sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Atingida pelo desemprego, 'família-padrão' aperta ainda mais o cinto


Casal tem duas filhas e viveu tempos bons em 2014, mas piorou em 2015.
Renda familiar encolheu quase 40% depois que mãe perdeu emprego.

Glauco Araújo Do G1 São Paulo
Família Cordeiro (Foto: Editoria de Arte/G1)
Um ano e meio após serem retratados no G1 como a "família-padrão" brasileira, os Cordeiro dizem estar vivendo momentos mais difíceis em 2015. Nesse período, os quatro moradores da cidade de Santo André, na região do ABC, conseguiram quitar o financiamento de dois carros e pagar todas as dívidas que tinham. Por outro lado, a renda familiar encolheu quase 40% após um de seus integrantes ser atingido pelo desemprego.
 
Em fevereiro de 2014, os "Cordeiro" tinham uma renda per capita mensal de cerca de R$ 1.775, equivalente a da média do brasileiro, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O casal Adriana Silva Cordeiro e Deusdete Cordeiro Filho e as filhas, Laís e Larissa, continuam morando juntos e tomando as decisões sobre o orçamento doméstico em conjunto. Mas, em março deste ano, Adriana foi demitida, meses depois de ter conseguido um emprego com salário maior e carteira assinada, que permitiu inclusive colocar todos da casa como dependentes do convênio médico. A mudança repentina obrigou a família a apertar ainda mais o cinto.
Deusdete continua recebendo aposentadoria de cerca de R$ 2 mil. Adriana tem agora como renda apenas a aposentadoria de cerca de R$ 3 mil. A filha mais velha, Laís, 23 anos, trabalha como professora de dança freelancer, sem renda fixa. A mais nova, Larissa, 21 anos, também contribui com o orçamento familiar, mas boa parte do salário de auxiliar técnica de enfermagem é usada para pagar o curso de enfermagem.
Estripulia financeira
O aumento da renda no ano passado, após Adriana ter mudado de emprego, permitiu à família fazer uma “estripulia” – o que nunca tinha sido feito: uma viagem à Disney, a primeira internacional de Adriana e Larissa.
“Minha filha [Laís] já tinha feito um curso de dança nos Estados Unidos no ano passado e ela gostou muito. Ficamos com vontade e decidimos que eu e minha outra filha [Larissa] iríamos junto com ela neste ano”, disse Adriana.
Família disse que fez 'mais furos no cinto' para pagar as contas do mês (Foto: Flávio Moraes/G1)Família disse que fez 'mais furos no cinto' para pagar as contas do mês (Foto: Flávio Moraes/G1)
A decisão pela viagem foi tomada em agosto do ano passado, incluindo a compra das passagens. A viagem foi realizada neste mês, de 4 a 20 de agosto. “Fui fazer um curso de zumba. Decidimos ir todos juntos, só meu pai não quis ir porque tem medo de avião”, contou Laís.
Para Adriana, isso foi desculpa do marido para economizar. “Só iria se fosse de carro”, disse ele em tom de brincadeira. O sonho de consumo da mulher em 2014 era viajar para França e Canadá. “Hoje isso está mais longe, mas um dia eu consigo”, afirma a mãe.
Já fiz cotação para um novo convênio médico, igual ao que temos hoje. Os valores vão fazer a gente apertar ainda mais o cinto, porque está em torno de R$ 1 mil por pessoa"
Adriana Silva Cordeiro
Ela conta que, se tivesse de decidir sobre a viagem depois de demissão, provavelmente teria adiado os planos. "Mas não me arrependo. Acabei usando a minha indenização para fazer a viagem", disse.
Laís explicou que a viagem, para ela, foi de formação. “Fui para fazer o curso, peguei apenas alguns dias a mais para curtir com minha mãe e irmã. A gente não aproveitou para fazer compras por causa da alta do dólar”, comentou.
Garagem cheia
Mesmo com o cinto apertado, a família vive em uma casa própria, com três quartos, sala, cozinha, área de serviço e quintal. Em entrevista ao G1 no ano passado, Adriana brincou que o marido costumava dizer que “se tiver só uma calça jeans está bom”. Coincidência ou não, Cordeiro aparece usando a mesma calça na foto tirada em fevereiro de 2014 e em agosto deste ano (veja foto mais abaixo).
“A gente decide tudo junto. Eu e meu marido ficamos responsáveis pela casa, pelo custeio dela. O que as meninas ganham é para elas”, explicou Adriana.
Foi com essa lógica que, mesmo apertando o cinto e fazendo uma estripulia com a viagem internacional, a família conseguiu quitar os dois carros que estavam financiados e que lhes tomavam R$ 1,1 mil por mês. “Assim minha filha mais nova conseguiu comprar o carro dela, financiando em um ano. Ela comprou em abril do ano passado e conseguiu quitar a dívida”, afirmou a aposentada.
Família ganhou a labradora Maia, 6 meses, após a morte de outra cachorra da mesma raça, Hana, em 2014 (Foto: Flávio Moraes/G1)Família ganhou a labradora Maia, 6 meses, após a morte de outra cachorra da mesma raça, Hana, em 2014 (Foto: Flávio Moraes/G1)
Adriana lembrou que terá direito ao benefício do convênio médico do antigo emprego até o fim de setembro deste ano. "Já fiz cotação para um novo convênio, igual ao que temos hoje, e também para minha filha mais velha, que vai precisar de um convênio próprio. Os valores vão fazer a gente apertar ainda mais o cinto, porque está em torno de R$ 1 mil por pessoa", comentou.

Papel de parede e sofá
A casa dos Cordeiro é equipada com geladeira, microondas, máquina de lavar, TV por assinatura, internet e todos têm aparelho celular. “A única mudança que fizemos na casa foi colocar papel de parede em duas paredes e comprar um sofá novo”, disse Adriana.
Comida japonesa em restaurante nunca mais"
Larissa Cordeiro
Agora, com os pais aposentados, Laís percebeu que os dois estão dando mais valor ao tempo livre com a família e com momentos de lazer. “Estou ficando mais tempo com minha mãe, por exemplo”. “Comida japonesa em restaurante nunca mais”, disse Larissa, que não acha isso ruim, pois os quatro estão fazendo mais refeições juntos, em casa.
Em 2014, a saúde da cachorra Hana, uma labradora caramelo de 11 anos, era o que consumia maior parte da renda familiar. Hana acabou morrendo por complicações de um linfoma. Há poucos meses, a casa recebeu uma nova moradora, a labradora chocolate Maia, de 6 meses. "Ganhamos e adotamos a Maia. A gente não compra cachorro. Gastar dinheiro para comprar cachorro é um absurdo, a gente só gasta com a ração", disse Larissa.
Labradora Hana, 10 anos, alterou a rotina financeira da família ao precisar de tratamento de linfoma (Foto: Caio Kenji/G1)Labradora Hana, 10 anos, alterou a rotina financeira da família em 2014 ao precisar de tratamento de linfoma (Foto: Caio Kenji/G1)

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