Alguns parlamentares passaram a especular sobre novas eleições... Proposta é, além de inconstitucional, irresponsável
Leio na Folha uma reportagem cujo
título é este: “Crises do governo Temer fazem senadores reavaliarem
impeachment”. O diapasão do texto é outro. Há parlamentares expressando
preocupação com tropeços do governo. Ninguém está declarando mudança de
voto. Até porque votação em favor do impeachment não houve. O que se
teve foi apenas a admissibilidade do processo. Convenham: ninguém
esperava aqueles 55 votos.
Não há
nenhuma novidade em afirmar que o risco existe: afinal, para que Dilma
vá cantar em outra freguesia, são necessários 54 votos. A Afastada, a
rigor, pode até não ter nenhum. Se 53 escolherem o impeachment, a
petista reassume a Presidência.
Todos vimos
os números da economia nesta quarta-feira. Sabemos o tamanho do desastre
que Dilma produziu e, dadas as suas entrevistas, coisa bem pior se
poderia esperar caso recuperasse o trono. Ela já se disse contrária ao
corte de gastos, defendeu a criação de um novo imposto e flertou com o
controle da imprensa. Imaginem qual seria a reação do mercado —
inclusive dos investidores externos — se aquela senhora voltasse ao
poder.
A reportagem
da Folha, no entanto, cuida menos de um eventual retorno de Dilma do
que da possibilidade de uma nova eleição. Nesta quinta, começa a
tramitar no Senado PEC do ex-petista Walter Pinheiro (sem partido-BA)
que prevê a realização de um plebiscito em outubro para saber se a
população quer nova eleição. Se o resultado fosse favorável, o TSE
convocaria o pleito em 30 dias.
Ocorre que a
PEC é escandalosamente inconstitucional. Fere o Inciso II do Parágrafo
4º do Artigo 60 da Constituição, que veta a apresentação de emenda que
mude a periodicidade da eleição. Mas não só isso: tratar-se-ia da
cassação do mandato de Michel Temer. Sob qual pretexto? Isso, sim, seria
um golpe parlamentar.
A única
possibilidade de haver eleição é, dado o impeachment de Dilma, haver a
renúncia de Temer, mas não consta, nas circunstâncias de agora, que ele a
tanto esteja disposto. Aliás, tomara que não!
Irresponsabilidade
Walter Pinheiro diz ter saído do PT, mas o PT não saiu de Walter Pinheiro, que está se licenciando do Senado para assumir uma secretaria no governo petista da Bahia. A proposta, ainda que constitucional fosse, é de uma impressionante irresponsabilidade.
Walter Pinheiro diz ter saído do PT, mas o PT não saiu de Walter Pinheiro, que está se licenciando do Senado para assumir uma secretaria no governo petista da Bahia. A proposta, ainda que constitucional fosse, é de uma impressionante irresponsabilidade.
Vejam o
corte de gastos que o governo terá de fazer para tentar tirar o país do
buraco. Imaginem a disposição que teriam os candidatos para, numa
disputa eleitoral, pedir alguns sacrifícios à população. Mais: à direita
e à esquerda, os ânimos estão exacerbados. Assistiríamos a uma espécie
de campeonato de estupidez.
A proposta de novas eleições é tão aloprada quanto a que flerta com o retorno de Dilma.
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