Cientistas querem saber o porquê do menino não apresentar má formação.
Mãe afirma que levou 'um choque' e que família ficou abalada com notícia.
A dona de casa Jaqueline Jessica Silva de Oliveira, de 25 anos, descobriu que estava grávida no ano passado. Ela já é mãe de Paulo, de 9 anos, e de Gabrielly, de 4 anos. Ao fazer os primeiros exames de ultrassom, ela recebeu a notícia de que teria um casal de gêmeos, que estavam em placentas diferentes. Durante os primeiros meses de gestação, ela lembra que teve alguns sintomas de doença como dor de cabeça, manchas nos braços e mãos e coceira.
Jaqueline e os filhos (Foto: Mariane Rossi/G1)
“Eu fiz o pré-natal normal. Aos sete meses, fui fazer o ultrassom de
rotina e a médica viu que a cabeça não estava compatível com o abdômen
da menina. Do menino estava tudo perfeito”, conta ela. A médica explicou
que a filha de Jaqueline nasceria com microcefalia.A microcefalia é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32 cm, segundo o Ministério da Saúde. Isso vale apenas para crianças nascidas com nove meses de gravidez. No caso de prematuros, esses valores mudam e dependem da idade gestacional. A notícia abalou a família. “Foi um choque. A gente não sabe o que é e o que vai enfrentar lá na frente. Eu fiquei muito triste”, conta ela.
Laura e Lucas nasceram no dia 17 de novembro de 2015, no hospital Guilherme Álvaro, em Santos. Apenas Laura nasceu com microcefalia. Logo após o nascimento, a mãe foi encaminhada para a Casa da Esperança, um centro de reabilitação de deficientes físicos e intelectuais. Laura tem acompanhamento semanal de neurologistas, ortopedistas, fisioterapeuta, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e a família também tem apoio psicológico.
“Algumas crianças estão tendo ganhos, em termos de adquirir etapas motoras. Outras estamos trabalhando também em qualidade de vida. A criança ficar posicionada de maneira confortável, dormir melhor, comer melhor, evitar ser medicada e evitar convulsões”, explica a neurologista.
Em 2015, a Casa da Esperança atendeu quatro crianças com microcefalia. Apenas em dois meses neste ano, a instituição já recebeu nove bebês com a má formação. Segundo a neurologista, sete dos nove casos deste ano podem ter alguma ligação com o vírus da zika. “Há o histórico das mães com manchas pelo corpo e exames de imagem que são muito característicos dos que estão sendo relacionados com o vírus da zika”, explicou.
Fisioterapeuta Vanessa orienta a mãe Jaqueline (Foto: Mariane Rossi/G1)
Os pesquisadores do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-tronco da USP
iniciaram, em janeiro deste ano, uma pesquisa para estudar as crianças
que nasceram infectadas pelo vírus da zika e entender, no caso dos
gêmeos, o motivo de um ter sido afetado pela má formação e o outro não.
Mais de 20 colaboradores participam da pesquisa comandada pelas
geneticistas Mayana Zatz e Maria Rita Passos Bueno.“Queremos saber o que protege a criança que nasceu normal. Precisamos entender o motivo de um ser afetado e o outro não. Vamos estudar, mas não é uma resposta que vamos ter logo. Primeiro, precisamos excluir a causa genética. Se a gente excluir, vamos focar no zika”, explicou Mayana.
Os pesquisadores irão viajar pelo Brasil nos próximos dois meses para coletar sangue e amostras de saliva dos bebês e das famílias de pelo menos cinco casos diferentes. Já está programada a ida para Recife, Salvador, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde há casos que serão estudados. Eles já estiveram em Santos para conversar com Jaqueline e coletar a saliva de Laura e Lucas. Em breve, eles devem retornar para obter mais dados e amostras de sangue dos gêmeos e da família.
Segundo Mayana, no caso dos gêmeos, várias hipóteses serão estudadas. “Ou entrou nas duas placentas mas não penetrou nas células, ou a quantidade do vírus não era suficiente para afetar duas crianças, ou o organismo daquele que não foi afetado teve alguma resistência. Conforme a pesquisa vai andando vamos abrindo novas questões”, explicou.
O resultado da pesquisa deve sair somente daqui um ano. Jaqueline, mãe de Laura, acredita que a pesquisa pode ajudar outras crianças no futuro e, por isso, resolveu colaborar com os especialistas. Jaqueline também conversa com outras mães que tiveram bebês com microcefalia para trocar experiências e leva Laurinha para receber o tratamento na Casa da Esperança duas vezes por semana, certa de que isso ajudará no desenvolvimento da filha.
“A gente dá um jeito nas outras coisas porque ela é prioridade. É bastante corrido para mim, mas tem minha mãe para ajudar. A gente fica esperançosa. Tem muita criança com microcefalia, de quatro anos, que está andando, falando, tendo uma qualidade de vida muito boa. Então, isso deixa a gente esperançosa, de que vai dar tudo certo lá na frente”, disse Jaqueline.
Jaqueline leva a filha Laura para receber tratamento em Santos (Foto: Mariane Rossi/G1)
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