A
origem do Carnaval antecede à Era Cristã. Tudo começou na Itália, com o nome de
Saturnálias - em homenagem a Saturno, o Tem. Com a expansão do Império
Romano, as festas foram disseminadas - com bacanais inimagináveis! Será por
isso que a festa expandiu-se tanto?
No
dialeto milanês, os italianos adotaram a palavra "Carnavale" que significa
"o tempo que se tira o uso da carne", numa espécie de abuso da carne antes
da Quaresma. E o tempo passou...
Conta a "lenda" que no
início do século 20, próximo ao domingo anterior à Quaresma, o baiano "entrudava"
- eram brincadeiras pesadas, onde se jogava balde de água, frutas, areia, etc.
Cordões, blocos e a sociedade mais despojada concentravam-se na Baixa dos
Sapateiros para fazer manifestações. Os negros, mascarados, molhavam quem
estivesse nas ruas, invadiam casas e todos entravam na folia. Na metade do
século 18, o Entrudo passou a ser reprimido pela polícia. Nesta época, o Carnaval
começou a se dividir em Carnaval de
Salão e de Rua - dando no que deu!
Na década de 50 que o Carnaval
começa a tomar corpo de festa popular; com foliões brincando e se divertindo
atrás de carros de som - agora a "lenda" toma forma real quando uma
caminhonete fubica, com alguns aparelhos de som, sai pelas ruas tocando, sem
que a população entendesse muito bem o que era aquilo! Dois caras
supercriativos, Adolfo Antônio (Dodô) e Osmar Macedo (Osmar), proprietários de
uma oficina, decoraram uma Ford 1929, montaram uma fonte ligada a uma corrente
de bateria que alimentava alguns alto-falantes, e a dupla de
"malucos" saiu no domingo de Carnaval pelas ruas de Salvador
arrastando milhares de pessoas. Uma placa identificava o Ford: "Dupla
Elétrica"! Um dia depois, eles convidaram um amigo pra se associar à
dupla, surgindo assim o "Trio Elétrico"! Aí a coisa começou a pegar...
A cada ano que passava, a festa
crescia, a população estremecia e a prefeitura começou a promover concursos de rainha,
de trios e de outras agremiações. O trio passou a caracterizar o Carnaval da
Bahia . Ano após ano, os trios foram se profissionalizando, e até a metade dos
anos 70 embora já enormes eram ainda instrumentais.
Em 1975, Caetano
cantou "Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu" e o Brasil
ficou atento àquele tipo de música. Moraes
Moreira, em 1978, canta pela primeira vez em cima de um trio elétrico a música
"Assim pintou Moçambique - o povo foi à loucura, iniciando-se uma nova
fase do Carnaval baiano.
Mas foi em 1985 que os baianos novamente se
surpreenderam com uma nova modalidade de som, ritmo e dança: o Fricote de Luís
Caldas fez balançar uma multidão - surgindo aí o Axé. O ritmo alucinante rapidamente
se espalhou pelo Brasil. E o Carnaval baiano, que era basicamente de baianos,
passou a ser de brasileiro
O conjunto da obra, tendo o trio
elétrico como ator principal, passou das ruas para os blocos, dos blocos para
os camarotes, são adaptações necessárias à renovação, e a criatividade vem dos
pés das mulheres - antes era tênis - hoje elas usam plataformas, a elegância
predomina, como diz meu amigo, Clínico Bastos.
s e estrangeiros. A partir de então, novos artistas,
músicas, blocos e ritmos surgiram para "infernizar mais ainda esses festeiros
e loucos baianos.
O Carnaval da Bahia transformou-se em um espaço múltiplo: hoje
reina na terra do Axé, a maior democracia musical do planeta, a diversidade abraçou
a música afro, o samba-reggae, pagode, forró, brega, rock, sertanejo, quaisquer
tipo de música são tocadas nas ruas de Salvador - não existe nada semelhante no
mundo!
Sérgio Belleza é administrador, empresário,
consultor e autor dos livros, Caminhado com Walkyria e Ascensão e Queda de um
Império Econômico.
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