sábado, 27 de junho de 2015

ATAQUES TERRORISTAS

– “O mundo está repleto da cólera dos imbecis”

“O mundo está repleto da cólera dos imbecis. Em sua cólera, a ideia da redenção os corrói, pois constitui o fundo de toda esperança humana.” A frase é do escritor francês Georges Bernanos, de um impressionante livro chamado “Os Grandes Cemitérios sob a Lua”, que acaba de ser editado no Brasil pela editora “É Realizações”. Bernanos retrata na obra os horrores morais da guerra civil espanhola e, católico militante que era, o papel detestável da Igreja Católica da Espanha, que foi da omissão à colaboração com as brutalidades do franquismo.
O pensamento é grande, é profundo. Todos somos atingidos, de algum modo, pela ideia de redenção, ainda que ela assuma a forma de uma crença profunda na razão humana, que nos livraria de todos os males. Se a busca dessa redenção se torna o valor único de um indivíduo e se alguns psicopatas oferecem instrumentos simples e errados para atingi-la, eis que surgem os fanáticos — religiosos ou não.
Refleti sobre a frase de Bernanos ao me dar conta dos atentados terroristas havidos na França, na Tunísia e no Kuwait. Cada país vive sua realidade específica e, de fato, não creio que eles tenham um nexo, vamos dizer, funcional entre si ou que obedeçam a um único comando hierárquico.
É improvável que o Estado Islâmico, por exemplo, atue no Kuwait, onde, desde sempre, a tensão se dá entre xiitas e sunitas. Na Tunísia, antes mesmo de o mundo se dar conta da existência dos celerados, havia a tensão entre o laicismo e o fundamentalismo, com, como tem sido assim até agora, o triunfo do primeiro. Na França, não se descarte a atuação do Estado Islâmico, que, por razões várias e complexas, encontra ecos no Ocidente.
Na raiz de tudo, sempre!, está a cólera dos imbecis como resposta brutalmente errada à ideia de redenção; à tentação de impor a todos os homens uma ordem salvadora, que os coloque no caminho. Estaria eu aqui negando mesmo a redenção cristã? Não! Porque essa se dá no coração de cada indivíduo. Ainda que as pessoas se reúnam numa igreja, a crença é no resgate de cada alma. E cada um dos convencidos, então, da salvação pode fazer a Cidade de Deus. Sem imposição nem violência. Mas volto ao ponto.
Ainda que os atentados não tenham, entre si, um nexo funcional, causal ou hierárquico, eles são fruto da mesma popularização do terror. O Estado Islâmico, em certa medida, está, sim, na raiz, vamos dizer, espiritual de todos os ataques. Essa gente é a expressão moderna do mal absoluto, e me parece claro, a esta altura, que o mundo está a negligenciar o perigo que representa essa força demencial.
O maior risco que corre o homem é ser apresentado à ausência de limites. Quando tiverem tempo, assistam ao perturbador “Salò ou Os 120 Dias de Sodoma”, de Pasolini. O genial cineasta italiano, odiado por bons motivos por comunistas (e ele era um deles) e fascistas, investiga a alma fastidiosa dos que vivem em um regime sem regras, onde tudo é permitido. Essa é a lógica do terror.
O Estado Islâmico oferece ao homem essa fronteira que o joga no terreno do vale-tudo, tendo como promessa a redenção. À diferença do que sugeriu Dilma na ONU, não há diálogo possível. Eles têm de ser esmagados para que possamos preservar, inclusive, o homem dos horrores de que ele é capaz de perpetrar.
Por Reinaldo Azevedo

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