Que vingue, já que não dá para vender todas as estrovengas que infelicitam o Brasil
Não
há reforma eleitoral ou eficiência da Polícia Federal que consiga
reduzir a níveis menos incivilizados a corrupção no país enquanto o
Estado for o mastodonte que é, com leis que o deixam inteiramente fora
do controle democrático. O eficiente, correto e óbvio seria privatizar
todas as estatais — todas, sem exceção. Atenção, leitor amigo! Sempre
que alguém vier defender o estado empresário em nome dos interesses
nacionais, você estará falando ou com um desinformado ou com alguém
disposto a bater a sua carteira. É simples assim. Sei, no entanto, que
não vamos nos livrar, da noite para o dia, desses monstros
pantagruélicos, que sugam as energias do país. Então, que sejam ao menos
postos sob controle — ou sob mais controle.
Nesta segunda, informa a Folha, os
presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan
Calheiros (PMDB-AL), respectivamente, apresentaram a primeira versão do
projeto que está sendo chamado de “Lei de Responsabilidade das
Estatais”. Na prática, a proposta transfere ao Senado a palavra final
sobre a nomeação dos presidentes das empresas, que seriam submetidos a
uma sabatina. Mais: ministros de Estado estariam proibidos de integrar
os respectivos conselhos. Não custa lembrar: a estrovenga de Pasadena
foi comprada quando Dilma presidia o da Petrobras; a estatal passou a
acumular prejuízos na venda de combustíveis quando Guido Mantega estava
no posto.
A proposta
é ainda mais ousada: haveria um mecanismo que permitiria ao Senado
destituir o presidente de uma estatal, prerrogativa hoje do chefe do
Executivo. Apoio também! Dilma manteve Graça Foster no comando da
Petrobras por alguns longos meses, quando já estava claro que esta havia
perdido a condição de chefiar a empresa.
A mudança
valeria tanto para empresas de economia mista, como Eletrobras, Banco do
Brasil e a já citada Petrobras, como para as públicas, a exemplo dos
Correios, BNDES e CEF.
A proposta
que veio à luz pode, sim, ser melhorada. Querem ver? O texto exige que,
no comando das empresas mistas, esteja alguém com experiência similar
de ao menos um ano no mercado; tal exigência não valeria, no entanto,
para as empresas públicas, o que permitiria indicações puramente
políticas. Aí não dá!
O texto
assegura autonomia às estatais para escolher seus diretores, que terão,
no entanto, de ser aprovados pelo Conselho de Administração, que será
escolhido em assembleia geral de acionistas. Se um diretor for
destituído, a ata tem de ser tornada pública. Mais: as empresas seriam
obrigadas a manter em funcionamento um conselho fiscal e uma auditoria,
com a divulgação permanente de dados.
Parlamentares querem ainda pôr um fim às operações sigilosas dessas empresas, a exemplo dos empréstimos feitos pelo BNDES.
Cunha e
Renan fizeram a coisa certa. Foi elaborado esse anteprojeto, que será
analisado por uma comissão mista, composta de quatro senadores e quatro
deputados. Pelo Senado, integram o grupo Romero Jucá (PMDB-RR),
presidente; José Serra (PSDB-SP), Walter Pinheiro (PT-BA) e Otto Alencar
(PSB-BA). Pela Câmara, Arthur Maia (SDD-BA), que é o relator, Danilo
Forte (PMDB-CE), André Moura (PSC-SE) e Rogério Rosso (PSD-DF).
Se Cunha e
Renan, no comando, respectivamente, da Câmara e do Senado, conseguirem
criar uma Lei de Responsabilidade Estatal, estarão dando uma grande
contribuição ao país. É claro que muitos poderão dizer: “Pô, mas os
políticos vão ter ainda mais poder sobre as estatais?” A pergunta certa é
outra: esses mecanismos — que podem ser aprimorados — tornam as
estatais mais transparentes ou menos? Haverá mais controle ou menos
sobre o uso político dessas empresas? A resposta é óbvia. É claro que se
estará diante de um avanço formidável.
“Ah, olhem
Renan e Cunha tentando, mais um vez, tolher os poderes de Dilma apenas
para se vingar…” Bem, para se vingar de quê? De resto, até onde alcanço,
ninguém estará tirando poderes de Dilma, mas da Presidência da
República. Aquele que a suceder na cadeira não terá sobre as estatais o
poder discricionário que ela detém hoje. A proposta certamente é ruim
para o PT porque o partido tem a ambição de mandar até em festa de
aniversário de buffet infantil. Não é isso que tem de pautar a mudança,
mas o bem do país. E será, sim, um bem.
Este blog
está em campanha em favor da Lei de Responsabilidade das Estatais. Se
não podem ser vendidas já, que sejam postas sob controle democrático ao
menos.
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