terça-feira, 30 de junho de 2015

O que a crise grega significa para as economias dos EUA e do mundo


Se crise atingir Espanha e Itália, pânico poderia tomar conta da Europa, diz Washington Post

O jornal americano Washington Post  publicou nesta terça-feira (30/06) um artigo de Ylan Q. Mui sobre o impasse nas negociações da Grécia com a União Europeia. "Os mercados mundiais estavam despencando na manhã de segunda-feira (29/06) depois que a Grécia fechou seus bancos e pareceu cada vez mais propensa a não fazer o pagamento da dívida nesta terça-feira, possivelmente provocando um calote que pode levar à saída do país da zona do euro. Contudo, enquanto economistas afirmam que a crise grega representaria certamente uma barreira para a recuperação dos EUA e um revés para a economia global, pode não ser um desastre a não ser que desencadeie um pânico mais amplo".
"Não há dúvida de que o panorama para a Grécia está sombrio: o sistema financeiro do país foi interrompido no fim de semana quando autoridades europeias  rejeitaram seu último apelo para mais tempo visando negociar as duras reformas que os europeus pedem em troca de ajuda adicional. Os gregos têm  retirado seus depósitos durante semanas, mas a interrupção das conversas levaram o Banco Central Europeu a congelar empréstimos de emergência para os bancos do país e limitar o montante que os cidadãos podem retirar ao equivalente de apenas US$ 66 por dia. Autoridades gregas disseram que os bancos ficarão fechados até o país realizar uma votação pública na semana que vem sobre continuar ou não trabalhando em um acordo para reembolsar seus credores, mas o país está enfrentando uma iminente data limite para fazer um pagamento de empréstimos de 1,6 bilhões de euros.
Continua incerto sobre quão fundo o resto do mundo irá mergulhar nesse drama grego. Os EUA têm muito pouca exposição direta com a Grécia, e investidores tiveram anos desde o início dessa crise para limitar sua exposição. A economia grega é mais ou menos do mesmo tamanho da de Connecticut e representa menos do que 1% de todo o comércio dos EUA – muito dele em legumes.
No curto prazo, mercados de ações e títulos deverão ser voláteis. Os mercados acionistas asiáticos caíram em cerca de 3% na segunda-feira, enquanto às 6h50 (horário standard da Europa Oriental) mercados europeus caíram quase 4%. Negociações de futuros sugeriram quedas mais modestas mas ainda assim significativas de mais de 1% na segunda-feira.
Se a crise grega se prolongar, uma fuga para ativos mais seguros nos títulos do Tesouro dos EUA poderá reforçar o dólar, desalentando as exportações e o crescimento econômico. Falando numa coletiva de imprensa no início deste mês, a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, foi cautelosa sobre as implicações da turbulência grega para os Estados Unidos.
Se a Grécia der um calote em sua dívida - o cenário que parece altamente possível neste ponto – poderia então ser forçada a deixar a União Européia e deixar de ser um dos 19 membros do euro. Isso poderia lançar os investidores em um frenesi, retirando dinheiro não só da Grécia mas de outras economias frágeis também.
Um rápido êxodo de capitais poderia por sua vez desestabilizar países como Espanha e Itália. Se isso acontecer, uma onda gigantesca de pânico tomaria conta da Europa e vazar até os Estados Unidos.
Há apenas uma semana esse cenário doomsday parecia improvável. A Grécia concordou em fazer concessões importantes em pensões, e Eautoridades europeias pareciam cautelosamente otimistas de que um acordo poderia ser alcançado antes da data limite de pagamento nesta terça-feira (30/06). Chris Rupkey, diretor-geral no MUFG Union Bank, disse que a média da Dow Jones industrial poderia cair de 2 a 3% na segunda-feira depois que a tormenta na Grécia escalou neste fim de semana.
Ainda assim, ele acreditava que o estrago deveria ser contido e de curta duração.
Ao longo da última semana, os mercados têm permanecido em silêncio sobre a possibilidade da Grécia de deixar o euro. Uma pesquisa de junho da Barclays descobriu que apenas 23% dos investidores esperavam que a Grécia deixasse a zona do euro nos próximos três meses. E mesmo que deixasse, menos que 20% acreditavam que teria um grande peso sobre o mercado.
Muito da confiança deles tem origem nos esforços de autoridades europeias para proteger a união. O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, prometeu em público fazer “o que for necessário” para preservar o país. Entre outras medidas, o BCE lançou um programa de estímulo massivo no início deste ano e poderia aumentar se a zona do euro começar a vacilar.
Em uma declaração no domingo, a diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, disse que estava “decepcionada” com o impasse mas enfatizou que a organização funcionaria para limitar qualquer perturbação aos vizinhos da Grécia.
“A área do euro hoje está numa forte posição para responder a desenvolvimentos de uma maneira oportuna e efetiva, como necessário,” ela disse.
A turbulência na Grécia vem logo quando a economia da Europa parecia estar despertando. Dados recentes mostram que a economia da zona do euro se expandiu em 0,4% durante o primeiro trimestre — a taxa de crescimento mais rápida em cerca de dois anos. Talvez de forma mais importante, a recuperação parecia estar se espalhando em toda a Europa. França e Itália, duas das maiores economias da região, registraram um crescimento sólido durante o trimestre depois de anos lutando para sair da recessão global.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, muitos economistas têm previsto uma segunda metade do ano mais forte depois de um início decepcionante. A economia se contraiu ao longo do inverno e a recuperação nessa primavera tem sido menos do que robusta. Mas um fortalecimento do mercado imobiliário e o estímulo ao crescimento do consumo fizeram muitos esperarem que a recuperação finalmente voltasse".

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