domingo, 3 de julho de 2016

Generalizações da estupidez politicamente correta


O pensamento politicamente correto é a sobrevivência do falido comunismo, como bem apontou Doris Lessing no início dos anos 90. Infenso à crítica, rotula indiscriminadamente seus críticos, abusando das generalizações. Muito a propósito, Nelson Ascher, ensaísta e tradutor, faz excelentes observações sobre tais generalizações, dignas da estupidez esquerdista:
1) Dias antes do plebiscito britânico, um nacionalista ou direitista desvairado matou uma deputada favorável à permanência do Reino Unido na União Européia bem como das implicações migratórias disso. Muitos dos comentários críticos ao Brexit citam esse caso,não como uma aberração, mas sim como ilustrativo daquilo que subjaz, daquilo que de fato estaria no fundo da mente dos 52% de cidadãos que optaram pela saída, ou seja, um crime basta para evidenciar ou provar que os milhões de membros de um grupo são no fundo maníacos assassinos.
2) Durante as manifestações a favor do impeachment de Dilma, apareceram aqui e ali alguns manifestantes (dois dígitos no máximo) pregando o golpe militar; um deputado federal pró-impeachment elogiou publicamente um militar torturador dos tempos da ditadura; e talvez tenha ocorrido alguma raríssima agressão a algum petista. Foi o que bastou para muitos dos comentaristas afirmarem que todos aqueles que se opunham à presidente eram de fato partidários da ditadura militar, favoráveis à repressão e tortura, além de promotores de pogroms e linchamentos de esquerdistas em geral.
3) Tão logo começou a circular a notícia e/ou algum vídeo de um estupro em massa (gang rape) de uma moça por 20/30 marginais ou bandidos numa favela, muitos comentaristas, jornalistas e intelectuais afirmaram ou sugeriram, não que marginais ou favelados ou, mais especificamente, criminosos são capazes de perpetrar diversos crimes, entre eles o estupro, mas sim que todos os homens são de fato estupradores e responsáveis inclusive por toda uma "cultura do estupro".
4) Nos últimos anos ou décadas, muçulmanos religiosos, reconhecidos como tais pela maioria ou grande parte de seus correligionários e movidos explícita e declaradamente por sua fé perpetraram a quase totalidade dos atentados terroristas em todos os cantos do planeta, de Buenos Aires e Nova York, Washington e Orlando a Londres, Paris, Madri e Bruxelas, de Istambul, Cairo, Amã, Tel Aviv e Jerusalém a Bali, passando pela Rússia, Bulgária, Índia, China, sem esquecer Nairóbi, a Nigéria, Costa do Marfim etc. O terrorismo motivado pela religião é praticamente uma exclusividade islâmica, e os atentados planejados mas abortados pelos serviços de segurança e inteligência são, ao que tudo indica, muito mais numerosos do que os finalmente cometidos. Neste caso, porém, a maioria dos comentaristas (que ou são os mesmos dos casos acima ou seguem as mesmas orientações políticas e culturais, manifestando-se nos/pelos mesmo veículos) nunca se cansa de enfatizar que os perpetradores ou não são a rigor muçulmanos autênticos ou são absolutamente atípicos, que nada têm a ver com os demais seguidores do Islã nem representam ninguém, salvo a si mesmos. Nenhum outro de seus correligionários e nenhum aspecto da religião em questão têm, segundo eles, qualquer relação com os terroristas e sua ações, os e as quais, mais do que exceções aberrantes, seriam o próprio avesso, o absoluto e perverso contrário do verdadeiro Islã, de tudo o que este representa e de praticamente todos os muçulmanos. Há inclusive gente (não muçulmana) que insiste em chamar esse terrorismo de antimuçulmano no sentido de que suas maiores vítimas seriam sempre os muçulmanos, que os atentados exporiam à suspeita e ao ódio de outras pessoas, estas sim genericamente culpadas de discriminação, preconceito e racismo.
5) Parece que em alguns casos a generalização é automática e justa, e, em outros, impensável e proibida.  
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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