terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Para Cunha, escapar do impeachment não dará governabilidade à Dilma



Presidente da Câmara diz não duvidar de que Planalto consiga votos para se salvar, mas acredita que governo terá maioria "capenga" e pode sair ainda mais fraco mesmo que vença

por
Marcel Frota - iG Brasília
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acredita que a presidente Dilma Rousseff pode até conseguir os 171 votos de que precisa para barrar a abertura do processo de impeachment, mas que isso não significa assegurar a governabilidade após o embate.
Cunha promoveu na manhã desta terça-feira (29/12) um café da manhã com jornalistas em seu gabinete na presidência da Casa e falou que em fevereiro entrará com embargos no Supremo Tribunal Federal contra decisões a respeito dos ritos do impeachment, que enfraqueceram politicamente seu papel nesse trâmite.
“Você dizer se o governo terá 1/3 dos votos para impedir o impeachment é uma coisa. Dizer que o governo vai ter governabilidade com esse terço para poder conduzir mudanças é outra realidade. Mesmo que o governo consiga impedir, ele vai impedir com uma margem muito estreita e vai mostrar que não têm uma maioria”, avaliou Cunha.
“Se o governo tem condição de amealhar um terço para impedir o impeachment? Pode. Se o governo tem condições de governabilidade com um terço, é difícil”, acrescentou ao dizer que Dilma terá três anos de “governo capenga”.
Cunha diz acreditar que a reeleição do vice-presidente Michel Temer para a presidência do PMDB não deverá ter surpresas. “(Temer) Nunca foi (contestado) até hoje em eleição em que ele disputasse. Se ele quiser disputar será reeleito mesmo que tenha chapa adversária. O único momento em que tentaram contestá-lo foi quando lançaram a chapa do ex-ministro Nelson Jobim, com apoio do presidente da República (Lula) com o próprio apoio do PMDB do Rio na época, e na hora desistiu e não tinha voto nem para começar a composição de uma chapa na convenção”, lembrou.
O deputado relativizou a força do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que andou se estranhando com Temer desde que o vice-presidente da República enviou a Dilma uma carta expondo seus ressentimentos com relação à presidente.
“Ele (Renan) também foi bastante duro na candidatura do Jobim e na hora nem compareceu. Alagoas não tem oito votos na convenção nacional. Em relação a 800 delegados, tem 1% da votação”, afirmou.
“Acho que o rompimento do PMDB com o governo está a cada hora aumentando. Aí sim esse impacto das eleições municipais vão acabar facilitando um pouco o processo de rompimento porque andar com o PT não vai dar voto para ninguém”.
Liderança na Câmara
Cunha criticou de forma mais clara o líder da bancada do PMDB e seu antigo aliado, Leonardo Picciani, a quem comparou com um assessor do governo no partido, e disse que pretende se envolver na disputa pela escolha do novo líder.
Picciani se coloca como candidato à reeleição. Por trás dessa disputa está uma dividida para saber qual será a tendência majoritária do partido na Câmara, já que Cunha é oposição e Picciani governista.
“Isso vai ser uma disputa, voto secreto, normal. Obviamente vai ter disputas, discussões, campanha. Vai ter um mês de campanha. E defendo que tenhamos um líder que não seja nem contra e nem a favor do impeachment. Ou seja, nem contra, nem a favor do governo. Um líder que represente a bancada”, afirmou Cunha, que admitiu um distanciamento do antigo parceiro. “Obviamente (nossa relação) é mais distante do que antes."
“Se ele tiver dois terços da bancada ele tem legitimidade. Foi isso que a bancada aprovou quando elegeu ele. Ele tem de legitimar. A Campanha é importante para isso, porque tem de assumir compromisso. Mesmo que ele ganhe, ele terá de assumir compromisso, que não é o compromisso de ser o líder do governo na bancada”, disse o presidente da Câmara.
Para derrubar as pretensões de Picciani, Cunha diz que dessa vez vai votar na escolha interna do partido. Ele justificou a nova posição com uma série de críticas ao correligionário.
“Tomei essa decisão primeiro por descumprimento que houve por parte do Picciani em relação à lista que ele mandou para (a comissão) do impeachment que ele não compôs com a bancada inteira. Em segundo lugar, por ter atuado como assessor da liderança do governo naquele processo de votação, estimulando a briga no Plenário. Tem imagens de brigas e agressões em que ele fazia parte. O principal assessor dele estava coordenando a agressão. E terceiro pele descumprimento dele do acordo quando ele se elegeu, de que a reeleição se daria por dois terços da banca e que ele apoiaria um nome de Minas Gerais. Então vou cumprir o acordo dele. Se Minas Gerais tiver um candidato único da bancada, vou votar nesse candidato”, completou.

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