domingo, 28 de agosto de 2016

Ex-governador de MT ficava com 70% de propinas, diz ex-secretário


Ex-secretário de Administração prestou depoimento à Justiça nesta sexta.
Delator, César Zílio confessou participação no esquema e citou detalhes.

Andre SouzaDo G1 MT
Silval Barbosa (PMDB) foi ouvido na CPI da Copa (Foto: Fablicio Rodrigues/ALMT)Silval Barbosa (PMDB) está preso há quase um ano por suspeita de esquema no governo (Foto: Fablicio Rodrigues/ALMT)
O ex-secretário estadual de Administração, César Zílio, afirmou, em depoimento, nesta sexta-feira (26), que, na divisão dos lucros do esquema de concessão ilegal de incentivos fiscais, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) era o maior beneficiado. Segundo o ex-secretário, que firmou acordo de delação premiada, Silval ficava com 70% do valor das propinas pagas pelas empresas que faziam parte do esquema, que vigorou entre 2011 e 2014. O ex-governador encontra-se preso há quase um ano.
Os outros 30% eram divididos entre os demais membros do grupo, incluindo o próprio César Zílio. Ele explicou que quem articulasse a propina receberia a maior parte do que era dividido entre os integrantes da organização.
Por hierarquia, Silval Barbosa era o líder do grupo. Abaixo dele estavam o ex-secretário de Fazenda, Marcel de Cursi; o ex-procurador do estado, Francisco Lima; o ex-secretário-adjunto de Administração, José Nunes Cordeiro; o ex-chefe de gabinete do então governador, Silvio Corrêa; Pedro Nadaf, ex-secretário da Casa Civil, lidava com questões técnicas e administrativas, além de César Zílio, de acordo com o ex-secretário.
Chico Lima, como é conhecido, segundo ele, era responsável por emitir pareceres favoráveis ao grupo; Marcel era o mentor intelectual e era responsável por criar leis, decretos e resoluções para blindar e dar "legalidade" ao esquema; Silvio obedecia as ordens diretas do Silval e Nadaf lidava com questões técnicas e administrativas, com declarou Zílio à Justiça.

De fevereiro de 2011 a agosto de 2013, o ex-secretário afirmou que entregava propina de cerca de R$ 300 mil a R$ 350 mil a Silval. Uns meses, um pouco mais, outros, menos. O repasse era feito sempre no gabinete do governador, ao final do expediente para "levantar menos suspeitas"
No gabinete, ele contou que deixava envelopes com cheques e dinheiro no banheiro. "Eu entrava e ia direto para o banheiro. Lá havia uma espécie de guarda-roupas. Era lá que eu deixava. Era uma forma menos exposta", relatou.
Ele alegou não saber como funcionava a lavagem de dinheiro, mas supõe que tenha sido feito através de fomento comercial. As propinas eram recebidas em cheques (de baixo valor para facilitar as operações) e em dinheiro. Segundo Zilio, ele e Pedro Nadaf fizeram negócios de compra e venda de gado.
"Ele [Nadaf] veio me procurar querendo comprar gado. A princípio, ele queria comprar 100 cabeças. Ele recebeu tanto dinheiro que, no final das contas, comprou 1.200 cabeças de gado", afirmou o delator.
Sempre soube que o dinheiro usado nos negócios entre nós era ilícito"
César Zílio, ex-secretário de Administração do estado, sobre venda de gado para Pedro Nadaf
Ele afirmou que o negócio girou em torno de R$ 1,5 milhão e foi pago com dinheiro de propina. A maior parte da dívida foi paga em dinheiro. Ele disse ter usado o dinheiro para pagar parte de um terreno de R$ 13 milhões. "Sempre soube que o dinheiro usado nos negócios entre nós era ilícito", declarou.
Zílio é acusado de lavagem de dinheiro na compra do terreno, localizado na Avenida Beira Rio, na capital, e, em acordo com a Justiça, se comprometeu a devolver o terreno como forma de ressarcir os cofres públicos.
Ele disse sentir vergonha dos crimes. "Cometi erros que me envergonham, envergonham a minha família. Por isso, quero pedir desculpas à minha família, à sociedade e para este Juízo. Acho até que a Operação Sodoma vai servir como um catalisador para promover uma mudança de comportamento no país e no estado", afirmou.
O réu alegou que em 2010 participou como tesoureiro da campanha de Silval e que depois foi convidado a fazer parte do governo, como secretário. De acordo com ele, não foi deixada nenhuma dívida de campanha. Por isso, ele supõe que as dívidas de campanha citadas pelo então governador se tratavam de apoios políticos.
Além de devolver o terreno, ele deve pagar ainda R$ 1,3 milhão em dinheiro, dividido em cinco parcelas. A primeira de R$ 270 mil já foi paga, segundo ele.

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