quinta-feira, 31 de março de 2016

Cartão de crédito é apontado como o grande vilão

Dívida atormenta 60% das famílias baianas


por
Adilson fonsêca
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
“Passe R$ 600 no cartão de crédito e leve R$ 500 em dinheiro”. O anúncio é tentador para quem está com a corda no pescoço, e pode ser encontrado em qualquer lugar no centro da cidade, afixado em postes, distribuídos na forma de folhetos nos ônibus e até mesmo na propaganda boca a boca. Sem qualquer outra exigência como SPC e Serasa, exige apenas o pagamento de uma taxa de juros mensal de 20%.
Numa situação em que o percentual de famílias com dívidas atingiu mais de 60%, segundo pesquisa da Federação do Comércio no Estado da Bahia (Fecomércio), o dinheiro aparentemente fácil, mesmo tomado a juros elevados, tem sido a solução para quitar dívidas imediatas. Segundo a pesquisa da Fecomércio, o percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou em relação a fevereiro e manteve a tendência de alta também em relação ao ano passado.
Já para quem tem dívidas e admite não ter condições de quitá-las, também cresceu em março. Ainda segundo a pesquisa, as maiores dívidas são relativas ao uso do cartão de crédito. Esse percentual dos que têm dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal e prestação de carro alcançou 60,3% em março deste ano, registrando um aumento em relação aos 59,6% registrados em março do ano passado.
Toda essa situação, conforme explicou  o 1º vice-presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia, Kelsor Fernandes, decorre da incerteza dos rumos da economia, com a ameaça de desemprego e diminuição da renda das famílias. “O inadimplente é aquele que fica 90 dias sem pagar suas dívidas. Mas existe um percentual cada vez maior de pessoas que admitem que não têm como pagá-las. E isso reflete na queda do consumo e nos demais setores da atividade econômica”, disse.
Sem saída
No último relatório da Federação das Câmaras Dos Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL), verificou-se que em fevereiro, o número de dívidas em atraso da população baiana cresceu 8,88% em relação a fevereiro de 2015. Já o número de consumidores inadimplentes cresceu 7,01% em fevereiro de 2016, em relação a fevereiro de 2015. O que preocupa a CDL, conforme deixou claro o presidente da entidade no Estado (FCDL), Antoine Tawil e que em fevereiro cada consumidor inadimplente na Bahia tinha em média 2,033 dívidas em atraso.
Já o presidente do Sindicato dos Lojistas na Bahia, Paulo Mota, mostrou-se extremamente preocupado com as perspectivas da economia. Para ele o País como um todo vive uma paralisia, que atinge o empresariado e o consumidor. “Não só o consumidor, mas lojistas estão sem liquidez. O dinheiro acabou e o crédito torna-se  cada vez mais difícil e caro”, disse.
Na pesquisa da Fecomercio para março deste ano, verifica-se que o percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes chegou a 8,3% dentre os mais de 60% que têm dívidas em atraso.  Entre as famílias que ganham até dez salários mínimos, o percentual das que têm dívidas foi de 61,4% em março de 2016. Em março do ano passado esse percentual foi de 60,5%.
Já entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos, o percentual daquelas endividadas passou de 53,2%, em fevereiro de 2016, para 54,4%, em março de 2016. Em março de 2015, o percentual de famílias com dívidas nesse grupo de renda era de 55,0%. Na análise por faixa de renda do percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso houve alta na faixa de maior renda, atingindo 3,2% em março de 2016.
No grupo das famílias com renda até dez salários mínimos, o percentual de famílias sem condições de quitar seus débitos foi de 9,6%, em março de 2016, um aumento de 2,4% em relação a março de 2015.  Na comparação entre março de 2015 e março de 2016, a parcela que declarou estar mais ou menos endividada passou de 21,7% para 21,4%, e a parcela pouco endividada passou de 27,3% para 24,5% do total de famílias.
Cartão de crédito é apontado como o grande vilão
Para quem está endividado, não se leva em conta o juro do cheque especial ou do cartão de crédito na hora de conseguir no dinheiro emergencial para quitar aquela dívida mais em evidência. Em março, o juro cobrado no cheque especial chegou a 293,9% ao ano e o dos cartões de crédito a 447,5%. Na prática, significa que R$ 1 mil tomado como adiantamento no cheque especial vai valer quase três vezes mais ao final de um ano. Quitar uma dívida imediata e contrair uma dívida de longo prazo e muito maior, como explica o presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia, Paulo Mota, ao se referir ao que vem acontecendo com boa parte dos comerciantes de Salvador, que precisam ter dinheiro circulante para movimentar seus negócios.
Consumidores
Essa prática, contudo, acomete principalmente o consumidor, como demonstraram os dados da pesquisa da Fecomércio, em que mostraram que o cartão de crédito foi apontado como um dos principais tipos de dívida por 77,3% das famílias endividadas, seguido de carnês, por 16,7%, e, em terceiro, de financiamento de carro, por 12,0%. “Com os nomes negativados, essas famílias não fazem crediário e ficam de fora do mercado consumidor”, diz Mota.
No grupo de famílias com renda até dez salários mínimos, o cartão de crédito respondeu por 78,3% das dívidas, seguido das dívidas em carnês com por 18,3%, e o crédito pessoal, por 10,4%, considerados os principais tipos de dívidas dessas famílias. Já entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos, os principais tipos de dívida apontados em março de 2016 foram: cartão de crédito, por 72,8%, financiamento de carro, por 23,7%, e financiamento de casa, por 15,7%.
Com a crise econômica, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) também caiu 1,6% (77,5 pontos) na comparação com fevereiro de 2016 e registrou queda de 29,9% em relação a março de 2015. O índice indica uma percepção de insatisfação com a situação atual. E isso se refletiu nas vendas no comércio varejista que iniciaram o ano com queda de 10,3% em janeiro desse ano comparativamente a janeiro de 2015. de 2003.

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