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POR CONTA PRÓPRIA – Rodrigo faz uso de suplemento que, ele garante, ser de baixo impacto
Ter um corpo escultural em um curto intervalo de tempo é a principal
motivação de quem faz uso de suplementos. Dentre os preferidos dos
atletas estão os proteicos, responsáveis pelo fortalecimento da
musculatura e por facilitar a hipertrofia. Mas por trás dessa “fórmula
mágica” existem sérios riscos.
Segundo a nutricionista Kettyla Larrone, especialista em nutrição esportiva, os suplementos são indicados para complementar a dieta de quem não consegue, por meio da alimentação, suprir a demanda nutricional do organismo.
“Para a maioria das pessoas, no entanto, a necessidade de suplementação é eliminada. Por meio dos alimentos elas conseguem obter as proteínas, carboidratos e lipídios de que precisam”, afirma Kettyla.
Adversidades
Para quem insiste no uso desses produtos sem acompanhamento profissional, uma das consequências é o comprometimento dos rins. “Se a pessoa já for doente renal, o excesso de proteínas pode levar a uma piora do quadro. Para quem tem cálculos, a dieta hiperproteica aumenta as chances de formação de pedras”, diz a presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, Carmen Tzzano.
De acordo com ela, já foram registrados casos de pacientes atendidos em prontos-socorros por causa de complicações relacionadas à suplementação. “Todos os produtos devem ser utilizados com orientação profissional. A dosagem deve ser feita com base no peso do indivíduo e na carga de exercícios físicos praticada por ele. Quem faz atividades leves, durante pouco tempo, não tem necessidade de utilizar suplementos”.
Apesar dos alertas, ainda há quem insista na autoprescrição. É o caso do engenheiro ambiental Rodrigo de Oliveira, de 31 anos. Embora pegue pesado na musculação e se encaixe no perfil correto de usuário de suplementos, ele faz uso de produtos por conta própria há cerca de seis meses.
“Tomo suplementação que não provoca grande impacto, digamos assim. Já usei outras vezes e retomei com base na minha experiência. Mas procurar um profissional é de suma importância, com certeza. Ter indicação é muito válido”, reconhece Oliveira, que ingressou na malhação para controlar a bronquite e, hoje, tem “três vezes o tamanho que tinha antes”.
Preocupação
Membro do Comitê de Nefrologia da Unimed-BH, Alexandre Carvalho Pinto Coelho diz que a situação tem soado o alerta na comunidade médica.
“Têm aparecido, cada vez mais, pessoas jovens fazendo uso por conta própria, porque escutam nas academias e desconhecem os riscos potenciais. Recentemente, atendi até uma senhora de 60 anos com lesões decorrentes da suplementação”, destaca Coelho.
Conforme o nefrologista, há casos em que os riscos são potencializados pelo exagero. “Já ouvi pacientes revelarem que faziam uso de 17 substâncias e que não iam parar de usar nenhuma delas. Isso tem me preocupado”.
Lucrativa, indústria recorre à vaidade para atrair consumidor
O apelo à vaidade é a estratégia da indústria de suplementos em todo o mundo. Somente nos Estados Unidos, o faturamento anual chega a US$ 4 bilhões com a revenda de 2 mil marcas em 100 mil pontos, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri). Buscando satisfação e realização com o próprio corpo, muitas pessoas são atraídas por esse mercado, conforme analisa o educador físico Roberto Chiari, especialista em fisiologia do exercício.
Segundo ele, os fabricantes seduzem os consumidores comuns utilizando imagens de atletas de grande rendimento. “Muita gente se espelha neles e não entende que as demandas são diferentes. Por movimentar muito dinheiro, a indústria não tem a intenção de deixar os riscos à saúde muito claros”.
Para Chiari, essa é uma abordagem arriscada, principalmente, diante da facilidade de acesso aos produtos. “É muito fácil adquirir suplementos, e percebemos que as pessoas preferem banalizar os riscos para se beneficiarem com o ganho de performance, a melhora de rendimento e de aparência física”.
O educador físico Felipe Coelho de Moura, de 34 anos, utiliza suplementos há aproximadamente três anos, mas com orientação de uma nutricionista e acompanhamento médico regular. “Pratico muita atividade física, mas não consigo ganhar massa muscular apenas com a alimentação. Com a suplementação, senti a diferença”.
Seguindo à risca os cuidados, todo mundo pode utilizar suplementos, de acordo com a diretora da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais – Regional Minas Gerais, Andréa Kamizaki. Ela ressalta que, ao contrário do que alegam alguns atletas, nenhum produto é feito sem prescrição e são raros os casos em que há contaminação por outras substâncias (alegação frequente em caso de acusação de doping).
“A farmácia de manipulação tem o diferencial de atender aos clientes apenas mediante prescrição de um profissional habilitado e de forma individualizada, de acordo com as necessidades específicas de cada um. Entre uma manipulação e outra, é feita a assepsia total da cabine.
“Inchaço nas pernas, aumento da pressão arterial e urina espumando mais do que o normal podem ser sintomas de sobrecarga dos rins em decorrência do uso de suplementos” - Alexandre Carvalho Pinto Coelho - Membro do comitê de Nefrologia da Unimed-BH
“Risco até mais elevado do que o dos suplementos é oferecido pelos estimulantes neurotransmissores, também vendidos facilmente para criar estado de alerta e sensação de maior vigor” - Roberto Chiari - Educador físico Especialista em fisiologia do exercício
2,5 milhões é o total de consumidores de suplementos no Brasil, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais
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