Leonardo Morais
Na “Carta de Indignação da População Valadarense” que será enviada às autoridades e à ONU junto com um abaixo assinado, a população cobra a apresentação de projetos de recuperação da Bacia do rio Doce e a imediata captação alternativa de água nos rios Suaçui Grande e Pequeno. A autorização para início das obras teria sido concedida pelos órgãos técnicos governamentais logo após o desastre ambiental.
Os manifestantes também pedem a volta da distribuição gratuita de água mineral pela Samarco, enquanto não houver captação de água em outro manancial. A distribuição foi suspensa dia 22 de janeiro com a alegação de que a água tratada e distribuída pelo Saae está potável. Mas segundo a presidente da Associação Valadarense de Defesa ao Meio Ambiente (Avadma), advogada Rosamélia Apolinário, a população está bebendo lama.
“A água que sai das torneiras é de qualidade duvidosa e a população precisa se unir para cobrar das autoridades constituídas as providencias. Não podemos aceitar isso. A população precisa acordar, vir para as ruas e se mobilizar. Não somos cachorros. A Samarco vai ter que reparar os danos causados, parar de fazer propaganda enganosa e cuidar da população, porque do contrário, seremos uma população doente em poucos anos”, enfatiza.
O professor Ilvece Cunha, de 73 anos, um dos manifestantes, concorda. “Estão promovendo um genocídio, matando lentamente a população e nós, ao pagar a conta de água, estamos pagando para nos matarem. Estudos comprovam que a água do rio tem metais pesados e eu soube também que o coagulante (polímero de acácia negra) usado para tratar essa água distribuída à população pode até deixa-la branquinha, mas não pura”.
Na Carta os manifestantes alegam que “diversos estudos técnicos e laudos apontam que o tratamento realizado não elimina os metais pesados existentes na lama, a exemplo de estudo pela Federação Nacional dos Médicos, que aponta a possibilidade de câncer e outras doenças para a população que utilizar a água, a longo prazo”. Também denuncia a omissão dos órgãos governamentais nas três esferas federativas, União, Estado e Município, diante do problema.
Samarco
Em nota a Samarco informou que foram distribuídos 74 milhões de litros de água potável e 30 milhões de litros de água mineral à população do município desde o início do processo, em novembro de 2015. O tratamento de água foi restabelecido desde o dia 15 de novembro de 2015 e a água do Saae fornecida à população está dentro dos padrões de potabilidade definidos pela Portaria 2.914 de 2011, do Ministério da Saúde. “A população de Governador Valadares pode acompanhar a variação diária dos parâmetros de ferro, alumínio, manganês e turbidez em cinco painéis eletrônicos instalados na cidade, e também pelo site www.samarco.com”, avisa.
Sobre a nova estrutura para captação de água, alega que é uma demanda antiga da população que vem sendo discutida há alguns anos, principalmente em função da seca e do assoreamento do Rio Doce que dificultava a captação em determinados períodos do ano.
Tanto que em agosto de 2015, a Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou que, na estação de Valadares, o nível do Rio Doce estava em 1,06 metro, quando a faixa considerada normal é entre 1,27 metros e 3,09 metros. Nessa época, informa anota da Samarco, cogitou-se a possibilidade de readequar a forma de captação de água no rio, uma vez que a água não tinha altura suficiente para chegar à bomba de captação.
“Uma adutora de captação alternativa de água do Rio Suaçuí Grande para a Estação de Tratamento de Água (ETA) em Valadares está em estudo pela Prefeitura, Saae e Samarco”, conclui.
A assessoria do Saae não foi encontrada para falar sobre a manifestação, mas desde que a água voltou a ser captada no rio Doce, tem divulgado que diversos laudos, entre eles da Funed e Copasa, compravam a eficácia do tratamento e a potabilidade da água tratada distribuída à população.
De acordo com a Polícia Militar, cerca de 150 pessoas participaram do protesto.
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