domingo, 28 de junho de 2015

Redes sociais e os “seus efeitos”

JORNAL O HOJE - GO

Especialista afirma que muitos usuários perderam os limites de uso e compartilhamento na internet
Jéssica Torres

Um vídeo da preparação do corpo do cantor Cristiano Araújo, para o funeral, gravado na clínica Oeste, circulou na internet na última quinta-feira (25) e tomou grandes proporções. Fotos também vazaram na web e foram compartilhadas por milhares de pessoas pelas redes sociais e via WhatsApp. Muito foi falado pela mórbida ação dos funcionários. Mas e aquelas pessoas que espalharam as imagens, também não agiram de uma forma mórbida ou pelo menos questionável? Para especialistas, este é um ato desumano e feito principalmente como uma forma de chamar atenção.
De acordo com o analista e pesquisador em saúde mental, Jorge Antônio Monteiro de Lima, coordenador do curso de formação de analistas da UNIPAZ Goiás, não tem existido limites sobre o que compartilhar. “Temos visto casos de exposição de sexualidade, o prato da refeição, o local em que se está. As pessoas compartilham de tudo e neste bolo de imagens está também a violência que chama atenção”, afirma.
Segundo o especialista, este ato pode ser considerado até uma patologia. “Se a pessoa que compartilha for obcecada por isto, pelo fato dela não ter compaixão e mostrar ausência de respeito, isto também pode ser visto como um traço de sadismo”, ressalta. “Somos uma civilização violenta que colhe a falta de educação. É o retrato de nossa sociedade que transforma a dor em algo banalizado e isto é preocupante, o que vamos deixar para nossos filhos?”, levanta a questão.
A psicóloga Mara Suassuna, professora em avaliação psicológica pelo IPOG, segue a mesma teoria. “As pessoas não respeitam a vida consequentemente, perderam o respeito humano”, garante. Para a especialista, isto existe devido à falta de impunidade com crimes bárbaros e falta de educação. “Todo ato é intencional. Para ter visibilidade muitos são perversos”, enfatiza.
A especialista conta que de acordo com seus estudos, é comprovado que crimes hediondos, como mortes de formas incomuns geram mais curiosidade e chamam mais atenção. “O Cristiano Araujo, por exemplo, representava o jovem, a alegria e sua morte gerou grande comoção. Esta funcionária então usou desse momento para espalhar este ato ruim, possivelmente ela é uma pessoa com baixa auto-estima com uma dose de sadismo, por usar da dor com prazer como pode ser visto. Isto não é normal”, garante.
Crime 
De acordo com o Presidente da Comissão de Direito Digital, pela Ordem dos Advogados, Tabajara Francisco Póvoa Neto, não existe uma lei específica sobre divulgação de imagens na internet. “O que existe são leis referentes ao direito de imagem e outra como a lei 12.965, conhecida como Marco Civil da internet, que se encaixam no caso do vídeo espalhado expondo o cantor Cristiano Araujo”, esclarece.
Para Tabajara, a legislação ainda precisa se aprimorar em relação a crimes que envolvem grande repercussão, pela internet. “Não estamos preparados ainda. O Marco Civil trouxe melhorias, mas ainda está sendo discutida alguns pontos da lei. O que poderia existir é uma pena maior para casos como da “Fran” que foi usada imagens intimas da jovem há alguns anos e do cantor Cristiano Araújo”, afirma. “A internet não é um mundo sem lei”, garante Tabajara. Ele explica que apenas é um pouco mais difícil para identificar os autores de crimes feitos pela internet, mas que apesar de muitos acharem que estão “escondidos”, existe sim punição.
Nestes casos como do cantor, Tabajara explica que é possível a família pedir indenização por dano moral para a funerária responsável, e pelas pessoas no vídeo. Já os provedores de acesso, como Google e Youtube, não respondem sobre o caso. “Nestes casos as pessoas podem pedir a remoção do vídeo e imagens como foi feito, mas é muito difícil desconstruir todo o conteúdo”, conclui.
 

Desconhecido por muitos, admirado por milhares  

Se para uma parte dos brasileiros, o nome do cantor Cristiano Araújo, era desconhecido, para uma outros, como no interior paulista, Paraná e Centro- Oeste o sertanejo era febre, principalmente pelo público jovem. Após a sua morte, houve uma disseminação de publicações e julgamentos pelas redes sociais e uma divisão entre, o público fã de música sertaneja e que dizem não gostar do gênero, ou nem conhecessem seu trabalho.
O que não se pode negar é que Cristiano foi um fenômeno que deixou registrado seu nome em todo país. “Ele conseguiu quebrar barreiras, foi um artista que atingiu milhares de faz de norte a sul, chegou a tocar em rádios de todo país”, garante com orgulho Rafael Vanucci, produtor do cantor.
Para Rafael, muito se deve pela persistência de 15 anos de carreira e humildade que Cristiano levou. Além disso, cantar em seus shows diversos ritmos, além de espalhar o sertanejo, indo fora de qualquer preconceito. “Ele dedicou um exemplo, de alguém que alcançou seu sonho com verdade e assim se tornou um verdadeiro artista nacional”, completou.
A morte do cantor gerou ainda, uma repercussão nacional, sendo veiculada em todos os meios de comunicação, independente do Estado. Como um personagem legitimamente brasileiro, e mais ainda, vindo de um Estado com uma cultura marginalizada como Goiás, alcançou até o eixo Rio-São Paulo, deixando milhares de fãs ou mesmo admiradores de seu trabalho com a dor da perda de um artista que se destacava por sua simplicidade, como pode ser vista através de vídeos, com entrevistas e shows, onde ao invés de mostrar sua morte, deixam sua marca de vida e alegria.

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