviçais”.
         Com tudo isso, todos formam uma família muito feliz. E é uma alegria quando se encontram na hora do jantar. Os 15 irmãos estudam, praticam esportes e almoçam no colégio ou fora. Mas, haja o que houver, a hora do jantar é sagrada. “É quando nos juntamos e comentamos como foi o dia, o que sucedeu a cada um, nos ajudamos, nos escutamos e rimos”, explica a mãe. Para ela, “cada um é um indivíduo, tem seu caráter diferenciado e suas preocupações próprias. Entretanto, ainda que custe crer, conheço muito bem todos os meus filhos”.
         Muito poucas famílias com menos filhos podem ter semelhante felicidade de situação e a satisfação que tal convívio produz!



Os Fatzingers: família numerosa, um dom de Deus
         Rob, 51 anos, e Sam Fatzinger, 48, residentes em Bowie, Maryland, Estados unidos, têm nada menos que 13 filhos. A esposa cuida só da casa, de maneira que eles têm de viver apenas do salário do marido para sustentar uma família de 15 pessoas. Apesar de tudo, foram recebendo os filhos como uma dádiva do Céu.
         Seu caso é tão excepcional, que “The Washington Post” dedicou-lhes extensa reportagem com o título: “Como uma família está enviando 13 filhos à escola, vivendo sem débitos — e ainda planeja aposentar-se cedo.
         Entretanto, a vida dessa família modelo não é assim tão fácil. Seus chefes não nasceram ricos, e vivem somente do salário e de estrita economia. Desde que se casaram, há 27 anos, começaram a fazer um pecúlio para comprar uma casa. Seu único luxo é comemorar anualmente o aniversário de casamento em um restaurante econômico.
         Católicos ao estilo antigo, quiseram ter todos os filhos que Deus lhes mandasse, confiando em que, como diz um velho dito popular, “cada filhinho já nascia trazendo debaixo do braço o seu pãozinho”. Ou ainda, “Deus manda o frio conforme o cobertor”. Por isso, por mais que a família crescesse, nunca passaram necessidade.
Católicos praticantes, seu primeiro negócio foi uma livraria católica. Como não tiveram muito sucesso, fecharam-na em 2000, quando já tinham sete filhos. Rob conseguiu então trabalho testando softwares e, muito aplicado e consciencioso, teve várias promoções, até receber um salário bem razoável. Entretanto, para sustentar a numerosa família, eles economizam no que podem. A esposa procura comprar sempre o que está em oferta, e adapta seu cardápio de acordo com o que encontra. Nas horas vagas, Rob procura ganhar alguma coisa extra, cortando grama ou fazendo pequenos reparos para os vizinhos. Qualquer tostão é importante para eles.   
 Com suas economias puderam dar entrada para a compra de uma casa grande, velha, de cinco quartos. Compraram-na barato, pois estava em tão mal estado, que parecia uma casa mal assombrada. O que levou o sacerdote que foi chamado para benzê-la a perguntar jocosamente: “Devemos fazer nela um exorcismo?”
Como a Providência Divina vela pelas grandes famílias, com a ajuda de parentes e amigos, aos poucos a reformaram e tornaram a casa habitável. Com o tempo foi até possível acrescentar mais dois dormitórios e aumentar a cozinha. E os donativos foram chegando: um fogão a lenha, um sofá velho, um automóvel usado... Assim, foi possível ter coisas indispensáveis para tanta gente, como duas geladeiras, dois fogões, duas máquinas de lavar pratos, uma van e uma máquina de lavar roupa. E os únicos que estão livres de cuidar da lavagem da enorme quantidade de roupa suja são os dois caçulas, de seis e quatro anos de idade. Evidentemente, como católicos exemplares, fica proibido fazer esse trabalho no domingo, para observar o preceito.
A mãe ensina aos filhos as primeiras letras em casa, seguindo o bom costume americano do home-schooling. Depois eles frequentam os ginásios e universidades. “Meus filhos arrumam empregos tão logo têm idade, e aprendem a discernir entre necessidades e desejos. Eles pagam seus celulares, seus colégios, e até mesmo a gasolina que gastam”. Eles aprendem a economizar para atender às suas necessidades, pois não têm mesadas.

         Entretanto, o admirável êxito dessa família não seria possível se não fosse sua profunda fé: “Sem dúvida, a Missa diária é o mais importante [para a família], e também o rosário à tarde, quando é possível, bem como viver o ano litúrgico”, diz a mãe. “É difícil responder a isto [hábitos religiosos] em nível familiar, porque quase todos nossos filhos já são maiores de idade e portanto responsáveis pela sua própria formação na fé. Eles vão aos retiros no instituto [católico] sempre que lhes é possível. [...] Aqueles de nossos filhos que vão, participam das aulas sobre a Bíblia e dos grupos de jovens. E os menores são coroinhas”. [...] Eu gosto de fazer uma Hora Santa durante a semana, mas foi difícil encontrar tempo por causa da numerosa família, e de minha personalidade. Sou muito madrugadora. Finalmente julguei que a melhor hora para mim [para fazer a Hora Santa] era ao sábado, às cinco horas da manhã”.
         Rob e Sam são orgulhosos de sua família. E dão às outras alguns conselhos que as ajudaram a ser felizes: “Sê amável, e aja do modo que convenha à situação de tua família na vida. Ajuda as outras famílias, dá-lhes uma mão com os filhos ou a comida, apoiando-os na oração. [...] Ama o pecador e aborrece o pecado. Encontra formas para que as pessoas se voltem para Deus, e sê um exemplo em um mundo conturbado para ajudar os demais".
         É certo que as famílias numerosas são mais unidas. Os filhos se aproximam mais dos pais e os ajudam a enfrentar as vicissitudes da vida. Por isso é muito difícil ouvir falar de separação entre eles, o que é muito mais frequente nas famílias menos numerosas, e mesmo sem filhos.
         Que o belo exemplo de religiosidade e confiança na Providência dessas duas notáveis famílias sirva de inspiração a muitos casais brasileiros.

                      Plinio Maria Solimeo é escritor e colaborador da ABIM

  
 

 
 
 
Fonte: Agência Boa Imprensa – (ABIM)

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