terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Força-tarefa reluta em aceitar novas delações premiadas


Arrependido, há meses Duque tenta a delação e não consegue
Bela Megale, Mario Cesar Carvalho e Graciliano Rocha
Folha
A grande novidade da operação Lava Jato, que possibilitou o êxito das investigações, foram os acordos de delação premiada com importantes personagens do esquema, como o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o ex-gerente Pedro Barusco. Seus depoimentos possibilitaram que os integrantes da força-tarefa criada pela seção regional da Procuradoria-Geral da República em Curitiba e pela Superintendência da Policia Federal pudessem traçar a estrutura básica da rede de corrupção.
A princípio, muitos envolvidos acabaram sendo presos, mas alegavam inocência. Um deles, o ex-diretor Renato Duque até anunciou que iria processar o delator Paulo Roberto Costa, mas acabou caindo na real. Duque chegou a ser solto, pensou que se livraria da Justiça, mas a força-tarefa e o juiz Sérgio Moro insistiram e novamente o trancafiaram.
O ex-diretor de Serviços da Petrobras já está há quase nove meses na prisão e hoje seu maior sonho é fazer uma delação premiada. Contratou o advogado carioca Sérgio Riera, que conseguiu negociar o acordo de delação premiada entre Fernando “Baiano” Soares e a Procuradoria-Geral da República, e chegou a trabalhar para Nestor Cerveró, que há meses vinha tentando que sua delação fosse aceita e somente agora está conseguindo.
EMPREITEIROS RESISTIRAM
A princípio, os empreiteiros resistiram em tentar a delação premiada, sonhando que a Lava Jato acabasse sendo anuladas nos tribunais superiores, como ocorreu com a operação Satiagraha, na qual o banqueiro Daniel Dantas se livrou de dez anos de cadeia, devido a erros cometidos pelo delegado federal Protógenes Guimarães. Somente depois das primeiras condenações, quando perceberam a gravidade da situação, é que os empreiteiros começaram a jogar a toalha.
A fila está andando e o próximo é o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, que vai entregar na bandeja mais dois senadores, além de complicar a vida de outras empreiteiras, como a Odebrecht, que dividiu o botim do superfaturamento do estádio do Maracanã.
O maior arrependimento deve ser de Marcelo Odebrecht, que não somente se recusou a pedir a delação premiada, como também fez questão de ridicularizar quem procurou este caminho para se acertar com a Justiça. Cheio de empáfia, disse na CPI da Petrobrás, na Câmara, que ensina suas filhas a não delatarem os malfeitos umas das outras. Marcelo é uma decepção. Neto do grande empresário Norberto Odebrecht, que criou o projeto social Sul da Bahia, para dar trabalho, educação e cidadania às comunidades pobres da região, deveria ser mais cuidadoso e não atirar na lama o nome de sua família.
AGORA ESTÁ DIFÍCIL
O fato é que agora está difícil fazer a força-tarefa aceitar delação premiada. Cerveró sofreu durante meses até conseguir, graças à coragem de seu filho Bernardo. Duque está arrependido, sonha em fazer acordo, mas ainda não conseguiu convencer ninguém. Os empresários e executivos presos não pensam em outra coisa. Pressionado pela mulher, o senador Delcídio Amaral, que acaba de entrar em cana, já quer fazer a delação. Mas está difícil, é preciso arranjar fatos novos, indicar as tocas dos peixes grandes, ou então bancar o artista, como fez o filho de Cerveró, que já está a merecer o Oscar de Coadjuvante na novela da Lava Jato.

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