"Estados de espírito", da Estação Nêumanne, sobre a desgraça em que vive o Brasil depois de 13 anos de lulopetismo:
Número 1:
Juro que
não acredito que nada há mais que me possa espantar: algo novo na
devassa da Lava Jato, algo velho sendo preservado como lição, algo
moderno que possa ser de serventia a todos, algo eterno que não seja de
desprezar. A invasão do hospital-modelo para libertar o bandido ferido
sob a guarda indigente do Estado; a onça Juma acorrentada, exibida,
atiçada e, depois, abatida com um tiro na nuca como um dissidente de
Stalin; o prefeito do Rio dizendo que sua prefeitura nada em dinheiro
enquanto o País atola na merda; o militante perdido torrando nosso
dinheiro numa TV que ele diz pública, mas o público não vê e falando mal
do canal que é visto porque diverte o homem comum, que não milita nem
torra moeda… Haverá algo ainda que me espante pelo mal? Ou só me resta
dormir, buscar um sonho bom e acordar achando que sonhei algo com que
nem mais capaz de sonhar eu penso ser?
Número 2:
No Brasil
de hoje, há muito a lastimar e mais ainda a combater. Mas há sinais de
melhora institucional que não podem passar despercebidos e eu proponho
comemorarmos, apesar do pé atrás sempre necessário, de vez que sabemos
que as soluções para nossos problemas estruturais dependem mais daqueles
que os causam: governantes, parlamentares, promotores, policiais,
juízes e burocratas calhordas e larápios. É bom saber que a imagem de
acima de qualquer suspeita de Eduardo Campos, Sérgio Guerra e Aécio
Neves não passava de fachada de gesso mole, que não resiste a uma
investida pra valer de agentes da lei do bem. Melhor ainda é ver
desmoronar a farsa de Gleisi Narizinho, a miss da bancada do chororô na
Comissão do Impeachment, e seu maridão, Paulo Bernardo – ela agindo às
claras no Senado e ele mexendo cordéis e pauzinhos na escuridão da
clandestinidade para furtar R$ 0,70 de cada servidor submetido a sua
tutela. A exposição da vocação inata para o crime de Marcelo Odebrecht
lembra aquelas bonequinhas faceiras de matronas russas (matriochkas) que
se reproduzem num quase sem fim, amém – as menores saindo de dentro das
maiores. Isso ocorre com tal desfaçatez que é o caso de comemorar o
aparecimento da última bonequinha, mas ficando sempre em dúvida se
outras sairão, ou não, desta no futuro, dependendo da trabalhosa e
profícua investigação da Lava Jato, ameaçada, mas hígida, como provam o
artigo de Modesto Carvalhosa publicado no Estadão velho de guerra e a
notícia do depoimento de Deltan Dallagnol na Câmara dos Deputados
suspeitos. Sim, a corrupção é um serial killer sorrateiro, e só será
extinta se e quando a conspiração generalizada de seus réus, futuros
réus e improváveis, ocultos, mas existentes, embora desconhecidos ou
ignorados, réus for descoberta e desmantelada. A gangue conta com
Torquato Jardim e Eliseu Quadrilha (apud ACM), membros do governo de
Temer, o Provisório, e o discurso de seu colega da Justiça em nada a
ajuda. Estes tempos são malvados e duros, mas são também muito
instrutivos, pelo que se vê ultimamente, não são?
BLOG DO ORLANDO TAMBOSI
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