terça-feira, 28 de junho de 2016

Projeto tenta facilitar acesso ao leite materno e reduzir morte de crianças


Alguns estados só dispõem de um banco de leite, na capital

Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Foto: Augusto Bartolomei/Hospital Santa Catarina
Mãe faz coleta em hospital de Santa Catarina: leite que sobra para um bebê pode salvar outro
Mãe faz coleta em hospital de Santa Catarina: leite que sobra para um bebê pode salvar outro
O Brasil tem o maior número de doadoras de leite materno do mundo, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, essa cobertura ainda é deficitária em algumas regiões, de acordo com a coordenadora de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Miriam Santos.
Alguns estados (principalmente da Região Norte, que registra a maior taxa de mortalidade infantil do país) só dispõem de um banco de leite, na capital.
Para resolver a questão, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) analisa projeto do senador Dário Berger (PMDB-SC) que obriga todas as maternidades de referência regional a possuir bancos de leite em suas instalações. O objetivo do PLS 171/2016 é aumentar a capilaridade da rede.
Ana Clélia Martins é mãe da pequena Ana Clara, que nasceu prematura e permanece internada no Hospital Materno Infantil de Brasília há mais de dois meses. Ela destaca que o leite doado tem sido fundamental para ela e outras mães com bebês internados.
— A minha bebê não teria como ingerir fórmulas e, se não fosse o leite que recebi, eu não teria como alimentá-la.
Entre os 292 bancos de leite humano do mundo — implantados em 23 países da América Latina, Península Ibérica e África —, 217 estão no Brasil. E há ainda 167 postos de coletas reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essas unidades beneficiaram, entre 2008 e 2014, 79,1% dos bebês assistidos por doações no planeta. A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (Rede BLH) é fruto de uma parceria do Ministério da Saúde com a Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz) e é considerada pela OMS a maior e mais complexa rede de banco de leite do planeta.
O Brasil exporta tecnologia e conhecimento de doação de leite. O país é reconhecido como referência mundial em aleitamento materno pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e pela revista científica britânica The Lancet.
O leite produzido em excesso e doado por uma mãe pode significar a chance de sobrevida e cura para o bebê de outra, especialmente para crianças que nascem com baixo peso, prematuras ou com algum problema de saúde.
Os bancos de leite e postos de coleta possuem ambulatórios de apoio à lactante e família e metodologias de incentivo ao aleitamento, como explica Miriam.O primeiro banco de leite humano do Brasil foi implantado em outubro de 1943, no então Instituto Nacional de Puericultura, atual Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
O ideal é que o leite saia diretamente do peito para o bebê, mas nem sempre é possível. Segundo Miriam, o leite humano cru fica bom por até 15 dias no congelador, com a conservação adequada. Com o processamento pelos bancos de leite, a validade aumenta para até seis meses. Só em 2015, foram distribuídos 145.985 litros de leite humano pasteurizado, com qualidade certificada, a 177.728 recém-nascidos internados em unidades de terapia intensiva.
O leite humano é essencial para proteger recém-nascidos porque alimenta e defende contra diarreia, infecções respiratórias, diabetes e alergias. Para garantir o leite materno a bebês cujas mães não podem amamentar ou produzem pouco leite (por exemplo, por causa de cirurgia de redução ou retirada de mama), foram criados em todo o país os bancos de leite humano. Eles recebem, pasteurizam, fazem testes para controle de qualidade e distribuem o leite para as crianças internadas em unidades neonatais.
Dário Berger apresentou a proposta de bancos de leite na maternidade por considerar que a introdução precoce (antes do sexto mês de vida) de outros alimentos ao bebê pode aumentar o risco de desnutrição e estar associada a casos de diarreia, hospitalização por doença respiratória e diminuição na absorção de minerais. O Ministério da Saúde já orienta que todos os hospitais com leitos neonatais devam ter um banco de leite humano ou posto de coleta.
— Se desejamos garantir o futuro do Brasil, precisamos garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, que precisam ser atendidos em tempo real, para crescerem, se desenvolverem e prosperarem — destaca o senador.
De acordo com resolução da Anvisa que regulamenta os bancos de leite no Brasil, ao se dispor a doar, a lactante deve ser saudável e não usar medicamentos que impeçam a doação. Durante a coleta, é preciso lavar bem as mãos e os braços e prender os cabelos. O leite deve ser acondicionado em vidros de boca larga e com tampa de plástico, fervidos previamente por 15 minutos. Após a coleta, deve ser colocado imediatamente no congelador de casa, onde pode ficar por, no máximo, 15 dias (veja quadro).
Considerado o alimento mais completo, o leite materno é recomendado como exclusivo até os 6 meses de idade e complementado por outros alimentos até os 2 anos. Ele contém todas as proteínas, vitaminas, gorduras, água e outras substâncias necessárias para o completo desenvolvimento da criança. Além de benefícios físicos, a amamentação contribui com o sistema emocional, porque promove ligação entre mãe e bebê.
Um estudo publicado no European Respiratory Journal revelou que bebês alimentados exclusivamente com leite materno nos primeiros seis meses têm menos chances de desenvolver sintomas de asma na infância.
Outra pesquisa, desenvolvida pela Universidade de Southampton, na Inglaterra, e pelas Universidades do Estado de Michigan e da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, mostrou que crianças amamentadas por pelo menos quatro meses tinham um funcionamento melhor dos pulmões. O esforço do bebê para sugar o leite ajuda no desenvolvimento e fortalece o órgão contra alergias.
Em Brasília, há cerca de 6 mil doadoras por ano. Miriam Santos afirma que esse número atende apenas 11% das mulheres que ganham bebê na cidade. Aproximadamente 150 bebês internados nos hospitais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal necessitam do alimento diariamente.
— Existe ainda uma grande necessidade de conscientização das mulheres sobre a importância do aleitamento e, a partir daí, quando elas estão amamentando, poderem ajudar outras mães — ressalta Miriam.

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