sábado, 25 de abril de 2015

Há algo de hipocrisia na grita contra os partidos


Rogério Jordão
Yahoo
O Congresso aprovou mais dinheiro para o Fundo Partidário, a ser distribuído entre os partidos: foi a R$ 867 milhões em 2015, conforme está no Orçamento. Nas TVs e jornais, a grita foi grande. É um tema de fácil apelo, afinal 75% dos brasileiros rejeitam os partidos atuais.
Mas R$ 867 milhões é muito? Vale uma comparação. No dia 15 de abril o Senado aprovou o perdão de dívidas dos planos de saúde que desrespeitaram contratos com os clientes. Valor da anistia (dinheiro que não vai entrar nos cofres públicos): R$ 2 bilhões.
Em uma tacada, quase sem cobertura midiática, os planos de saúde que lesaram clientes ganharam o dobro do dinheiro que irá supostamente aos partidos. A anistia aos planos de saúde está na mesa de Dilma, para veto ou não.
Há algo de hipocrisia na indignação contra os partidos e no silêncio em relação aos planos de saúde.
Fica a sensação, na verdade, que existe uma campanha permanente contra a política em si. Como se a política fosse por natureza algo sujo. A ser extinta.
Infelizmente a qualidade dos partidos e políticos brasileiros é muito baixa, é verdade. Mas inviabilizar a política como forma de ação é tirar do jogo de poder interesses coletivos que sem ela, sem a política, não teriam como se expressar.
A política gira em torno à disputa sobre quem vai ter o que, quando e como. Quando se demoniza a política, os grupos econômicos mais fortes e articulados tornam-se seus atores quase exclusivos. Aonde a multidão enxerga apenas o escárnio (virando a cara), os interesses econômicos vislumbram oportunidades. O espectador da vida cotidiana nacional deve estar atento a esta dinâmica.
Aumentar verbas para os partidos em pleno ajuste fiscal parece uma provocação diante de uma sociedade que os rejeita. Mas transformar este sentimento em negação da política em geral pode apenas aprofundar o problema. O sistema político no Brasil está em crise. No ideograma chinês, crise é sinônimo para risco e oportunidade simultaneamente. Quais seriam as oportunidades de melhora oferecidas pelo contexto atual?

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