Mercado tem reagido a temores de corte na nota de crédito do país.
Veja 6 perguntas e respostas sobre as agências internacionais de risco.
Expectativas
sobre nota do Brasil por agência de risco têm influenciado o mercado e
estimulado tendência de alta do dólar (Foto: Gary Cameron/Reuters)
O mercado tem vivido dias de expectativas à espera do resultado da
recente visita da agência internacional de risco Moody’s ao Brasil. O
receio de que o país perca o grau de investimento – espécie de selo de
bom pagador e "porto seguro" para investidores – tem influenciado a
tendência de alta do dólar e de queda da Bovespa nos últimos dias. Mas,
afinal, qual seria o efeito da perda do grau de investimento para os
brasileiros?Veja abaixo 6 perguntas e respostas sobre o risco de um rebaixamento do Brasil. Para elaborar as respostas, o G1 ouviu Alex Agostini, presidente da agência de classificação de risco Austin Rating, Bruno De Conti, do Centro de estudos de Conjuntura Política Econômica da Unicamp, e Judas Tadeu Grassi Mendes, da EBS Business School.
“O propósito principal das agências é justamente atribuir uma nota que indique ao mercado financeiro a possibilidade ou o risco de que o emissor de determinado título de dívida venha a não cumprir com o compromisso de dívida, ou seja, venha a dar um calote”, diz Bruno De Conti.
No caso do Brasil, o mercado teme que o país, depois do esperado rebaixamento pelas agências de avaliação de risco Moody's e Fitch, receba perspectiva negativa de alguma delas.
Judas Tadeu Grassi Mendes aponta que o principal problema é o conjunto de indicadores econômicos negativos.
“Todos os indicadores estão negativos. O governo tinha prometido 1,2% (do PIB) de superávit primário agora está praticamente acenando que vai ser negativo, como foi no ano passado", diz ele, apontando o anúncio de que o governo decidiu revisar a meta de economia para pagar os juros da dívida – o chamado superávit primário – para R$ 8,747 bilhões em 2015, o equivalente a 0,15% do PIB, ante previsão anterior de R$ 66,3 bilhões (1,19% do PIB).
"Não está havendo cortes efetivos", continua Mendes. "Todo esse ajuste fiscal é muito mais de aumento de juros que corte de despesa. A Selic mais alta significa que o governo vai se enterrar mais ainda em juros. O número de desempregados é crescente. A inflação está no dobro da meta, em 9% quando deveria ser 4,5%. Ou seja não há um único indicador razoavelmente favorável, pelo contrário.”
Já Bruno De Conti considera “exagero” colocar o Brasil em uma classificação de maior risco de “calote” de sua dívida. “Já começa que existe muita especulação sobre a própria idoneidade das agências. Elas estão completamente mergulhadas nessas operações de mercado e algumas pessoas questionam a pretensa neutralidade nessas análises.”
“Os critérios que são usados em teoria deveriam verificar justamente a capacidade de pagamento da dívida. Nesse aspecto, eu discordo que o Brasil esteja numa situação que exista risco de calote, esse risco não está no horizonte. É evidente que o resultado das contas públicas piorou, mas daí dizer que há risco de calote é exagero”, diz De Conte.
Agostini também aponta que menos investimentos também pode afetar o poder aquisitivo das pessoas. “Torna a vida do cidadão comum mais difícil para conseguir emprego ou amenta o risco de perder o emprego.”
“A empresa que antes tinha uma perspectiva de retorno de 10% a 15% passa a ter expectativa menor. Isso porque, se ela investir aqui, dado que esse país vai receber menos recursos, o potencial de consumo do país diminui. Então, os produtos que a empresa iria ofertar no mercado não vão mais ter aquele preço, a quantidade não pode ser a mesma. Isso impacta no retorno esperado pela empresa e ela pode reduzir o volume incialmente previsto”, diz o especialista.
Ele aponta que isso implicaria em menos geração de empregos. “US$ 1 bilhão investido tem um determinado número de pessoas que seriam empregadas. Com um volume menor investido, naturalmente esse número também será menor.”
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