segunda-feira, 29 de junho de 2015

"Petistas são peemedebistas dependentes", diz Geddel


Biaggio Talento
A TARDE
  • Luciano da Matta | Ag. A TARDE |
    Geddel luta para PMDB deixe o governo de Dilma - Foto: Luciano da Matta | Ag. A TARDE | 10.10.2014
    Geddel luta para PMDB deixe o governo de Dilma
Secretário nacional do PMDB, partido que preside na Bahia, o ex-ministro e ex-deputado Geddel Vieira Lima tem lutado dentro de sua sigla para que ela deixe o governo de Dilma Rousseff e rompa a aliança com o PT. Considera essa vinculação nociva para o futuro peemedebista e acredita que há uma tendência crescente no partido para o rompimento. Amigo do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), ele o acha qualificado para assumir o Palácio do Planalto no caso de um eventual impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT). Contudo, Geddel ressalta que trabalhar no sentido de assumir a Presidência seria um golpe contra a Constituição.
Durante o 5° Congresso Nacional do PT,  realizado na Bahia, quando uma corrente defendeu o fim da aliança, o senhor disse que os petistas não poderiam abrir mão do PMDB. Como o senhor classifica essa relação do PMDB com o PT?
O PMDB pode, perfeitamente, se afastar do PT. Não se afasta porque ainda prevalece uma vontade majoritária (cada vez menos majoritária) de que se deve dar sustentação desse governo participando de cargos. Eu já tenho uma posição diferente dessa há algum tempo e essa posição vai ficando majoritária. Quem não se afasta do PMDB é o PT, porque sabe que sem o PMDB, cai. Cai o governo. Portanto eles ficam nesses arroubos, a ala mais à esquerda, a ala mais isso e aquilo outro. Mas são peemedebistas dependentes. Vou continuar na minha luta para que o PMDB se afaste e volte a oferecer ao país um projeto próprio de desenvolvimento econômico e social, das mudanças que o Brasil precisa.
Há alguma reunião marcada da direção nacional do PMDB para decidir o que o partido fará com os peemedebistas envolvidos nos esquemas de corrupção revelados na investigação da Operação Lava Jato?
Temos um congresso marcado para agosto, onde estará presente o PMDB do Brasil inteiro. Vai ser um grande momento para a manifestação das bases e as bases vão mostrar, a segmentos da cúpula partidária, que a posição de que eu, por exemplo, tenho defendido é cada vez mais presente. Chega. O PT já deu o que tinha que dar. Eles se corromperam no poder, viraram o partido da boquinha, que só pensa em cargos, e quem diz isso não sou eu - antes que venham com alguma reação irada -, quem diz isso é o líder maior deles, o presidente Lula, que coloca o PT no "volume morto", absolutamente dissociado da realidade contemporânea da sociedade. Tenho certeza que o PMDB vai sair do encontro com uma posição afirmativa em relação ao desgoverno que se transformou o período da presidente Dilma.
Mas pode chegar a expurgar os envolvidos?
Defendo que todos os condenados pela Justiça em caso de corrupção sejam expulsos do partido. Por enquanto o PMDB não está nesse padrão do PT, que tem suas lideranças atrás das grades.
Sobre essa declaração de Lula que o PT se transformou num partido que só quer cargos, essa é uma acusação que fazem ao PMDB, a de que é uma sigla fisiológica. O senhor há de admitir que existe um segmento do PMDB que segue essa linha.
Admito e luto contra isso. E dei exemplos. Eu, que participei de governos que ajudei a eleger, nunca me permiti ser cooptado por governos que não ajudei a eleger. A minha história pessoal mostra que tive sempre a coragem de, quando divergi, discordei, quando achei que governos iam para rumos que eu não acreditava, me afastei, deixei cargos para militar na planície e defender minhas posições. Claro que acho que no PMDB tem pessoas que, equivocadamente, não se reciclaram diante daquilo que a sociedade quer, e ainda acham  que uma participação numa ou noutra posição é fundamental, mas posso lhe afirmar: é cada vez mais minoritário dentro do PMDB. O partido percebe que, se continuar atrelado a esse governo do PT, ele vai se enredar no mesmo lodo que o Partido dos Trabalhadores vive na política nacional.
Essa sua posição é compartilhada por outros segmentos do PMDB?
Sim. Com o PMDB do Rio Grande do Sul, com o de Pernambuco, segmentos importantes do PMDB de Minas, do Espírito Santo, do Mato Grosso do Sul. Isso vai crescendo e a militância, como um todo,  entende que um partido como o PMDB tem que ousar, correr riscos. Perder e ganhar eleições é da democracia. O que não pode é não participar das disputas eleitorais e renunciar à possibilidade de defender bandeiras junto à sociedade.
O senhor acha o vice-presidente Michel Temer preparado para assumir a titularidade do cargo num cenário de crise como estamos vivendo, no caso de um eventual afastamento da presidente Dilma?
O Temer é o contraponto da Dilma. É uma figura serena, intelectualmente preparada, tem maturidade política, diálogo com o Congresso. E hoje ele é a ponta de credibilidade que tem esse governo. Se não é o Temer fazer uma articulação política - ainda que a meu ver equivocada, pois só se trata desse balcão e não dos grandes temas nacionais -,  enfim, se não é o Temer fazendo interlocução com empresariado, com setores importantes da sociedade brasileira, a Dilma não estava se sustentando em pé.
Mas há setores do PMDB que trabalham com essa hipótese, de Temer assumir a presidência?
Trabalhar nessa direção é golpe. Impedimento de presidente da República é fruto de crime de responsabilidade. Está previsto na Constituição. Dilma faz um governo impopular, autoritário, sem vinculações com a sociedade e um governo muito próprio das características dela. Uma pessoa que não honra compromissos, que não sabe ouvir, uma pessoa que faz com que os problemas que chegam ao seu gabinete saiam maiores. Não sabe construir consensos, nem administrar dissensos. Agora, isso se reflete na impopularidade dela e na situação que o PT chegou, de suas lideranças não poderem ir a um restaurante e andar nas ruas. Daí a se achar que isso é suficiente para trabalhar o impedimento é golpe. Impedimento surgirá se houver, claramente, o comprometimento dela nesses escândalos. Senão, infelizmente, é o país ver sua presidente sangrando, o partido que está no governo sangrando, a economia se depauperando e todos nós pagando um alto preço.
O senhor foi ministro do ex-presidente Lula e o  apoiaria se ele disputar a eleição de 2018?
Ele teve um papel importante para o país. Já deu uma contribuição importante, mas é hora de o Brasil olhar para o futuro, de rotatividade do poder, que é fundamental na democracia. Novas cabeças, novas esperanças, sobretudo novos acertos. Acho que o Brasil precisa de oxigenação. O presidente Lula e o presidente Fernado Henrique Cardoso deram sua contribuição e, ao meu ver, devem se contentar com um lugar nos livros de história.
Na avaliação do senhor, por que Lula está atacando o governo da presidente Dilma e o próprio PT?
Não entendo, até porque acho que a Dilma é o Celso Pitta do Lula. Eles são absolutamente indissociáveis. Impossível não acreditar que a sociedade não entenda que a Dilma foi uma invenção tirada do colete do bolso de Lula. Portanto, não tem como o fracasso da Dilma não ser o fracasso do Lula e do PT que está coonestando  com toda essa política econômica equivocada, com todos esses indicadores que estão dando muito pessimismo para o Brasil nos próximos anos.

Na visão do senhor, como o PMDB tem atuado no Congresso nesse cenário, apoiando alguns projetos do governo, mas se opondo a outros?
O PMDB tem que votar de acordo com o que acredita que seja bom para a sociedade. O partido não pode também ser o responsável por corrigir todas as bobagens feitas no primeiro mandato de Dilma, quando todos nós a alertávamos. Nem sempre os interesses da sociedade são os interesses do governo. Se a presidente acha que as posições que saem do Congresso não são as melhores para o Brasil, exerça o poder de veto dela. Agora o que ela não pode é querer que o PMDB se responsabilize por limpar e corrigir as bobagens que o governo, comandado pelo PT, tem feito.
O senhor vê boas perspectivas para o PMDB na eleição municipal do próximo ano, apesar dessa vinculação com o PT?
Acho que essa aliança com o PT desgasta o PMDB, mas vejo que a sociedade brasileira sabe perfeitamente que, no modelo de aliança que tem o PT comandando, ele é o responsável pelas políticas econômicas e sociais. Foi assim quando tiveram sucesso, quando a economia mundial estava bem, quando o Brasil vivia um boom das commodities e eles diziam que isso era fruto da competência deles e ficavam com o bônus. Recorde-se que quem criou o Bolsa Família, fez isso e aquilo foi o PT. Portanto, a sociedade sabe que, agora que as coisas vão mal, quem comanda a política é o PT. Claro que desgasta o PMDB, mas acredito que a força do partido ainda vai nos dar vitórias importantes nestas eleições municipais. Nunca fiz conta sobre quantos prefeitos vamos eleger. Espero ter o maior número possível de candidatos ou participar de alianças nos municípios baianos.
Já deu para as oposições fazerem autocrítica do que fizeram de errado em 2014, quando perderam a eleição na Bahia para o PT?
Não acho que as oposições cometeram erros. Creio que o PT ganhou duas eleições no estado cavalgando o boom econômico que o PT surfou e mais o carisma do presidente Lula. Aquela história dos programas sociais, e que, se alguém diferente vencesse, iria acabar com o Bolsa Família e coisa que o valha. Mas acho que as mentiras que a presidente Dilma pregou na eleição, com apoio do PT, foram tantas e tão graves que estão caindo de forma tão desmascarante que a população não vai acreditar mais nesse tipo de discurso. Se tivermos juízo e nos mantermos unidos, vamos chegar em 2016 fortes e em 2018 muito fortes para vencer as eleições e oferecer um novo modelo no estado, diferente desse do PT, que aqui na Bahia também patrocina um estelionato eleitoral.
Por que o senhor chama de estelionato eleitoral?
O que o governador Rui Costa tem feito? Ele vai ao interior para fiscalizar escolas, e tome factoides. Se você for ver o que o PT prometeu nos últimos anos, e a imprensa da Bahia acaba não cobrando, é muita coisa: Lula esteve aqui duas vezes para assinar a duplicação da rodovia Ilhéus/Itabuna;  criar a barragem do rio Colônia que resolveria o problema de água de Itabuna; o aeroporto de Vitória da Conquista; a duplicação da BR-101 e muitas outras promessas. Isso é estelionato eleitoral. Na ponte Salvador/Itaparica, gastaram milhões e não saiu do papel; e a JAC Motors? Fizeram aquele papel de enterrar um carro dizendo ser cápsula do tempo. A incompetência é tão grande que acho que eles imaginaram que fazer uma fábrica era plantar um carro, regar, nascer uma árvore e dar uma porção de carrinhos. Esse é o PT que iludiu a Bahia e venceu as eleições. Acho que essa quadro vai mudar por conta disso. As pessoas começam definitivamente a acordar.
O prefeito ACM Neto (DEM) não é um rival do senhor, mas ambos postulam ser governador do estado e correm na mesma faixa política?
ACM Neto será um parceiro, um companheiro de jornada. Será alguém com quem vamos trilhar essa estrada para vencer as eleições em Salvador em 2016 e no estado em 2018. Tanto eu como ACM Neto e outros aliados teremos a capacidade de sentarmos e construirmos um projeto onde haja espaço para todos. Para mim, o fundamental agora é tirar a Bahia do marasmo em que o PT colocou o estado nos últimos anos. Disse, inclusive, que as portas do PMDB estão abertas para ele.

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