terça-feira, 1 de setembro de 2015

A morte cerebral das escolas públicas


Eduardo Aquino
O Tempo
Ainda respira, pulsa, dá sinais de vida, mas funciona de forma vegetativa. O cérebro silencioso não permite que a mente pense, sinta ou aja. Aos poucos tudo vai atrofiando, muitas vezes só não morre pois heróicos personagens cuidam daquele ente inerte, numa esperança quase delirante de um renascimento.
Enquanto isso, na cabeceira da cama, professores, alunos, pais e funcionários tentam falar a mesma língua, se estranham, não entendem questões básicas de limite ou respeito.
A decadência há muito se anunciava quando o Estado – pai ausente, endividado, com múltiplas personalidades, incluindo a sociopática, se desinteressou de sua prole, a qual só percebe quando a mãe solteira, chamada “Educação”, ameaça dar escândalo, faz protestos e constrange o pai omisso. Sim, vale a máxima “em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão”. Se a família é a célula da sociedade e as escolas sua organicidade, estamos adoecidos gravemente.
Para piorar, um mundo virtual nos atacou, numa virose que se disseminou de forma epidêmica, e a geração de crianças e jovens logo sucumbiu e passou a viver como alienígenas no mundo real. Os adultos mais resistentes tentaram evitar que a hiperconexão dos jovens os alienassem. Mas a guerra se instalou, adultos no AM, jovens no FM, e, mesmo habitando o mesmo espaço, vivem em mundos absolutamente distintos.
NADA EM COMUM
Comunicação, comunhão de ideias, sentido de comunidade? Afinal todas essas palavras começam com o termo “comum” ou aquilo que todos compartilham.
Preparem-se, pois após essa fase tribal, egocêntrica e narcisista, mudanças grandes se avizinham, e aí a nova geração corre o risco de cair na real. E a moribunda escola terá que ser ressuscitada. Não com seus quadros negros e carteiras antigas, sua falta de atração e estímulo, com o autoritarismo histórico que gerou a falta de autoridade. Não a escola de alunos, pois estes são apenas parte desse organismo. Nem de professores que desgraçadamente foram rebatizados educadores, como se ensinar fosse educar. Nem dos pais, que terceirizam todos seus problemas e incompetências de estabelecer regras, limites, punições e gratificações no ambiente doméstico para a escola. Muito menos dos funcionários que têm que administrar o caos, dar suporte a todos e nem são reconhecidos.
A escola que tem que ressurgir é a que inspira, estimula, se move, cria. Um espaço múltiplo onde pais, alunos, professores e funcionários sintam-se em casa, onde reina o prazer, o desafio. Pois, sendo uma comunidade escolar, ela tem que vibrar, pulsar, reciclar conhecimentos, experimentar e ousar.
PAREDES DA ANSIEDADE
Derrubem-se as paredes em que já não cabem a ansiedade dos jovens, libertem das celas os adoecidos professores, que cumprem pena aguardando sua libertação via aposentadorias ou empreendem fugas para qualquer outro lugar que não o inferno escolar.
Não esperem o pai-Estado, adoecido pelo poder, arrogância e vaidade. Moram na “casa grande” com seus filhos e netos nobres. As senzalas apenas para os que, em manada, votam mal para garantir o mínimo, que é menos pior.
Sou desassossegado, inventei com meu filho que faz arquitetura a Eco-game-escola. Para reaprender a viver, todos nós, pais, filhos, professores, funcionários. Ah! Já ia me esquecendo: apresentei tal projeto para alguns pais desnaturados (políticos no exercício do Executivo). Desisti de esperar sentado.

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