domingo, 27 de setembro de 2015

Baianas de acarajé tentam driblar crise econômica


Marjorie Moura
A TARDE
  • Fernando Amorim | Ag. A TARDE
    Produtos utilizados para fazer o acarajé e o abará ficam cada vez mais caros - Foto: Fernando Amorim | Ag. A TARDE
    Produtos utilizados para fazer o acarajé e o abará ficam cada vez mais caros
Quanto custa fazer um acarajé, um abará? Esses  ícones culinários baianos nunca saem de moda, mas seu preparo sofre também com os efeitos da crise econômica, o aumento dos custos e da concorrência, que podem afetar a renda de milhares de pessoas na capital baiana, que vivem em uma economia de mercado muito particular e de equilíbrio  delicado.
Nascida como alternativa para escravas comprarem a alforria delas e de seus familiares na Bahia do século XVIII, a venda de alimentos em tabuleiros exibidos nas ruas da cidade se consolidou. Segundo o pós-doutor em antropologia e professor da Universidade Federal da Bahia Vilson Caetano, nos últimos anos, a venda destes alimentos permitiu visualizar a inserção de homens e da mulheres negros na economia de Salvador, desfazendo a ideia de que esta atividade integrava apenas o mercado informal.
Mas, além de estimular a criatividade, a venda principalmente do acarajé atraiu a concorrência de estabelecimentos comerciais e de pessoas em busca de renda numa região que registra os maiores índices de desemprego entre a população economicamente ativa do país. A mais nova "ameaça" vem de vendedores em carros que oferecem acarajé a R$ 1. O produto é menor, mas vem sendo consumido sem críticas ao sabor.
"Fazer acarajé e abará custa muito caro, minha filha", diz Rita Santos, presidente da Associação das Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia (Abam). "Primeiro é gás, um botijão em casa e outro na rua, luz, água, sem falar na taxa de R$ 250 que a gente paga à prefeitura. Depois tem o camarão seco, o mais barato a partir de R$ 26, o balde de azeite (de dendê) a R$ 70. E lá vão cebola, alho, sal, feijão ou massa pronta, gengibre, castanha, castanha-de-caju, cheiro-verde. E ainda tem a baianinha (embalagem), o caderno (folhas brancas para envolver o bolinho), além do transporte do tabuleiro e panelas para o ponto", diz.
"Tenho certeza de que esse pessoal não segue as normas da Vigilância Sanitária que manda as baianas jogarem fora metade do azeite a cada dois dias, a não usar papel reciclado. Também não vestem roupa própria, nem pagam taxas. Trabalhar assim fica fácil", afirma, indignada.
Custos
Rita Santos, que participou na semana passada de um evento de baianas do acarajé no Rio de Janeiro, diz que naquela cidade o preço médio do bolinho é de R$ 12. "Aqui não tem dendê, nem camarão e falta feijão. A maioria dos produtos é importado da Bahia e o pessoal que compra acarajé aqui não reclama do preço, não", explica a baiana
Quem pretende experimentar o acarajé ou abará de Salvador durante o verão nos principais pontos turísticos deve encontrar preços entre R$ 6 e 10. Aos preços dos ingredientes, as baianas adicionam a sistematização da atividade, que inclui tabuleiros com especificações de material e dimensão rígidas, panelas de inox, panos de alvura única e trajes típicos. Além disso, pagam ajudantes, transporte e local para guardar os equipamentos de trabalho.

Confira o custo na Feira de São Joaquim para fazer a iguaria

Mas quanto custa mesmo fazer um acarajé? Uma visita num início de uma tarde qualquer na famosa Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa, pode esclarecer esta questão. O principal ingrediente é o feijão, antes o mais comum era o fradinho, porém o mais comum nas bancas é o macaço ou verde.
A versão à venda, porém, é bem seca e tem que ser reidratada e moída para temperar e modelar os bolinhos antes de fritar, cujo quilo varia entre R$ 2 e R$ 3. Quem não tem tempo ou não quer trabalho opta pela massa pronta. Na Rua da Massa o preço é R$ 2,50/kg.  Cebola pode ser encontrada a R$ 3/kg e sal por R$ 3. O litro do azeite custa R$ 4. O preço de R$ 12,50 dos ingredientes para cerca de 20 acarajés grandes, chega a R$ 20 com gás e horas de trabalho.
Vatapá e camarão
Mas como na Bahia não existe acarajé sem vatapá, camarão e pimenta, a conta aumenta. O vatapá leva pão dormido (5 unidades a R$ 1), leite de coco (1 litro a R$ 6),  camarão grande (R$ 25/kg), gengibre (R$ 1, uma raiz).  Bota pimenta-malagueta (um bocadinho a R$ 1) e dendê (1 litro a R$ 4). Custo total de R$ 38. Assim, para se deliciar com a iguaria, o preço unitário seria de R$ 2,95.

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