quarta-feira, 30 de março de 2016

Governo colombiano e guerrilha ELN iniciam negociações de paz


Mesa de negociações será estabelecida no Equador.
Exército da Libertação Nacional é a segunda maior guerrilha ativa no país.

Da AFP
Chefe de negociações do governo colombiano, Frank Pearl, e líder da ELN, Antonio Garcia, concordam em iniciar negociações de paz em Caracas, na Venezuela (Foto: FEDERICO PARRA / AFP)Chefe de negociações do governo colombiano, Frank Pearl, e líder da ELN, Antonio Garcia, concordam em iniciar negociações de paz em Caracas, na Venezuela (Foto: FEDERICO PARRA / AFP)
O governo colombiano e a guerrilha do Exército da Libertação Nacional (ELN) anunciaram nesta quarta-feira (30) em Caracas o início de um processo de paz, para o qual instalarão uma mesa de negociações no Equador.
As partes decidiram "instalar uma mesa pública de negociações para abordar os pontos que são estabelecidos na agenda, com o objetivo de assinar um acordo final para terminar com o conflito armado e acordar transformações em busca de uma Colômbia em paz e equidade", afirmou uma declaração lida pelos chefes das delegações: Frank Pearl, por parte do governo, e Antonio García, pela ELN.
Essa mesa será estabelecida no Equador, enquanto que as sessões de diálogo serão realizadas na Venezuela, Chile, Brasil e Cuba, que, junto com a Noruega, são fidadores do processo.
Atualmente, o ELN é a segunda guerrilha colombiana depois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com 1.500 combatentes, segundo o governo, e centra sua influência nas zonas mineradoras e petroleiras do país.
O ELN realizou, sem sucesso, no passado tentativas de paz: uma no início dos anos 1990 com o então presidente César Gaviria (1990-94), e outra durante o governo de Álvaro Uribe (2002-2010), atualmente senador.
Fase sigilosa
Seu comandante, Nicolás Rodríguez Bautista, mais conhecido como "Gabino", pertence ao grupo rebelde desde que era um menino de 12 ou 13 anos, e promoveu sob sua liderança uma agenda nacionalista e centrada no controle dos recursos naturais do país.
Integrante do Comando Central (COCE) do ELN junto aos comandantes Eliécer Herlinton Chamorro Acosta ("Antonio García"), Israel Ramírez Pineda ("Pablo Beltrán"), Gustavo Aníbal Giraldo Quinchía ("Carlos Marín Guarín" ou "Pablito") e "Ariel", todos na clandestinidade, "Gabino" reiterou em várias ocasiões seu desejo de iniciar negociações de paz com o governo.
As discussões na fase sigilosa com os representantes do presidente Juan Manuel Santos tiveram início em janeiro de 2014, mas há apenas algum tempo alcançaram um mapa da paz para instalar uma mesa formal de negociações.

Acordo com as Farc
O governo colombiano negocia desde 2012 em Havana, Cuba, um acordo de paz com as Farc, o maior movimento rebelde do país. Os analistas acreditam que, devido às diferenças de prioridades, as negociações com o ELN e com as Farc devem ser conduzidas em processos de paz paralelos.

O acordo de paz com as Farc deveria sair no último dia 23 de março, mas as partes não chegaram a um acordo quanto ao desarmamento do grupo.
O diálogo de paz se estancou em meados de fevereiro, após as Farc realizarem um encontro com guerrilheiros armados na região de El Conejo, em La Guajira, no norte do país.
O governo e as Farc debatem atualmente o espinhoso ponto do fim do conflito, mas não conseguem chegar a posições comuns em aspectos-chave como a definição de zonas de concentração dos guerrilheiros para a entrega das armas ou os prazos deste processo.

Inspiração
A guerrilha colombiana do ELN nasceu inspirada na revolução cubana e marcada por uma forte influência religiosa.
O Exército da Libertação Nacional (ELN, guevarista), surgido em 1964, tem entre seus fundadores e figuras mais emblemáticas os sacerdotes Camilo Torres (1929-1966) e Manuel Pérez (1943-1998), expoentes da Teologia da Libertação (TL), uma corrente nascida dentro da Igreja católica na América Latina com ênfase na aproximação com os pobres.
Mas, além desses religiosos, e de outros seguidores da Teologia, este grupo guerrilheiro é formado desde o início por setores universitários e membros radicais do Partido Liberal colombiano, seguidores de Ernesto "Che" Guevara.
Segundo fontes militares, o ELN tem forte influência em diferentes zonas da Colômbia, em particular fronteiriças com a Venezuela, como os departamentos de Arauca (leste) e Norte de Santander (nordeste), e com o Equador, como Nariño (sul), e também no centro do país, em Casanare, Boyacá e sul de Bolívar, assim como no Chocó (noroeste) e Cauca (sudoeste).
E, apesar de décadas atrás esta guerrilha se negar a ser financiada pelo narcotrráfico, relatórios acadêmicos e militares envolveram o ELN no cultivo de folha de coca e produção de cocaína. Também foi assinalado como intermediário no desenvolvimento da lucrativa mineração ilegal.
Por outro lado, o ELN sequestrou nos últimos anos funcionários de multinacionais mineradoras e petroleiras, e cometeu atentados contra infraestruturas desses setores, para protestar contra a exploração por companhias estrangeiras dos recursos naturais do país.

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