quarta-feira, 2 de março de 2016

A universidade como campus avançado das ideologias


Escrevi este post em 2007, ainda na universidade. Lamento dizer que, de lá para cá, as coisas só pioraram, mas o diagnóstico, em relação ao ensino superior, foi ao ponto, principalmente na crítica aos relativismos hoje imperantes - tanto no ensino médio quanto nas instituições de ensino superior. O lulopetismo foi e é, de fato, uma desgraça para o Brasil:

O Brasil virou mesmo um país de mentes pasteurizadas pela ideologia. Cinco anos de governo lulo-petista bastaram para que tudo fosse virado pelo avesso. Se você defende as liberdades e a democracia, é tachado de "direitista" ou "conservador" (quando as defendia durante a ditadura, era considerado de "esquerda"). Se você defende a ciência, é logo carimbado de "positivista", membro dessa tribo antiquada que acredita na existência de fatos objetivos e, ainda mais absurdo, que tais fatos sejam acessíveis e explicáveis por teorias independentes dos observadores. E se leva a lógica a sério, então, você é um "reacionário" consumado, vítima do raciocínio "burguês".

Isto não acontece no bar da esquina, claro, mas dentro das universidades, particularmente nas ciências humanas/sociais. Seus alunos já vêm ideologicamente embalados do segundo grau, mas ao invés de desenvolverem um pensamento crítico e racionalista, recebem nos campi nova tintura ideológica. Ali, professor "legal" é aquele que reforça as convicções do alunado, não aquele que o incomoda com reflexão. E há muitos mestres, nesse teatrinho, que jamais contrariam aquilo que a platéia espera.

Onde impera o relativismo, tanto no campo cognitivo quanto na esfera dos valores, o mundo passa a ser aquilo que a hermenêutica pós-moderna diz que é. A grama das praças, por exemplo, pode ser vermelha, dependendo apenas do ponto de vista do sujeito. As palavras já não se referem à realidade, mas são a própria realidade - e nada existe fora da linguagem!

Se há dissenso em relação à racionalidade e às ciências, há consenso em torno de algumas pautas, a começar pelo ecologismo, que é quase uma nova religião. Não ouse duvidar que o maldito "ser humano" seja o único responsável pelo "Aquecimento Global", esta entidade com que os novos apocalípticos ameaçam o planeta. Não ouse contestar que a "globalização" seja uma invenção do imperialismo para dominar a "periferia". E nem ouse negar que "outro mundo é possível", bem além da "lógica capitalista" e das "leis do mercado". Sobretudo, veja no Estado dirigente e regulador o justiceiro das classes populares, o remédio eficaz para todos os males do "neoliberalismo". Defenda sempre mais Estado, nunca menos.

Por fim, considere calunioso aquilo que o escritor Mário Vargas Llosa, obviamente um liberal, definiu como "idiotice latino-americana". Essa idiotice "postiça, deliberada e de livre-escolha", diz ele, "é adotada conscientemente por preguiça intelectual, apatia ética e oportunismo civil. É ideológica e política, mas acima de tudo frívola, pois revela uma abdicação da faculdade de pensar por conta própria, de cotejar as palavras com os fatos que pretendem descrever, de questionar a retórica que faz as vezes de pensamento. Ela é a beatice da moda reinante, o deixar-se levar sempre pela corrente, a religião do estereótipo e do lugar-comum."
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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