A revelação do ex-craque e senador contradiz sua própria declaração de três meses atrás, quando garantiu: “Fui à Suíça, e o banco admitiu que nunca tive vínculo com eles"
É pouco
comum que uma pessoa tenha de ir a um banco com o objetivo de constatar
que a instituição “admitiu” (ou seja, aceitou, consentiu, concordou)
“nunca” ter tido vínculo com ela. Mas Romário não é obrigado a ter o
rigor de um filólogo na escolha das palavras que utiliza. Porém, é
esperado de um homem público, senador da República, que ele saiba a
diferença entre as expressões “nunca tive” e “tive conta no BSI, mas só
não sei o ano”. A questão da conta não declarada de Romário na Suíça foi
levantada por VEJA em uma reportagem publicada em julho passado.
Ilustrava a reportagem um documento descrito pela revista como um
“extrato” da conta do senador no BSI. O senador, respaldado pelo próprio
BSI, desclassificou a prova documental como “extrato falso”.
Como a
revista vem reafirmando desde que se desculpou com Romário pela
publicação do extrato dado como falso por ele e o banco, seus repórteres
continuam apurando o caso.
A gravação
em que Delcídio do Amaral, senador preso pela Lava Jato, e seus
interlocutores em Brasília falam sobre a existência da conta (ouça aqui)
foi um motivo de incentivo para que os repórteres aprofundem a
investigação do caso. Também foi muito estimulante para eles a mudança
de posição de Romário de “nunca tive” para “tive conta no BSI, mas só
não sei o ano”. São mais fortes, agora, as evidências de que – a
despeito da veracidade do extrato ou “screen shot” publicado pela
revista em julho – não é mais um disparate, como se fez crer antes, a
existência na Suíça de conta e fundos não declarados por Romário.
Romário,
subitamente, se lembrou agora que teve, mas não se recorda se encerrou a
conta. Ele disse que “acha” que, sem movimentação, a conta “fecha
automaticamente”. A lembrança de que foi correntista do BSI ocorre em
seguida à referência, em uma das conversas gravadas que enredaram o
senador Delcídio do Amaral na Operação Lava Jato, de que uma ajuda na
escamoteação da conta estaria por trás de um acordo político entre o
ex-jogador e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para as
eleições à prefeitura em 2016.
No
mesmo dia em que deu a entrevista confirmando que teve conta no BSI,
Romário enviou ofício ao procurador-geral, Rodrigo Janot, pedindo que
apure junto ao Ministério Público suíço os fatos relativos à “suposta
conta”. Nem precisava. A Procuradoria-Geral da República já anunciou que
vai apurar não só a “suposta conta”, mas “todos os fatos” relativos à
história. VEJA, por seu lado, também continua empenhada na apuração
profunda do episódio.