A imagem do tiranete Lula e de Dilma é a pior possível: as lideranças petistas querem os dois longe dos palanques. Editorial do Estadão:
O desespero cresce à medida que se aproxima o impeachment e, com
isso, Dilma Rousseff vai perdendo a noção do ridículo. A mulher dita
honesta, acuada pela sanha golpista dos inimigos do povo e confinada na
solidão de um palácio de mentirinha, volta-se, explicitamente, contra
seu próprio partido, a quem atribui a responsabilidade por qualquer
malfeito que tenha sido cometido nas duas bem-sucedidas campanhas
eleitorais de que participou. Mas o sentimento de rejeição é recíproco:
está aberta nas hostes lulopetistas a discussão sobre a conveniência de
manter Dilma Rousseff afastada da campanha municipal. O PT já se deu
conta de que mal poderá arcar com o peso negativo da própria imagem.
Dispensa o abraço de afogado.
Para a presidente afastada, a confissão de seu ex-marqueteiro oficial
de que recebeu via caixa 2 pelos serviços prestados na campanha
presidencial de 2010 não a atinge: “Ele diz que recebeu isso em 2013.
Ora, a campanha começa em 2010 e até o final do ano, antes da
diplomação, ela é encerrada. A partir do momento em que ela é encerrada,
tudo o que ficou pendente de pagamento da campanha passa a ser
responsabilidade do partido”.
Equivoca-se a mulher honesta. Mesmo que o cipoal legislativo que
regula a matéria dê margem a eventuais interpretações pontuais
discrepantes, o bom senso impõe a observância do princípio da
responsabilidade solidária de candidatos e partidos sobre os gastos
eleitorais, principalmente quando se trata de pleito majoritário. No
caso, o marqueteiro João Santana, responsável pelo marketing eleitoral
de Dilma em 2010, só conseguiu receber US$ 5 milhões que lhe eram
devidos – na verdade, US$ 500 mil a menos – em 2013, depositados em
conta no exterior.
Ninguém imagina que um candidato à Presidência da República seja
obrigado a cobrir gastos de campanha. Mas é óbvio que ele é responsável,
solidário com o partido, por esses gastos, inclusive do ponto de vista
da legislação eleitoral. É, aliás, exatamente por essa razão que está
sendo julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma ação movida
pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer, relativa aos gastos de campanha de
2014. É simplesmente ridícula, portanto, a alegação da presidente
afastada de que, como a campanha de 2010 foi encerrada antes de o
pagamento ser feito ao marqueteiro, a responsabilidade exclusiva por
esse pagamento é do PT.
De resto, essa atitude revela, no mínimo, o desapreço que Dilma tem
pelo partido pelo qual se elegeu duas vezes presidente da República. O
que suscitaria a questão – se é que ela acredita realmente que possa
voltar ao Palácio do Planalto – de saber com o apoio de quem ela
contaria para recompor seu governo.
Ao tentar transferir para o PT toda a responsabilidade pelos golpes
eleitorais que alavancaram suas eleições, Dilma nada mais fez do que
imitar o comportamento de seu criador e mestre, Lula da Silva. Mentor e
maior beneficiário do mensalão e do petrolão, peças do mesmo esquema de
corrupção com os quais procurou em vão consolidar seu projeto pessoal de
poder, o hóspede contumaz do famoso sítio de Atibaia passou oito anos
na Presidência da República comportando-se como se qualquer suspeita de
seu envolvimento em trambiques fosse crime de lesa-majestade. A
diferença entre Dilma e Lula é que este, muito mais esperto, não perdia
oportunidade de passar a mão na cabeça de quem operava o jogo sujo para
ele.
Hoje, a agenda dos restos do PT concentra-se na sua sobrevivência
política, o que passa necessariamente por um desempenho se possível um
pouco mais do que medíocre no pleito municipal de outubro. A estratégia
eleitoral a ser adotada divide suas lideranças. Por um lado, os que
preferem a uma abordagem mais “ideológica” insistem que o mais adequado é
a “nacionalização” da campanha, levando para os palanques municipais o
tema do “golpe” de que o PT estaria sendo vítima com o impeachment de
Dilma. De outra parte, os mais pragmáticos entendem que, numa eleição de
prefeitos e vereadores, o que garante voto são as questões locais.
Seja qual for a estratégia, predomina entre as lideranças petistas,
nos âmbitos federal, regional e municipal, a convicção de que, com a
exceção talvez do Nordeste, as presenças nos palanques de Lula e,
principalmente, de Dilma, não são desejáveis. São as voltas que a
política dá.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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