Em
entrevista à revista Veja, o ex-deputado e jornalista Fernando Gabeira
reafirma o que tem dito em artigos publicados nos jornais: a saída para a
crise em que o lulopetismo mergulhou o Brasil é o impeachment. Abaixo,
trechos da entrevista:
Hélio Bicudo não é mais o único ex-petista histórico a defender
abertamente o impeachment de Dilma Rousseff. Em entrevista ao site de
VEJA, o ex-deputado federal Fernando Gabeira afirma o mesmo, apostando
que este será o destino da presidente nos próximos meses. Gabeira ainda
aborda os riscos que a Operação Lava-Jato corre no Supremo Tribunal
Federal (STF) - ocupada, segundo ele, por ministros "medíocres"
indicados pelo PT - e abre o jogo sobre o que pensa dos caciques do
PMDB, protagonistas da atual luta política. Leia trechos da entrevista.
Como o senhor projeta o cenário político brasileiro para os próximos meses?
Tenho uma dedução de que a Dilma não completa o mandato por falta de
credibilidade e capacidade política. Sobre a campanha dela pesam
acusações muito pesadas e graves vinculadas ao Petrolão. Não é possível
que o maior escândalo do mundo moderno não tenha repercussão no partido e
no governo. São bilhões desviados e isso precisa ser punido de alguma
forma. O presidente da Volkswagen, por exemplo, renunciou imediatamente
após a descoberta de um erro esta semana (a empresa instalou um software
em automóveis para enganar agências reguladoras e usuários sobre a
emissão de gases poluentes em veículos a diesel).
O senhor acha então que o melhor para o Brasil seria a saída de Dilma?
Eu acho. É preciso raciocinar: o que é mais traumático para o país?
Em uma visão mais imediata, o impeachment, de fato, traz alguns
transtornos e solavancos. Mas a médio e longo prazo, ele é o caminho
para a recuperação. A continuidade da Dilma é um não-futuro, uma falta
geral de perspectivas. Dilma sabia de tudo, era presidente do conselho
de administração da Petrobras na compra da refinaria de Pasadena e foi
durante muito tempo ministra de Minas e Energia. Temos um tesoureiro do
PT condenado a 15 anos de prisão (João Vaccari Neto, condenado esta
semana por corrupção pelo juiz Sérgio Moro). Como assim? Ele colocou
todo o dinheiro numa mochila e não usou para nada? É um absurdo. Neste
processo ela e o país vão sangrar muito. Acho até que era melhor uma
renúncia, mas não sou ingênuo politicamente para achar que o PT adotará
este caminho. O impeachment dá a eles o discurso de vítima.
Em 2005, durante o escândalo do mensalão, o senhor deu uma
entrevista para a VEJA dizendo que "o PT acabou". Se naquele tempo o
senhor já dizia isso do partido, o que falar atualmente?
Lá atrás eu disse isso porque o PT havia acabado como proposta de
renovação. Hoje é pior ainda. Ele morreu e não quer ser enterrado.
Existe uma rejeição ao mau cheio agora e desenvolveu na sociedade uma
ira com o partido. Principalmente pela forma como o PT nega os feitos e
tenta driblar a consciência das pessoas. Eles se recusam a assumir as
consequências. O máximo que a Dilma consegue fazer é admitir que errou
tentando fazer o bem.
Qual o tamanho da responsabilidade de Lula no que aconteceu com o PT?
O poder o mudou ou ele sempre foi assim? Não sou um grande psicólogo
do Lula porque ele desafia demais a minha capacidade de entende-lo. No
documentário Entreatos, em um determinado ele disse que se incomodava
porque o tratavam como operário e que, na verdade, ele era da classe
média. Ou seja, a primeira grande ambição do Lula era ascender
socialmente. Aquilo já me mostrava que a questão não era levar a classe
operária ao poder, mas sim ao paraíso. Depois que ele deixa o governo,
passa a ser um lobista das grandes empreiteiras. E pelos dados
divulgados agora - onde mora, a maneira como se veste e se desloca -,
podemos dizer que Lula se tornou um milionário. É ele o coordenador de
tudo o que está aí. Lula escolheu Dilma para sucedê-lo porque tem pavor
de pessoas que querem fazer sombra a ele. Ele escolheu um poste. O
problema é que depois os cachorros acabam achando o poste para fazer
xixi".
Qual a importância da operação Lava-Jato para o futuro do Brasil?
É importante que se diga que as investigações nunca mais serão as
mesmas no Brasil. Houve um avanço na modernização e evolução do trabalho
de cooperação internacional. A questão é se o avanço acontecerá também
nas punições dos investigados. Ou seja, se o avanço investigativo vai
ser contido pelas instancias judiciais superiores. O Supremo tem muitos
ministros medíocres que foram colocados pelo PT. A gratidão do cara
medíocre por estar naquele lugar é imensa.
E a postura do PMDB esta semana? Parte recusou indicar ministérios e a outra começou a negociar cargos no governo federal...
Neste pântano o PMDB é o único que parece saber o que quer. Ele está
se afastando um pouco do governo e prevê uma convenção nacional em 15 de
novembro, no dia de proclamação da República, onde deverá sair do
governo e se unir à oposição. Há ao menos um calendário a cumprir. Mas o
PMDB também tem um grupo de oportunistas. Então a Dilma sempre terá
alguém para conversar, sempre vai ter alguém para aceitar um ministério.
Ela resolveu fazer algo extremamente irresponsável. Ofereceu o
Ministério da Saúde, o de maior orçamento da Esplanada e que envolve a
vida das pessoas.
Passados oito anos da eleição que o senhor perdeu para Eduardo
Paes, é possível dizer se foi melhor ou pior para o Rio de Janeiro a sua
derrota?
A experiência teria sido diferente. Mas acho que o Paes se
comportou bem em alguns quesitos. A pessoa que ia ser a minha secretária
de Fazenda foi a dele (Eduarda La Roque). Uma das coisas que eu pensava
era colocar a prefeitura contribuindo mais com a segurança, usando
inteligência, investindo em câmaras. A sensação que eu tenho que o
governo do estado só não dá conta. O secretário José Mariano Beltrame
parece isolado, o que está acontecendo é superior à capacidade da
polícia. Tenho minhas dúvidas também se a Olimpíada é boa para o Brasil.
Trouxemos o evento em um momento de euforia econômica e de ilusão de
prosperidade. Hoje, a intenção de mostrar uma grandeza internacional
pode trazer resultados opostos ao que esperávamos. Olha a fama que a
Baía de Guanabara está trazendo para o país. A violência a mesma coisa.
Estamos expondo as nossas fragilidades.
O senhor tem saudades da política e das últimas campanhas?
Não. Naquela ocasião o governador era o Sérgio Cabral e havia todo um
esquema criminoso que estava presente e que só agora aparece, embora o
Cabral tenha sido inocentado na Lava-Jato. Disputei contra ele em 2010,
contra milhões de reais, e posso te dizer que este dinheiro não foi
colocado para fortalecer a democracia. Era um dinheiro destinado a
corromper. E quem fez a campanha do Eduardo Paes dois anos antes foi a
mesma máquina do Cabral e do (Jorge) Picciani.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário