O esquemão é igual ao investigado na Operação Lava Jato. Afinal, estamos na Era petista:
Nos
moldes de esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato, o
maior programa de habitação popular do país, o Minha Casa Minha Vida,
tem sofrido com organizações criminosas de empreiteiras de médio porte
que se associam em cartéis para burlar concorrências, superfaturar
obras, repassar propinas a agentes públicos e irrigar campanhas
políticas com desvio de verba pública. A Polícia Federal, o Ministério
Público Federal e a Controladoria-Geral da União já descobriram quatro
casos como esse em três estados. As fraudes ao programa, cujo orçamento
já atingiu R$ 278 bilhões, são tantas que provocaram a abertura de mais
de 300 ações, de acordo com um levantamento feito pelo grupo de trabalho
do MPF dedicado ao tema. As denúncias envolvem ainda irregularidades na
escolha de beneficiários, custo excessivo, baixa qualidade de casas,
repasses de dinheiro público sem o cumprimento dos serviços ou mesmo sem
garantia.
—
Vemos que o programa abriu portas para a corrupção e o gasto
desenfreado de dinheiro público — afirma Edilson Vitorelli,
procurador-chefe do grupo de trabalho sobre o Minha Casa.
O
GLOBO identificou o enredo no Rio Grande do Sul, no Acre e em Minas
Gerais, estados onde projetos investigados somam mais de 4 mil unidades.
Quando
os envelopes de uma licitação para construção de 336 casas na cidade
gaúcha de Novo Hamburgo foram abertos, em agosto de 2012, os promotores
do Ministério Público já sabiam quem ganharia. Nos meses que antecederam
a licitação, acompanharam a negociação por escuta telefônica de seis
empreiteiros que formavam cartel e organizavam a fraude da concorrência
pública. Um deles afirmava estar disposto a “comprar a noiva” — o que,
segundo os investigadores, significava pagar entre R$ 60 mil e R$ 80 mil
para outras empresas desistirem do negócio de R$ 18 milhões. Outros
comemoravam o fato de o preço por metro quadrado estar acima da média, e
acertavam que o valor ofertado seria apenas cerca de R$ 1 mil abaixo do
teto estabelecido.
Naquele
momento, o então prefeito era candidato à reeleição. O empresário
“vencedor” da concorrência entregou R$ 300 mil à então diretora de
Licitações da prefeitura, que garantiria as condições favoráveis do
contrato em troca do repasse para a campanha municipal. A investigação
virou processo, ainda sem julgamento.
—
É exatamente a história da Lava-Jato, só que em menor escala. São
empresas de poderio econômico relevante que disputam contratos públicos
em negociações com políticos locais. Mas o modus operandi é o mesmo de
empresas multinacionais em contratos bilionários com a União — afirma o
promotor Ricardo Herbstrith, responsável pela investigação em Novo
Hamburgo.
As
reclamações mais triviais entre os beneficiários do programa conduziram
os investigadores do MPF, da PF e da CGU a um esquema milionário de
desvio de dinheiro público envolvendo cartel de empresários e vereadores
no leste de Minas.
CABOS ELEITORAIS BENEFICIADOS
Os
moradores das 400 casas nos municípios mineiros de Durandé e Martins
Soares relatavam que o material de suas residências era péssimo. O fato
chamou a atenção dos procuradores, que acabaram descobrindo que a
entidade responsável pelas moradias operava em conluio com um cartel de
empresas da construção civil, que forneciam os piores produtos a um
custo pelo menos 10% maior do que os vistos no mercado. Os beneficiários
eram escolhidos entre eleitores e cabos eleitorais de dois vereadores,
que ignoravam os critérios de vulnerabilidade social estabelecidos pelo
Ministério das Cidades, que gerencia o programa. A quadrilha ainda
cobrava uma taxa ilegal de dois salários mínimos como se fossem custos
do financiamento.
—
Verificamos que o programa foi usado com finalidade política e para
enriquecimento ilícito. Não provamos que os funcionários da Caixa
tiveram conduta dolosa, mas houve negligência na fiscalização de quem
recebia as casas, do serviço feito. A Caixa não exigiu nem nota fiscal —
afirmou o procurador Lucas Gualtieri, um dos responsáveis pela Operação
Tyrannos, que prendeu, na semana passada, os dois vereadores e mais 11
pessoas envolvidas no esquema; no total, o grupo obteve R$ 56 milhões em
contratos em 25 municípios, agora sob investigação.
Ainda
em Minas, outra investigação revelou o cartel de três empreiteiras que
atuava em obras do programa em Lavras. A quadrilha era formada por
empresários da construção civil e servidores públicos municipais, além
de funcionários da Caixa. As investigações, que transcorrem em segredo
de Justiça, já indicaram que os suspeitos direcionavam licitações e
superfaturaram as obras.
No
Acre, há alguns dias, a Justiça Federal aceitou a denúncia contra 16
empreiteiros e três funcionários públicos — entre eles o então
secretário estadual de Habitação — por fraude e cartel na construção de
três mil casas em bairro de Rio Branco batizado de Cidade do Povo.
—
A investigação mostra que os servidores chamaram as empresas que
preferiam e repartiram a obra. Diziam que era importante para a eleição
(do governador Tião Viana) — afirma o procurador Marino Lucianelli Neto,
do Acre, que ainda investiga se houve repasses de propina a políticos
ou campanhas eleitorais; o governo do Acre não respondeu ao GLOBO.
Em
nota, o Ministério das Cidades afirmou desconhecer o teor das denúncias
e disse que “a habilitação dos candidatos é feita pela Caixa através do
Sitah (Sistema de Tratamento de Dados Habitacionais), confrontando os
dados com os registros no CadÚnico, FGTS, Rais”, entre outros e sem
interferência humana na confrontação desses sistemas”. Quanto à má
qualidade dos imóveis, o ministério afirma que devem ser acionados os
“contratantes — instituições financeiras oficiais —, a quem caberá
adotar providências de reparação”. Já a Caixa informou que não cabe ao
banco, mas, sim, ao “responsável técnico da entidade acompanhar e
atestar a utilização dos materiais conforme projeto, memorial descritivo
e demais peças de engenharia apresentadas.” Afirmou também que segue o
estabelecido pelo ministério na escolha de beneficiários e que colabora
com a PF e o MPF nas investigações.
CORTE DE VERBA ATRASA PROGRAMA
Se
o Bolsa Família foi o símbolo do governo Lula, a presidente Dilma
Rousseff tentou fazer do Minha Casa Minha Vida a vitrine de sua gestão.
Em seis anos de programa, o governo entregou 2,8 milhões de casas, a um
custo de mais de R$ 270 bilhões, segundo o Ministério das Cidades. O
programa, no entanto, é muito mais caro do que a redistribuição de renda
feita pelo antecessor da presidente, e sofre com cortes diante da
recessão econômica.
O
ritmo das obras tem caído. Embora ainda falte entregar mais de 1 milhão
de casas para que a fase dois do programa seja cumprida, Dilma já
lançou a fase três. Isso mostra que, mesmo sofrendo com cortes, o
programa é uma aposta para melhorar a popularidade de Dilma.
De
acordo com a agenda oficial, em 2015 Dilma fez 18 viagens — quase
metade de seus eventos externos — para participar de inaugurações de
unidades habitacionais. Em uma delas, em outubro, ela tentou minimizar
os cortes:
—
Estamos passando por um período de dificuldades que faz com que
tenhamos de fazer esforços, de apertar um pouco o cinto, mas garanto:
não vamos deixar de garantir o Minha Casa Minha Vida. (O Globo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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