Folha
Mesmo contrária ao impeachment, Luciana Genro, uma das principais lideranças do PSOL, afirma que o governo Dilma busca se fortalecer tentando convencer a população de que há uma situação de golpe ou de ameaça à democracia por conta das investigações da Lava Jato.
“Os líderes do PT estão tentando convencer —e alguns setores foram convencidos— de que há uma ameaça à democracia, ao estado democrático de direito. Quando na realidade não é isso”, afirma a ex-petista, quarta colocada na disputa pela Presidência no ano passado, com 1,6 milhão de votos –1,55% do total.
“Não estamos em uma situação de golpe, onde haja o risco de assumir um governo que vai restringir as liberdades individuais, que vá censurar, que vá prender, que vá torturar. Há uma tentativa do governo se fortalecer apelando para esse espírito democrático das pessoas e esse medo”, diz.
Defensora de novas eleições, ela diz que o PSOL e “a direita de Jair Bolsonaro” (deputado federal e presidenciável pelo PSC) vão se beneficiar com a crise e disputar os votos da classe média.
A senhora aparece com 3% da intenção de votos no último Datafolha…
A pesquisa mostra uma insatisfação muito grande com o governo e que o PSDB, por mais que tente, não está, felizmente, conseguindo capitalizar toda essa insatisfação. Nomes como o da Marina [Silva], em maior medida, e o meu, em menor medida, acabam recebendo uma parte importante da insatisfação… Acredito que há um espaço importante para a construção de uma terceira via, que burla essa polarização entre PSDB e PT.
A senhora será candidata em 2018?
Ainda não podemos falar de 2018 porque não é possível saber o que vai acontecer no Brasil até lá. Se vamos ter eleições em 2018 ou se vamos ter eleições agora. O impasse político que está colocado é muito profundo e só vai se resolver positivamente se tivermos novas eleições, tanto para presidente, como para o Congresso. A saída que está se desenhando é o impeachment da Dilma com a ascensão do Temer. É uma saída totalmente reacionária porque derruba um governo que está, de fato, sem legitimidade, mas coloca no poder um vice-presidente que não só não tem legitimidade nenhuma, como tem um projeto político e econômico ainda mais reacionário do que este que está em curso. Essa necessidade de devolver a soberania para o povo me parece muito evidente no impasse político que a gente vive. Não falaria de 2018, mas as eleições municipais, sim, têm de alguma maneira expressar esse descontentamento popular e essa luta pela construção de uma terceira via.
Como seria o processo de uma nova eleição?
Há várias possibilidades: como um referendo revogatório, que é uma proposta que já existe no Congresso, nos projetos do [ex-senador Eduardo] Suplicy (PT) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede), que decidiria a continuidade do governo ou novas eleições. Ou a própria Dilma, com o poder que ainda lhe resta – em vez de usar esse poder para abafar a Lava Jato com a ajuda do PMDB e do PSDB –, pode enviar ao Congresso uma emenda constitucional antecipando as eleições. Mas não só para a Presidência, para o Congresso também. O Cunha, ao meu ver, deveria estar preso.
Há indícios contra Dilma para um impeachment?
O PSOL não vai votar a favor do impeachment porque é uma manobra da direita para levar o Temer ao poder e garantir que esses ajustes contra o povo, e em favor dos interesses do mercado financeiro, sejam efetivados com mais força. Mas também não fazemos eco ao “fica, Dilma!”, simplesmente. Para nós, a Dilma ganhou as eleições defendendo outra política econômica e não está honrando os votos que ela recebeu. A maior expressão disso é o descontentamento popular, que as próprias pesquisas demonstram. A melhor saída seria nem Dilma, nem Temer, nem Cunha, nem Renan. Todos esses estão comprometidos e não servem para conduzir o país e, por isso, a necessidade de novas eleições. Essa é uma opinião minha. Mas há o consenso de que a gente não pode ser linha auxiliar nem do governo nem da direita, precisamos construir essa terceira via.
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