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Pe. José
Eduardo de Oliveira e Silva
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Trata-se
de uma ação coordenada e inteligente para bloquear a resistência religiosa à
Nova Ordem Mundial pela via da estigmatização verbal: qualquer tipo de pretensão
pública da religião ou das pessoas religiosas deve ser taxada implacavelmente
como “fundamentalista”
Quando você expõe um argumento racionalmente, com todo
rigor metodológico, apresentando fontes primárias, documentação farta, e o seu
interlocutor lhe fixa o rótulo de “fundamentalista”, inicialmente você tolera,
mas depois começa a desconfiar que a recorrência da ideia não é
casual…
De fato, hoje em dia, quanto mais uma pessoa repete
chavões como quem pontifica infalivelmente, respaldado pelo chorum uníssimo da coletividade, mais é
necessário averiguarmos qual a origem do bordão, essa sim, quase sempre
infalivelmente ignorada pelo acusador.
O termo em questão foi uma invenção de teólogos
conservadores presbiterianos e batistas que, por volta de 1910, para se
distinguirem de teólogos “liberais”, acabaram por se autodenominarem
“fundamentalistas”.
Contudo, a noção de “fundamentalismo” sofreu uma
mutação, e esta sua nova acepção foi criada propositalmente para liquidar com a
resistência religiosa ao secularismo-laicismo imposto pelos agentes globalistas
com sua nova ética relativista.
Numa obra muito conhecida sobre o tema, Karen Armstrong
afirma que o “fundamentalismo” é um fenômeno recente, característico do final do
século passado.
“Um dos fatos mais alarmantes do século XX foi o
surgimento de uma devoção militante, popularmente conhecida como
‘fundamentalismo’, dentro das grandes tradições religiosas. Suas manifestações
são às vezes assustadoras. Os fundamentalistas não hesitam em fuzilar devotos no
interior de uma mesquita, matar médicos e enfermeiras que trabalham em clínicas
de aborto, assassinar seus presidentes e até derrubar um governo forte. Os que
cometem tais horrores constituem uma pequena minoria, porém até os
fundamentalistas mais pacatos e ordeiros são desconcertantes, pois parecem
avessos a muitos dos valores mais positivos da sociedade moderna. Democracia,
pluralismo, tolerância religiosa, paz internacional, liberdade de expressão,
separação entre Igreja e Estado – nada disso lhe interessa” (Karen
Armstrong, Em nome de Deus. O Fundamentalismo
no judaísmo, no cristianismo e no islamismo, Companhia das Letras, São
Paulo, 2009, p. 9).
Pouco mais abaixo, a autora explicita ainda mais o
motivo pelo qual seria necessário enquadrar os tais “fundamentalistas”: “Em
meados do século XX acreditava-se que o secularismo era uma tendência
irreversível e que nunca mais a fé desempenharia um papel importante nos
acontecimentos mundiais. Acreditava-se que, tornando-se mais racionais, os
homens já não teriam necessidade da religião ou a restringiriam ao âmbito
pessoal e privado. Contudo, no final da década de 1970, os fundamentalistas
começaram a rebelar-se contra essa hegemonia do secularismo e a esforçar-se para
tirar a religião de sua posição secundária e recolocá-la no centro do palco”
(Ibidem, p. 10).
Em outras palavras, a preocupação fundamental da autora
é assegurar aos agentes secularistas que continuem expandindo-se vorazmente,
corroendo as raízes religiosas do ocidente, confinando os “religiosos” em sua
intimidade até que os mesmos sejam totalmente aniquilados, e o homem pós-moderno
possa continuar sendo alvo de um projeto pseudo-civilizatório
irreligioso.
“No início de seu monumental Projeto Fundamentalista, em seis volumes,
Martin E. Marty e R. Scott Appleby afirmam que todos os ‘fundamentalismos’
obedecem a determinado padrão. São formas de espiritualidade combativas, que
surgiram como reação a alguma crise. Enfrentam inimigos cujas políticas e
crenças secularistas parecem contrarias à religião. Os fundamentalistas não vêem
essa luta como uma batalha política convencional, e sim como uma guerra cósmica
entre as forças do bem e do mal. Tentam aniquilá-lo e procuram fortificar sua
identidade sitiada através do resgate de certas doutrinas e práticas do passado.
Para evitar contaminar-se, geralmente se afastam da sociedade e criam uma
contracultura; não são, porém, sonhadores utopistas. Absorveram o Racionalismo
pragmático da modernidade e, sob a orientação de seus líderes carismáticos,
refinam o ‘fundamental’ a fim de elaborar uma ideologia que fornece aos fiéis um
plano de ação. Acabam lutando e tentando ressacralizar um mundo cada vez mais
cético” (Ibidem, p. 11).
A obra citada por Karen Armstrong é a maior enciclopédia
sobre o “fundamentalismo”, composta em cinco volumes, escrita ao longo de
quatro anos e conduzida sob os auspícios de – nada mais, nada menos que – a Fundação MacArthur, que patrocina centenas de
projetos de pesquisa científica.
Trata-se de uma ação coordenada e inteligente para
bloquear a resistência religiosa à Nova Ordem Mundial pela via da estigmatização
verbal: qualquer tipo de pretensão pública da religião ou das pessoas religiosas
deve ser taxada implacavelmente como “fundamentalista”.
Para eles, a religião deve ser aprisionada na vida
privada, até desaparecer por completo. Toleram momentaneamente conviver com ela,
desde que se restrinja à intimidade de cada indivíduo e não tenha nenhuma
incidência na coletividade. E tudo em nome de um secularismo que precisa se
impor, a despeito da reação espontânea do povo, que anseia pela transcendência,
pela espiritualidade.
O pior é que muitos que se presumem espertos, até mesmo
dentro da Igreja, acabam por apregoar justamente este conceito, construído para
exterminá-los. Caíram numa armadilha preparada justamente para não ser
percebida, e caíram feito patinhos. Sucumbiram à sua própria ausência de
fundamentos e, chamando os outros de “fundamentalistas”, não perceberam que
foram induzidos a fazê-lo e que o uso indiscriminado do termo “fundamentalismo”
favorece unicamente um esquema de poder.
Pe. José Eduardo, Doutor em Teologia Moral e pároco da Diocese de
Osasco. |
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