Embora estejam mais otimistas, os consumidores ainda esperam mudanças na
inflação, esse nefasto legado do populismo lulopetista. Editorial do
Estadão:
Consumidores ainda esperam inflação de 10% nos 12 meses a partir de
julho, segundo a sondagem mensal da Fundação Getúlio Vargas. Estão menos
pessimistas, porque em junho a expectativa era de 10,5%, mas o
resultado previsto é quase tão ruim quanto o do ano passado, quando o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 10,67%. Se a opinião
do consumidor tem alguma importância para a formação dos preços, o
Comitê de Política Monetária (Copom) tem uma justificativa a mais para
sua decisão, anunciada na quarta-feira, de manter em 14,25% a taxa
básica de juros. Em nota distribuída logo depois da reunião, o comitê
mencionou a diferença entre a sua projeção para 2017, “em torno da meta
de 4,5%”, e a do mercado, “em torno de 5,3%”. Inflação alta por um
período prolongado e expectativas acima da meta podem reforçar, segundo o
comunicado, “mecanismos inerciais e retardar o processo de
desinflação”. Pior, ainda, se continuar incerta, como até agora, a
execução do plano, anunciado pelo governo, de ajuste das contas
públicas. A nota mencionou também esse fator.
A projeção de 10% para os próximos 12 meses é a mediana dos números
indicados nas entrevistas. Taxas entre 10% e 12% foram mencionadas por
18,4% das pessoas. Resultados superiores a 12% apareceram em 17,8% das
respostas. A soma desses dois grupos dá 36,2%, mais de um terço,
portanto, do total. Não é um detalhe desprezível. Juntando-se os 21,9%
com previsões na faixa de 9% a 10%, chega-se a 58,1% de consumidores com
expectativa de inflação acima da computada oficialmente nos 12 meses
até junho, quando o IPCA subiu 8,84%.
O IPCA-15, prévia do indicador oficial, pode justificar o limitado
entusiasmo da maior parte das pessoas, apesar do recuo da inflação desde
o começo do ano. Apurado entre meados de um mês e meados do mês
seguinte, o IPCA-15 mostrou um repique inflacionário, com uma alta de
0,54% em julho e de 8,93% em 12 meses. Em junho, havia subido 0,4%.
Como no mês anterior, os preços de alimentos e bebidas puxaram o
índice, com aumento de 1,45% e impacto de 0,37 ponto porcentual no
conjunto. A alta do grupo alimentação e bebidas foi a maior para os
meses de julho desde 2008, quando a variação foi de 1,75%. Os preços de
feijão, arroz e leite foram os mais importantes para a elevação do IPCA.
Tempo desfavorável, com excesso ou falta de chuva, prejudicou as
safras de alguns produtos. Isso explica, em boa pare, os aumentos de
preços de alguns alimentos. O dólar valorizado também afetou os custos
da alimentação desde o ano passado, mas esse efeito tem diminuído e
poderá continuar perdendo importância nos próximos meses, se as
perspectivas de ajuste econômico se consolidarem e os mercados se
tornarem mais otimistas. Mas a evolução do câmbio dependerá também do
mercado financeiro internacional. Um fator especialmente importante será
a política de juros do banco central americano. Se a taxa for novamente
elevada, o dólar poderá de novo subir na maioria dos mercados.
Por enquanto, os preços por atacado permitem pouco otimismo quanto à
acomodação dos preços dos alimentos. Mas o custo da alimentação é apenas
um dos focos de pressões inflacionárias. O desarranjo das contas
públicas permanece como o principal fator de preocupação, mesmo depois
das primeiras ações do governo para ajustar suas finanças.
Os consumidores têm motivos bem respeitáveis para se manter
cautelosos quanto às perspectivas da inflação. Podem até acreditar na
tendência de queda, mas sem acreditar em taxas muito mais civilizadas
neste ano e no próximo. No mercado financeiro, as projeções têm ficado
mais otimistas, mas ainda os números calculados para 2017 continuam bem
acima da meta. Combinados todos esses fatores, o Copom teria pouca
justificativa para afrouxar sua política neste momento. Se o quadro
político tornar mais segura a política de ajuste das contas públicas,
será mais fácil mudar a política de juros.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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