sábado, 30 de julho de 2016

Encolhido, setor de cargas demite 20% na capital baiana


O ofício de caminhoneiro, feito por pessoas que conhecem bem o país, espelha bem o atual cenário econômico

por
Matheus Fortes
Publicada em  TRIBUNA DA BAHIA
Foto: Romildo de Jesus
Como parte do efeito drástico da crise econômica, o setor dos transportes de carga também está encolhendo, seguindo a retração na atividade industrial e comercial. Nacionalmente, as demissões já chegam a 20% no segmento, se comparando com o mesmo período de 2014. O ofício de caminhoneiro, feito por pessoas que conhecem bem o país, espelha bem o atual cenário econômico.
Na Bahia, o cenário não poderia ser diferente, como aponta o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga (Setceb), Antônio Siqueira. “O setor de transporte sempre será um reflexo da economia no país. Se a indústria e o comércio sentem essa queda, naturalmente o fenômeno também se estenderá ao transporte de carga”, analisou.
Segundo Siqueira, desde 2015, as transportadoras já reconheceram o declínio no faturamento, e começaram e efetuar cortes visando sobreviver no mercado. Com pouco espaço, as empresas menores que não conseguem se manter, acabam suspendendo as atividades, ou mesmo fechando as portas.
Entre os problemas, também se encontram a remuneração que, sem reajuste com base na inflação, torna mais difícil a continuidade das atividades.  “Não tem havido aumento real de salário para a categoria, além disso, nossa categoria está a um ano e meio sem ajustar o frete”, explica Siqueira, completando que o os efeitos já vem sendo sentidos neste mesmo período.
Dificuldades maiores são frete baixo e preço do diesel 
Trabalhando na área há mais de 30 anos, o caminhoneiro Vitor Mendes tem sentido na pele a dificuldade para conseguir se manter na ocupação. Natural de Teixeira de Freitas, no extremo sul, o motorista vem até a capital com carregamentos de mamão e retorna ao sul baiano com cargas de empresa. Segundo ele, poucas vezes sentiu tanta dificuldade para continuar rodando quanto agora.
“Ás vezes, você faz um frete no valor de R$ 2.000. Só que a metade desse valor vai apenas para o óleo diesel. Daí também temos custos com outras manutenções do caminhão, descarga dos produtos, e até mesmo outras taxas cobradas pela empresa”, exemplificou o profissional.
A princípio, a solução passaria pelo natural aumento do frete, mas Mendes explica que tal como grande parte dos colegas, teme aumentar o preço e perder o cliente, ficando sem poder fazer o serviço. “Se eu aumento, é muito provável a empresa, ou do cliente, desistir do carregamento e procurar outro caminhoneiro que faça o serviço no valor que ela quer pagar”.
O resultado, segundo apontam outros profissionais, como o sergipano de Umbaúba Antônio Dantas, é a desvalorização da categoria, que precisa se virar com pouco ou quase nada para exercer a atividade. “É comum o motorista chegar em seu destino final sem um conto no bolso. Isso porque já teve custos demais durante a viagem, precisou fazer alguma troca de peça que quebrou no meio do caminho”, explica.
COLEGUISMO
Caminhoneiro há 39 anos, Dantas leva produtos como farinha e mandioca de Salvador para Aracaju, trazendo na volta, cimento, pisos e outros materiais de construção. Segundo ele, quando o bolso aperta, o caminhoneiro conta apenas com o coleguismo para não passar dificuldades. “Eu mesmo já passei por isso, ficamos dependendo da boa vontade dos colegas para fazer uma vaquinha, poder reabastecer o veículo, pagar por um reparo”.
Para Jairo Viera, de Estância (SE), que também traz carregamentos de acessórios para construção para a capital baiana, o preço do óleo diesel continua sendo o principal vilão. “O frete não chega a incomodar tanto. O problema foi que o preço do óleo diesel subiu muito, e metade do que ganhamos acaba indo só para a troca dele nos caminhões. Fica inviável”.
Na ida e volta entre a Bahia e Sergipe, ambos cobram um frete de R$ 1.500, gastando pelo menos R$ 700 apenas com o combustível nos veículos. “Nós rodamos todos os dias, em qualquer horário, sempre correndo riscos, e sob a pressão do cliente para fazer entrega da mercadoria, e o retorno é muito pouco”, avaliou.  

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