Em votação aberta, Senado decide manter líder de Dilma na cadeia
Rifado
pelo PT e pelo Planalto, Delcídio do Amaral não contou também com o
corporativismo da Casa: diante do rolo compressor da Lava Jato, o Senado
optou pela transparência
Por: Laryssa Borges e Marcela Mattos, de Brasília
Os
avanços da Operação Lava Jato se sobrepuseram ao corporativismo
histórico do Senado nesta quarta-feira. Em votação aberta, os
parlamentares decidiram manter na cadeia
o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder de Dilma na Casa. Num ano
em que os brasileiros saíram às ruas para protestar, o Senado deixou
claro: está assustado. E motivos não faltam: além da cobrança das ruas,
os parlamentares são assombrados pelo rolo compressor da Lava Jato e
pelo claro recado do Supremo Tribunal Federal (STF) ao validar a decisão que levou Delcídio para a prisão - ninguém está acima da lei.
Com a decisão, os senadores se livraram de abraçar uma constrangedora
autopreservação mesmo diante de revelações arrebatadoras.
Constrangimento, aliás, foi a palavra mais repetida nos discursos em
plenário na histórica votação desta noite, em que os parlamentares se
obrigaram a prestar publicamente contas ao eleitorado - e complicaram a
vida dos que apostam no "escárnio", como bem definiu no julgamento desta manhã a ministra do STF Cármen Lúcia. Leia também: Janot fala em 'componente diabólico' para travar Lava Jato
Desde 6 de março, quando o ministro Teori Zavascki, que relata os
processos do petrolão no STF, confirmou o arquivamento de um inquérito
contra o senador petista por falta de provas, uma avalanche de
evidências contra o parlamentar foi colhida pelo Ministério Público.
Delcídio foi citado por delatores como Fernando Baiano e Nestor Cerveró
como beneficiário de propina em transações como a desastrosa compra da
refinaria de Pasadena, no Texas. Hoje, a Polícia Federal bateu à sua
porta diante de acusações aterradoras: ele trabalhava para melar o
andamento das investigações sobre petrolão. Prometeu uma generosa mesada
a familiares de Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da
Petrobras. Articulou pagamento milionário ao próprio advogado para trair
o cliente e evitar uma delação. E foi pego em gravações explícitas de
traficâncias contra a Lava Jato. Prontamente, o Palácio do Planalto e o
Partido dos Trabalhadores rifaram o senador que aceitou ser líder do governo quando ninguém mais topou fazê-lo.
Os sinais de que os senadores não pretendiam encampar um histórico
desgaste contra a decisão unânime da 2ª Turma do Supremo ficou
evidenciada nos expressivos 52 apoios à votação aberta sobre o caso
Delcídio. Houve um evento facilitador para que defensores da votação às
escuras não precisassem se expor publicamente: instantes antes da
decisão, o ministro Edson Fachin afirmou que o destino do líder do
governo no Senado deveria, sim, ser tomada por voto aberto.
Momentos antes, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), ele
próprio um dos investigados no petrolão, ainda defendeu publicamente a
votação fechada e arriscou, em vão, uma tese jurídica que poderia livrar
Delcídio: a de que a prisão não foi por crime em flagrante. Pela
decisão tomada em plenário, não resta dúvida que boa parte dos
senadores, pelo menos publicamente, se recusou a afundar com Delcídio na
lama da Lava Jato.
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