Em Salvador, Central de Flagrante contabiliza 15 presos por dia. Entenda
Todo
dia, 15 pessoas são presas em flagrante na capital baiana. O número de
prisões desse tipo, aliado a uma demora nos julgamentos dessas ações,
lota os presídios do estado a tal ponto que, hoje, 57% da população
carcerária da Bahia é de presos provisórios — pessoas encarceradas à
espera de uma audiência. Eles são 7,4 mil de um total 13 mil presos na
Bahia.
Programa prevê prazo de 24 horas para julgamento de presos em flagrante
(Foto: EBC) |
Os
números são do próprio Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), que ontem
aderiu ao projeto Audiência de Custódia, do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), que prevê que as pessoas presas em flagrante sejam ouvidas por
um juiz e por representantes do Ministério Público e da Defensoria
Pública em um prazo máximo de 24 horas após o momento da prisão.
A Bahia é o 16º estado a aderir ao projeto lançado
pelo CNJ em fevereiro. O lançamento na Bahia foi realizado ontem, na
sede do TJ-BA, no CAB. Para o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF) e do CNJ, Ricardo Lewandowski, que esteve presente no evento, o
projeto é uma forma de combater a “cultura do encarceramento” vigente no
país.
“Cerca de 240 mil cidadãos brasileiros ficam meses,
até anos na prisão, sem se defrontar com um juiz. Isso é muito grave, é
um atentado permanente à Constituição. As pessoas que cometem pequenos
crimes não merecem estar nas prisões porque as prisões devem ser
reservadas para violentos, que apresentam perigos para a sociedade”,
afirmou.
Na audiência, o juiz indaga o
preso sobre as circunstâncias da detenção e, após consultar o
Ministério Público e a Defensoria Pública (ou o advogado do preso), em
seguida julga se a pessoa deve seguir sob custódia até a data do
julgamento.
Durante a audiência, o preso poderá, ainda, relatar uma possível agressão policial que tenha sofrido durante a abordagem.
“Essa é uma das grandes virtudes da audiência de
custódia. Além de o juiz poder decidir sobre a prisão e deixar preso
somente os violentos, ele vê com seus próprios olhos se o preso sofreu
tortura e pergunta ao próprio preso se ele foi maltratado. Ao mesmo
tempo que nós combatemos a superpopulação carcerária, também damos
combate a um outro flagelo nacional, que é o da tortura, que tanto nos
envergonha”, disse Lewandowski.
EconomiaA
diminuição do número de presos provisórios representaria uma redução
nos gastos estatais com a manutenção dessas pessoas na cadeia. Segundo o
CNJ, gasta-se cerca de R$ 3 mil por mês com cada preso. O Brasil conta
com a 4ª maior população carcerária do mundo: cerca de 600 mil pessoas.
Assim, o Brasil gasta, ao todo R$ 21,6 bilhões por ano com os detentos.
Em Salvador, Central de Flagrante contabiliza 15 presos por dia
(Foto: EBC) |
De
todos os presos do país, 40% (240 mil) são provisórios, ou seja, estão
presos aguardando por uma audiência. "Esperamos, com essa medida,
deixar de prender 120 mil pessoas por ano que são detidas em flagrante e
que podem, por não apresentar perigo, responder ao processo em
liberdade. Isso equivaleria a uma economia de R$ 4,3 bilhões, que
poderiam ser investidos em educação, saúde e em outros projetos
públicos”, afirmou Lewandowski.
Com a medida, as penas para esses presos de menor
poder ofensivo não seria cumprida atrás das grades. “Essas pessoas
respondem aos seus processos com medidas alternativas ao encarceramento.
Os presídios devem ser reservados aos criminosos violentos e que
oferecem risco à sociedade. Não podemos trabalhar para alimentar a
cadeia e o sistema carcerário, aprisionando pessoas que cometeram crime
de menor potencial ofensivo e que podem cumprir suas obrigações de outra
maneira”, concluiu Lewandowski.
Primeiro julgadoLogo
após a cerimônia de apresentação do programa, aconteceu o primeiro
julgamento do projeto. O réu era Jair Pereira dos Santos, preso em
flagrante na quarta-feira, com uma arma calibre 32 em sua casa, no
Lobato.
Na audiência, o Ministério Público sugeriu que, por
conta do crime de porte ilegal de armas, ele respondesse em liberdade,
precisando comparecer ao cartório uma vez por mês. Já a Defensoria
Pública defendeu que o comparecimento era desnecessário.
Considerando que se tratava de réu primário e
possuía residência fixa, o juiz plantonista deu a Jair o direito de
responder em liberdade, precisando apenas comparecer ao fórum uma vez ao
mês.
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