quinta-feira, 28 de julho de 2016

Paciente com doença de chagas contesta Saúde e diz que tomou açaí


Agricultor afirma que família tomou bebida durante encontro em Feijó.
'Foi uma surpresa para nós', diz técnica da Secretaria de Saúde do Acre.

Aline NascimentoDo G1 AC
Um dos treze pacientes internados com doença de chagas no Hospital Geral de Feijó, interior do Acre, contesta a versão da Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e diz que tomou açaí antes de ser diagnosticado com a doença. A princípio, a Saúde informou que estava descartada a possibilidade de contaminação pela bebida e afirmou que os pacientes teriam sido picados pelo barbeiro, inseto transmissor da doença.

Todos os pacientes, com idades que variam de 4 a 28 anos, são da mesma família e moradores do Seringal Miraflor, no km 60 da rodovia BR-364, zona rural de Feijó.
Ao G1, a técnica responsável pela Doença de Chagas e Leishmaniose da Sesacre, Carmelinda Gonçalves, disse ter sido informada recentemente sobre o consumo de açaí pelos pacientes. Carmelinda enfatiza, no entanto, que só poderá afirmar que a transmissão foi pela bebida após o término das investigações da equipe enviada ao seringal.
"Foi uma surpresa para nós saber dessa informação, porque o que me passaram não era isso. Outras pessoas também consumiram e nada aconteceu. Eles podem ter consumido outras coisas a mais. É uma suspeita", argumentou.
De acordo com o agricultor, que prefere não ser identificado, toda família teria consumido açaí durante um encontro evangélico realizado na comunidade e apresentado sintomas da doença algumas semanas depois.
"Estávamos em um grupo e o dono da casa ofereceu açaí depois da celebração. Não foi confirmado, mas a maioria que tomou do açaí está aqui no hospital. O dono da casa, que também é nosso parente, não ficou doente", relembra.
'Falamos que tínhamos tomado açaí'
O homem diz também, que ao contrário do que foi divulgado pela Saúde, todos informaram o consumo do suco da fruta antes de adoecerem durante uma entrevista no hospital.“Na hora que a mulher foi fazer a entrevista com a gente estávamos todos dentro de um quarto. Falamos que tínhamos tomado açaí", declara.
Sobre a possibilidade da contaminação ter sido a picada do inseto, o morador afirma que nunca viu barbeiros pela região. "Acho que não foi assim. O barbeiro não ia andar com uma lista de todos nós para ferrar", argumenta.
Equipe da Fiocruz está na região do Vale do Juruá, no interior do Acre  (Foto: Carmelinda Gonçalves/Arquivo pessoal )Equipe da Fiocruz esteve na região do Vale do Juruá,
no interior do Acre
(Foto: Carmelinda Gonçalves/Arquivo pessoal )
Mortes
Em março deste ano, o casal Francisco Maian da Costa, de 18 anos, e Celiana Silva, de 17, nos dias 26 e 29 de fevereiro, respectivamente, morreram após tomar açaí contaminado pelo barbeiro.
A família do casal mora em uma comunidade rural da cidade de Rodrigues Alves, a 627 km da capital acrena. Inicialmente, a doença de Chagas era apenas a suspeita, sendo confirmado o diagnóstico no dia 11 de março pela Saúde do Acre.
Duas irmãs de Costa também foram diagnosticadas com a doença. A pequena Francisca Adrielly, de 12 anos, ficou internada por mais de um mês no Hospital da Criança, em Rio Branco, e ficou com uma lesão no coração, por causa da enfermidade, segundo a médica que a atendeu.
Pesquisa
Dois meses após os casos em Rodrigues Alves, a coordenação que trata sobre doença de Chagas no Acre visitou as cidades da região do Vale do Juruá, como Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo. A medida fez parte de uma campanha de prevenção e conscientização após a região registrar nove casos da doença.
Uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília também esteve no local e fez pesquisas na comunidade Nova Cíntra, onde sete casos da doença foram confirmados neste ano.

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