domingo, 31 de julho de 2016

Por que adiar as manifestações para 21/08 é a melhor alternativa?


Por que adiar as manifestações para 21/08 é a melhor alternativa?
Como vimos, vários grupos que se manifestariam no dia 31/07 decidiram alterar a data das manifestações para o dia 21/08. Veja o comunicado abaixo:
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Isso tudo parece muito interessante, sob vários aspectos. Dentre eles, sabemos que promover vários eventos no dia 31 de julho, bem como manter o apoio às manifestações que ocorrerem nesta data, permitirá que grupos como MBL, Revoltados Online e Nas Ruas consigam organizar manifestações mais pontuais e centradas.
Mas não foi assim que algumas pessoas adeptas do direitismo mais purista compreenderam. Dentre esses casos, cito um exemplo, o de Paulo Eneas, que já participou comigo no passado do site Crítica Política (do qual fui editor por uns meses):
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Ai, ai…
Por onde começar?
  1. Segundo o Sr. Eneas, as mobilizações “não dependem de calendário do Congresso”. Na verdade, dependem sim. Se ele resolvesse estudar os movimentos da extrema-esquerda, notaria que todas as mobilizações estão alinhadas a eventos políticos, tanto do Executivo, como do Legislativo e até do Judiciário. Desatrelar manifestações destes eventos é uma bobagem tão grande quanto espirrar na farofa. Na verdade, as manifestações devem ser pensadas com esse alinhamento em mente. Talvez por Eneas ter adotado a narrativa da “superação da classe política” (que não foi colocada em prática nem por aqueles defensores desta ideia), ele acredite que viver como se o Congresso não existisse funciona. Por que ele não junta os amigos dele e tentam fazer isso?
  2. Ele também ataca o fato de os movimentos terem remarcado a data. Usa a ironia: “Quarenta dias após marcar a data vocês ‘descobriram’ que era fim de férias”? Bem, se uma crítica pode ser feita quanto ao agendamento, crítica maior deveria ser feita em relação a não alterar a data. Inflexibilidade é sempre um demérito para executores de táticas. Fica difícil saber do que Eneas reclama. Do agendamento original ou da remarcação? Vago, muito vago…
  3. Surge a narrativa purista dizendo “vocês são uns liberteens irresponsáveis muito mais preocupados em levar adiante a agenda libertária da esquerda que vocês sempre abraçaram”. É um discurso da idade da pedra lascada, totalmente desapegado aos fatos da política atual. A direita está em processo de amadurecimento e, felizmente, começando a elaborar demandas pragmáticas que atendam a mais de um grupo. Um exemplo é o apoio de muitos liberais ao Escola sem Partido, que se iniciou como uma demanda conservadora. E novas demandas pragmáticas vão surgir. Isso é fruto do amadurecimento político da direita. É algo que não vai parar. O purismo de Eneas não é um bom componente para se fazer uma crítica tática.
  4. Ele fala algo sobre o impeachment ter sido apenas um pretexto para “levar uma agenda libertária de esquerda” à frente, mas é um discurso sem nexo. Como falado anteriormente, várias agendas estão em discussão – agendas liberais, libertárias e conservadoras – e o processo de impeachment resulta em maior liberdade para discutirmos todas estas agendas. Na realidade, a requisição pelo impeachment surgiu de forma legítima a partir de vários movimentos sociais democráticos. A conquista do impeachment é também a conquista de maior liberdade, e aí cada grupo que ocupe o seu espaço. Eu, como liberal, não me preocupo com o aumento de espaço para as vozes conservadoras. Por que Eneas se incomoda tanto? Aí sim fica parecendo que ele busca um pretexto.
  5. Argumento “maravilhoso” de Eneas: “vocês são amigos do Reinaldo Azevedo”. Bem, de fato parece que Reinaldo Azevedo tem bastante alinhamento com as táticas e práticas de movimentos como MBL. Da mesma forma que Eneas é aluno do Olavo de Carvalho. E daí? O que importa são as táticas de cada grupo. Patrulhamento ideológico é coisa da extrema-esquerda, que todos devemos repelir. Em tempo: o cancelamento não veio apenas do MBL, como também de outros grupos que incluem até gente que participou de um hangout recentemente com o Sr. Eneas. Ihh….
  6. Os movimentos não estariam “nem aí, pois as pessoas querem alavancar suas candidaturas para as próximas eleições”. Esse é o famoso argumento “nada a ver”. Uma coisa não tem relação com a outra. Mas o importante é o seguinte: é um mérito que os movimentos democráticos estejam dando espaço para candidatos surgirem nas próximas eleições. É apenas no fascismo que a participação política é rejeitada. Ou em ditaduras. Em democracias, temos que contar com políticos cada vez mais aderentes às nossas ideias. Membros de movimentos sociais deveriam aumentar sua participação na política, entrando em partidos como DEM, PSDB, PMDB, NOVO, PSL e vários outros. Só deveríamos vetar a participação em partidos totalitários como PT, PCdoB, PSOL e PDT, bem como outros aliados a projetos bolivarianos. Em suma, aquilo de que Eneas reclama, muitos deveriam na verdade é se orgulhar. Pergunta ao Sr. Eneas: “O senhor não tem vergonha de ficar contra os membros de movimentos participarem da política?”.
  7. Por fim, ele diz que os movimentos “subestimam” os milhões que “foram e estão dispostos a ir às ruas”. Mas qual foi a análise feita por Paulo Enéas a respeito da vontade de participação nesta data? De onde eles tirou os dados? Aha… Enfim, como sempre, aqueles menos focados em falar em táticas surgem com demandas tiradas da cartola.
O que podemos avaliar daí é que, com críticas tão ruins ao cancelamento das manifestações – e note-se que Paulo Eneas com certeza se posiciona no “top 10” daqueles ligados a Olavo de Carvalho, e que gostam de meter o bedelho nos movimentos de rua, mesmo que emitam narrativas contraditórias – adiar foi a melhor alternativa de todas.
Eneas e outros de seu grupo possuem bastante dificuldade em compreender contextos táticos. Muitos deles adotam a frase “vocês tem que fazer (x)”, mas quase sempre ignorando os momentos políticos pelos quais passamos. Por exemplo, Eneas ignora que a descida de Dilma ladeira abaixo tirou muito do clima de confronto. O período de fim de férias até que não seria um grande problema, não fosse a ausência de um “clima de combate” para o momento. É bem provável que esse clima retorne com o fim das férias e com a entrada na reta final do impeachment.
Saul Alinsky ensinava que “a melhor tática é a que seu grupo aprecia”. O público dos movimentos democráticos estava clamando por manifestações em outra data. No que foram atendidos pelos líderes dos movimentos. A data foi alterada porque as pessoas que participariam dos movimentos prefeririam uma data mais próxima à votação do impeachment. Fazer tal alteração de cronograma é sinal de maturidade política e sinal de respeito ao público das manifestações

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