Leonardo Morais/Hoje em Dia
Mesmo com as intensas chuvas, Rio Doce continua tingido de lama
De acordo com a Fenam, o resultado laboratorial das amostras de água coletadas no rio Doce, em Minas Gerais, apontou níveis acima dos aceitáveis de metais pesados. Foram encontrados alumínio, ferro e mercúrio, entre outros. As análises foram feitas em dez pontos diferentes de Governador Valadares, área de 1.424 kms de extensão.
As amostras da água foram coletadas nos dias 16 e 17 de dezembro de 2015, pelo laboratório independente Água e Terra. O estudo foi custeado pela Fenam, em parceria com o Sindicato dos Médicos de Governador Valadares. Para o presidente da entidade, Otto Baptista, as taxas encontradas são alarmantes.
Uma das amostras colhida em 16 de dezembro, no Bairro Capim, teria apresentado valores de chumbo 300% acima do limite estabelecido como aceitável pela legislação vigente. Para se ter uma ideia, a quantidade de alumínio encontrada foi de 0,58 miligramas e o máximo permitido é 0,01 miligrama - um número quase seis vezes maior que o considerado seguro.
Em outra inspeção, os índices de mercúrio em um dos pontos ultrapassavam 13 vezes o que seria tolerável. Com base nesses dados, a Fenam alerta a população que o contato com a água bruta é perigosa e que a preocupação dos médicos não é exagerada: a intoxicação por metais pesados pode provocar danos por todo o organismo em curto e em longo prazo.
“A questão é que os efeitos dos metais pesados também podem levar décadas para se manifestar. Na maioria das vezes, a contaminação é cumulativa e ocorre ao longo dos anos por meio da ingestão de água ou alimentos plantados em solos impróprios. Os metais pesados não somem do dia para a noite”, denuncia Baptista.
O alerta da entidade médica, segundo o presidente, é evitar que o maior desastre ambiental do país se transforme em uma tragédia de saúde pública e para isso, sugere que controle seja contínuo.
“Precisamos que as populações que vivem nas áreas afetadas passem por um monitoramento contínuo pelos profissionais de saúde que estão na ponta, no posto de saúde e nas emergências. Os profissionais devem estar capacitados para levarem em consideração nas manifestações clínicas a presença destes elementos, para não serem surpreendidos e não associarem ao desastre de Mariana”, alerta.
Samarco
A Samarco informou que, segundo os relatórios do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), os altos níveis de alumínio, arsênio, cromo, níquel e mercúrio já eram verificados no rio Doce antes do acidente.
E que dados atuais do monitoramento de Valadares, por exemplo, já mostram valores de todos esses metais dentro dos limites da legislação brasileira (Conama 357, classe II) e/ou dos dados históricos.
No caso do alumínio, dados mais atuais, de 28 de janeiro, mostram valores muito próximos a média histórica do Igam e mais de 15 vezes inferiores ao valor máximo já identificado pelo instituto em seu monitoramento.
“Em resumo, os resultados mais atuais apresentados mostram que, em estações ao longo do rio Doce nos anos de 2010 e 2015, as diferenças verificadas nas amostras de água são pequenas, quando existem. A metodologia das análises utilizada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) segue procedimentos técnicos internacionais”, diz nota da mineradora.
De acordo com o documento, o relatório do Igam demonstra que todos os parâmetros encontrados na água podem ser devidamente tratados pelas companhias de saneamento ao longo do rio Doce para tornar a água compatível com os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 2914 do Ministério da Saúde.
“E os laudos de potabilidade emitidos por laboratórios diversos (todos com certificação do Inmetro) atestam a qualidade da água, atendendo a referida portaria e não apresentando riscos à sociedade”, diz a nota onde a mineradora reitera que realiza, diariamente, o monitoramento da turbidez do rio, inclusive da região de Valadares.
Esse monitoramento, informa a Samarco, gera informações importantes para as equipes de operação das estações de tratamento de água ao longo do rio Doce. Diz ainda que, em parceria com as entidades competentes, está executando um plano abrangente de monitoramento da qualidade da água doce e marinha.
São 85 pontos de monitoramento, sendo 57 na bacia do Rio Doce e 28 no oceano, que se estendem por mais de mil km. Já teriam sido analisados mais de 570 mil parâmetros de qualidade da água e sedimentos, distribuídos em mais de 23 mil laudos.
“Com esses dados, a Samarco mapeia a evolução da qualidade da água e a quantidade de sedimentos na região do Rio Doce, e planeja mais adequadamente suas ações de recuperação ambiental. Ao todo, uma equipe de cerca de 330 empregados, incluindo próprios e terceiros, atuam diretamente nessa frente de trabalho”.
Alumínio
No organismo causa cólicas abdominais, náuseas, fadiga, raquitismo, alterações neurológicas com graves danos ao tecido cerebral. Na infância pode causar hiperatividade e distúrbios do aprendizado. Inúmeros estudos consideram que o alumínio tem um papel extremamente importante no agravamento do mal de Alzheimer. O excesso de alumínio interfere com a absorção do selênio e do fósforo.
Chumbo
Chumbo se deposita no cérebro, nos ossos e nos rins. Em crianças, pode levar a retardo mental. Também leva a fraqueza, dores musculares, sabor estranho na boca, dor de cabeça, irritabilidade, tremores, queda da libido, entre outros.
Mercúrio
Está ligado a problemas sérios no cérebro e tem repercussões nos sistemas digestivo e infecções frequentes, pois afeta o sistema imunológico. É especialmente nocivo durante a gestação: bebês podem nascer com doenças neurológicas. Causa ainda dores nas articulações, alterações de coordenação e visão, perda de memória recente e dificuldade em concentração.
Ferro
Uma dose de ferro excessiva pode ser grave ou inclusive mortal. Pode causar diarreia, vômitos, aumento do número de glóbulos brancos e um alto valor de glicose no sangue.
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