Folha
“Foi a maior vergonha que já passei na vida”, relata a dona de casa, de 27 anos. Moradora de uma casa pequena e inacabada do Jardim Brasil, na zona norte de São Paulo, ela foi alvo de duas buscas da Polícia Federal por beneficiários de pagamentos do empresário Adir Assad, condenado na Lava Jato, investigado em CPI sobre o bicheiro Carlos Cachoeira e denunciado sob suspeita de lavagem em obra do governo de São Paulo.
Segundo quebras de sigilo feitas na Lava Jato, empresas de Assad repassaram dezenas de milhões de reais a firmas de laranjas, abertas em nomes de pessoas como a moradora do Jardim Brasil. Ela diz que seus dados foram fraudados para abrir uma fictícia “casa de sucos”, que recebeu R$ 1,87 milhão. Por medo, prefere não dar o nome.
Cinco empresas ligadas a Assad, consideradas de fachada, receberam repasses, em sua maioria de construtoras, que somam R$ 1,2 bilhão desde 2006 e repassaram recursos em volume parecido.
PADARIAS E MERCADOS
Os destinatários são firmas com nomes como “Salada Moderna Alimentos” e “Lanchonete Marciak”. A quebra de sigilo mostrou pagamentos de R$ 74 milhões a firmas formalmente registradas como padarias e mercadinhos na periferia de São Paulo.
Na Avenida Jardim Japão, na zona norte de São Paulo, três pessoas das quais os moradores nunca ouviram falar, com endereços em casas simples, receberam R$ 5 milhões.
O Ministério Público de São Paulo investiga os beneficiários finais dos repasses. Em fevereiro, o promotor Marcelo Mendroni denunciou Assad e mais cinco pessoas sob suspeita de lavagem de dinheiro desviado da ampliação da Marginal Tietê, obra do governo de São Paulo. Uma empresa dele, a Legend, recebeu de consórcios com obras do governo tucano, como o Rodoanel.
CONDENAÇÃO
Na Lava Jato, o empresário foi condenado em setembro sob suspeita de intermediar propina para funcionários da Petrobras.
Neste ano, Assad voltou a ganhar destaque com a delação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que o acusou de gerenciar o caixa dois da campanha de Dilma Rousseff em 2010.
O surgimento do nome de Assad na CPI do Cachoeira em 2012 fez a comissão frear a investigação, de acordo com o delator.
Entre os financiadores de empresas de Assad, está o grupo JBS, com R$ 1,9 milhão pagos em meio à campanha de 2010. Os maiores repasses vieram da construtora Delta, investigada na CPI do Cachoeira, com R$ 146 milhões. Em segundo lugar vem a Andrade Gutierrez, com R$ 126 milhões.
Assad saiu da cadeia em dezembro por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) e está em prisão domiciliar.
OUTRO LADO
Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro em 2015, o empresário Adir Assad negou envolvimento em irregularidades e afirmou que se afastou há anos das empresas suspeitas de operar propinas e caixa dois.
Ele sustentou na ocasião que as firmas tinham atividades e não eram de fachada.
O advogado dele, Miguel Pereira Neto, diz que a afirmação de Delcídio do Amaral “não tem coerência”.
O argumento de que Assad estava afastado das empresas foi rejeitado por Sergio Moro.
O governo de São Paulo diz que faz fiscalização permanente em seus contratos para garantir a boa gestão dos recursos públicos.
Procuradas, a Andrade Gutierrez, a JBS e a Delta não se manifestaram.
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